
Como boa parte das séries policiais produzidas no mundo inteiro, DNA do Crime conta com diversos consultores que integram ou integraram as forças policiais. Seu grande diferencial, no entanto, está na presença de ex-membros do crime organizado, hoje reabilitados, que fazem parte da equipe da produção.
“Faz muita diferença. A gente conhece pessoas que falam pra gente: ‘Ó, aqui, nessa situação, a gente fazia assim, fazia assado’. E, dessa forma, conseguimos tornar a série bem realista. Isso vai para a cena, porque eles interferem na gravação”, diz Alex Nader, intérprete de Isaac, chefe da Quadrilha Fantasma e principal vilão da nova temporada.
O ator Thomaz Aquino concorda. “Eu não conseguiria construir esse personagem, o Sem Alma, com tantas camadas verídicas se não fossem, claro, as preparadoras de elenco Maria Laura e Carol, mas também essa vivência de conversa como a que temos agora, em que se pode conversar com naturalidade, o que permite que o outro fique à vontade para relatar algo que tenha vivido e deseje compartilhar. Isso é muito enriquecedor para mim.”
Maeve Jinkings, que vive a policial federal Suellen, também destaca a importância da convivência com pessoas envolvidas nesse cenário (no seu caso, policiais) no desenvolvimento de seu trabalho. “Eu fui conversar particularmente com mulheres. Fiquei amiga das meninas da Interpol.”
“Recebemos treinamento real com Araújo, nosso consultor, um policial da ativa, de elite, de São Paulo, e temos ex-policiais também no nosso elenco. É possível perceber alguns detalhes.”
“Quando chega o momento de construir a temporada, aquilo que fizemos na anterior aponta o caminho da próxima”, conta Manoel Rangel. “A psicologia de cada personagem indica o rumo e os acontecimentos que vivenciaram. Com isso, fundimos os eventos reais com nossos personagens e mantemos a liberdade de tratar a obra como uma história ficcional.
Cumplicidade
De acordo com o diretor, a forma como os personagens encerraram a primeira temporada mostra o caminho que seguirão nos episódios seguintes. Para Suellen e Benício (Rômulo Braga), que começam a série com uma relação conflituosa, mas desenvolvem uma parceria próxima no decorrer da trama, seu desdobramento era claro: reforçar a confiança construída.
“A partir dessa simbiose, é possível descobrir e explorar a psicologia desses dois personagens, muito um em relação ao outro”, afirmou Maeve. “Estão muito juntos. Eles precisam confiar. É isso: a vida de um depende do outro.”
Braga concorda com a colega. “Nós dois, como profissionais trabalhadores do audiovisual, também temos uma química que é natural. Alguma coisa acontece no nosso organismo que faz a gente ter essa química de jogo, de escuta. Não sei se é escola, o jeito que vê a vida… E essa manifestação de fato aparece nos personagens”, explica.
Além dos protagonistas, os vilões também passam por mudanças entre a primeira e a segunda temporada. Sem Alma, por exemplo, é preso pouco depois de saber que será pai, e isso o faz vislumbrar uma vida fora da criminalidade. “A gente vê uma profundidade humana dentro desse cara, problemas reais, emoções reais”, diz Aquino.
“Para a segunda temporada, quando ele é preso e tenta cumprir sua pena, procura, de certa maneira, dizer: ‘Vou focar na minha família. Sou um cara família. Não vai faltar nada para minha família’.” Apesar dos desejos do personagem, no entanto, os acontecimentos de DNA do Crime mostram que nem sempre essa saída é fácil.
Diferentemente de Sem Alma, Isaac representa outro tipo de criminoso: aquele que quer seguir no crime e que se deleita em enriquecer fora da lei. Segundo Nader, interpretar o vilão foi “muito divertido”, principalmente pela possibilidade de explorar suas diferentes camadas. “Ele tem uma complexidade, é engraçado, não tem paciência com as pessoas.”
Investimento
Com veteranos da indústria, os atores de DNA do Crime têm visões diferentes sobre suas entradas na série. Para Nader, que já trabalhou com Dhalia na série Arcanjo Renegado, a relação com o cineasta tornou sua experiência na produção da Netflix semelhante à que teve no Globoplay. A diferença na nova casa é o maior orçamento disponível.
“Não sei falar em números, mas com certeza a produção de DNA do Crime é muito maior do que os outros projetos em que já trabalhei. Com dinheiro, conseguimos explodir um helicóptero. As grandes produções dão certo por isso. Porque há muitos acontecimentos, diversas cenas de ação e inúmeras explosões. E isso exige investimento”, explica Nader.
“Cada projeto tem sua particularidade”, afirma Aquino, que, em 2019, estrelou Bacurau, de Kleber Mendonça Filho. “Quanto mais investimento houver, maiores as possibilidades de apresentar aos espectadores uma série incrível, realista, com a qual ficaremos boquiabertos.”
Assim como Nader, Braga também tem experiência com séries policiais. Ele estrelou Rota 66: A Polícia Que Mata. Para o ator, a boa novidade trazida por DNA do Crime foi a oportunidade de interpretar “um personagem completo”.
“Eu acho que, no começo da sua carreira, você quer trabalhar, ter experiência, ter a hora de voo”, afirma Maeve Jinkings, atualmente no ar como Cecília na novela Vale Tudo. A atriz construiu seu currículo com diversos dramas, como Carvão, Aquarius, O Som ao Redor e, claro, Ainda Estou Aqui.
Ela conta que o convite para protagonizar DNA do Crime veio no momento em que desejava explorar uma linguagem mais pop, com um desafio extra: “Fazer uma personagem feminina, num gênero historicamente masculino”.
O fato de a série ser inspirada em crimes reais que acontecem na América do Sul mostra um importante retrato cultural. Ao se apropriar de um gênero hollywoodiano, a produção mergulha nas peculiaridades do crime brasileiro e abrange também suas origens sociais.
“A série foca na psicologia dessas figuras”, diz Maeve. “Entender coisas que acontecem no nosso continente, no nosso país, das quais eu não tinha a mais vaga noção.”