No ABC 797.827 pessoas vivem sem rendimentos mensais ou recebem qualquer tipo de benefício. O número é do Censo de 2010 e mostra uma diminuição de 1,18% com relação à pesquisa anterior, quando havia 807.428 pessoas nas mesmas condições na região.
São Bernardo puxa o ranking com 240.205 pessoas que vivem sem rendimentos, seguida de Santo André (198.747), Mauá (139.641), Diadema (127.479), São Caetano (38.853), Ribeirão Pires (38.353) e Rio Grande da Serra (14.549).
Dentro do grupo está o morador do Núcleo Pernambuco, em Santo André, Jocélio de Jesus Santos, 44 anos. Natural do município baiano Euclides da Cunha, localizado a 400 quilômetros de Salvador, Santos veio para São Paulo em 1996 para tentar um emprego melhor, mas afirma que só encontrou desilusões.
Foi em um desses empregos, que em um acidente de trabalho, perdeu a mão esquerda. Apesar de entrar na Justiça contra a empresa, Santos relata que foi enganado por advogados e não teve acesso ao dinheiro da ação. “Hoje tenho uma renda de R$ 465, mas pago pensão e vivo com R$ 225, é o que me sobra. Conto com a ajuda de sobrinhos para não passar necessidade”, diz.
Outra moradora do local, Rosa (nome fictício) afirma que recebe R$ 380 mensais do Bolsa Família para sustentar os dois filhos e precisa vender balas em cruzamentos de Santo André para ajudar nos custos. “Não é sempre que consigo fazer esse trabalho, pois sou soropositivo e, às vezes, me sinto mal e não consigo nem sair da cama. Meu sonho é conseguir deixar algo melhor para meus filhos”, diz.
Benefício não é resposta
O Censo de 2010 revelou que quase 800 mil pessoas da região – o equivalente a pouco mais que a atual população de Santo André – vivia naquele momento com renda mensal de R$ 225 (o salário mínimo da época era de R$ 510). “Apesar dessa diminuição entre os dois recenseamentos, é notório que hoje existe um aumento da pobreza na região”, afirma a coordenadora do curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Metodista de São Paulo, Claudete Pagotto.
A docente destaca que o crescente número de pessoas que estão em situação de rua revela o aumento da pobreza. “É possível ver mais pessoas vivendo nas ruas do que há alguns anos. Isso mostra que estamos no caminho inverso da solução do problema”, lamenta.
A professora ressalta ainda, que os atuais programas de atendimentos sociais de prefeituras e governos estaduais e federal não estão surtindo o efeito esperado. “O Bolsa Família e outros benefícios não podem serem vistos como uma solução definitiva, mas um complemento de renda. Porém, é necessário também criar condições de emprego, moradia, educação, saúde, entre outros fatores, para a população”, afirma.
Para Claudete, a maneira de reverter esse quadro é o governo estar focado na população e não em mercado, como ocorre atualmente, segundo a professora. “Obviamente a crise econômica reflete na população, mas é necessário que políticas como o Minha Casa, Minha Vida e SUS sejam melhoradas para que todos tenham acesso à vida digna”, ressalta.
Programas sociais
A Prefeitura de Santo André informa que possui programas de transferência de renda como Aluguel Social e Família Cidadã, além de ações direcionadas para pessoas em situação de rua, como o programa Recomeçar, que visa reinserção no mercado de trabalho. Não foram informados, porém, quantos são atendidos nessas ações, pois o público, de acordo com a Prefeitura, é variável.
Ainda segundo a Administração, os serviços visam à melhoria de qualidade de vida e em casos mais extremos, busca-se a reinserção e reintegração familiar. Há ainda a possibilidade da contratação, por parte da administração social, para serviços internos, de pessoas em situação de vulnerabilidade social extremas. O RD questionou as demais prefeituras da região, mas não obteve resposta.