ABC - segunda-feira , 29 de abril de 2024

Mulheres esperam até 7ª agressão para denunciar, diz diretora da Adepol

A polêmica com a apresentadora Ana Hickmann por parte da violência sofrida junto ao marido, Alexandre Correa, tomou conta das redes sociais nos últimos dias, o que traz luz ao debate sobre relacionamentos abusivos que por muitas vezes não são denunciados. Ao RDtv, Raquel Gallinati, delegada de Polícia e diretora da Associação dos Delegados de Polícia (Adepol) do Brasil, comenta sobre a relação dos números crescentes de violência e o modo como os abusadores tratam suas vítimas.

Dados do Ministério da Mulher mostram que o canal de violência contra a mulher (Ligue 180) recebeu 1.525 ligações telefônicas por dia de janeiro a outubro deste ano. O número reforça a grande incidência de denúncias registradas pelo canal de orientação à mulher, o que por sua vez representa número maior do que ano passado. “Estamos vendo uma crescente no número de denúncias feitas pelas mulheres, o que nos faz pensar se realmente o número de casos esta crescendo ou se as mulheres estão tomando coragem de denunciar”, diz Raquel.

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Maior desafio é que as denúncias cheguem até o sistema de justiça criminal, diz a delegada (Foto: Reprodução/RDtv)

Essa questão se torna mais complexa quando vista do ponto de vista da mulher. Isso porque, segundo a delegada, no início da relação, o abusador faz de tudo para que seja perfeito, e aproveita a vulnerabilidade para cometer os seus atos.

“O homem se apresenta como ‘um príncipe encantado’, e assim que identifica que a mulher está apaixonada, começam os abusos”, explica. Segundo a delegada, os abusadores agem em um padrão em que são cultivadas aflições e medos na parceira e se contraria um relacionamento saudável.

Apesar das denúncias por mulheres serem maioridade, Raquel destaca casos de violência contra homens, cada vez mais frequentes. “Existem muitas subnotificações”, diz a delegada. “Acontece que por ser uma parte da sociedade que foi construída com valores machistas, muitos homens deixam de denunciar para que não demonstrem vulnerabilidade ou fragilidade, o que é bem o contrário”, salienta.

De acordo com Raquel, no caso de homens que sofrem abuso em um relacionamento, são atingidas, principalmente, questões psicológicas, como abuso financeiro e chantagem parental.

Para contornar as estatísticas, Raquel defende que a mudança deve começar com as crianças e jovens, “o pilar da solução” em que a educação reconstrói o papel do homem e da mulher em sociedade. Raquel reforça a importância das políticas públicas no auxílio ao combate de relacionamentos abusivos, que juntas atuam em conjunto com a sociedade para que o problema seja solucionado.

Para ampliar o acesso das mulheres vítimas e da população aos canais de denúncia – Ligue 180, o Ministério das Mulheres implantou o atendimento via WhatsApp pelo número (61) 9610-0180. O número 180 continua a receber denúncias anônimas e gratuitas, por telefone fixo ou celular. Assista a entrevista!

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