A polêmica com a apresentadora Ana Hickmann por parte da violência sofrida junto ao marido, Alexandre Correa, tomou conta das redes sociais nos últimos dias, o que traz luz ao debate sobre relacionamentos abusivos que por muitas vezes não são denunciados. Ao RDtv, Raquel Gallinati, delegada de Polícia e diretora da Associação dos Delegados de Polícia (Adepol) do Brasil, comenta sobre a relação dos números crescentes de violência e o modo como os abusadores tratam suas vítimas.
Dados do Ministério da Mulher mostram que o canal de violência contra a mulher (Ligue 180) recebeu 1.525 ligações telefônicas por dia de janeiro a outubro deste ano. O número reforça a grande incidência de denúncias registradas pelo canal de orientação à mulher, o que por sua vez representa número maior do que ano passado. “Estamos vendo uma crescente no número de denúncias feitas pelas mulheres, o que nos faz pensar se realmente o número de casos esta crescendo ou se as mulheres estão tomando coragem de denunciar”, diz Raquel.
Essa questão se torna mais complexa quando vista do ponto de vista da mulher. Isso porque, segundo a delegada, no início da relação, o abusador faz de tudo para que seja perfeito, e aproveita a vulnerabilidade para cometer os seus atos.
“O homem se apresenta como ‘um príncipe encantado’, e assim que identifica que a mulher está apaixonada, começam os abusos”, explica. Segundo a delegada, os abusadores agem em um padrão em que são cultivadas aflições e medos na parceira e se contraria um relacionamento saudável.
Apesar das denúncias por mulheres serem maioridade, Raquel destaca casos de violência contra homens, cada vez mais frequentes. “Existem muitas subnotificações”, diz a delegada. “Acontece que por ser uma parte da sociedade que foi construída com valores machistas, muitos homens deixam de denunciar para que não demonstrem vulnerabilidade ou fragilidade, o que é bem o contrário”, salienta.
De acordo com Raquel, no caso de homens que sofrem abuso em um relacionamento, são atingidas, principalmente, questões psicológicas, como abuso financeiro e chantagem parental.
Para contornar as estatísticas, Raquel defende que a mudança deve começar com as crianças e jovens, “o pilar da solução” em que a educação reconstrói o papel do homem e da mulher em sociedade. Raquel reforça a importância das políticas públicas no auxílio ao combate de relacionamentos abusivos, que juntas atuam em conjunto com a sociedade para que o problema seja solucionado.
Para ampliar o acesso das mulheres vítimas e da população aos canais de denúncia – Ligue 180, o Ministério das Mulheres implantou o atendimento via WhatsApp pelo número (61) 9610-0180. O número 180 continua a receber denúncias anônimas e gratuitas, por telefone fixo ou celular. Assista a entrevista!