Embora as redes municipal e estadual de educação apontem que a reciclagem e a formação contínua dos professores segue uma regularidade, para a quem estuda a área de educação ou está no sistema, a formação é deficitária. O crescimento da rede pública, a falta de professores e o uso de plataformas exigem mais formação. Enquanto plataformas são implantadas, a falta de professores, a constante queda de braço dos educadores por melhores condições e salários, os índices da educação básica no ABC, conforme confirmado pelos números do IDEB, apontaram piora.
Apesar de estar acima da média nacional, as notas das cidades do ABC no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) caíram em relação a 2019, ano anterior à pandemia da covid-19. Os números referentes a 2023 mostram que não houve melhora e que em praticamente em toda a região houve perdas ou nenhum avanço.
No ensino fundamental I, de primeira à quinta séries, no comparativo de 2019 para 2023, todas as cidades tiveram perdas na nota do IDEB. No ensino fundamental II do sexto ao nono ano, os destaques foram para Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que melhoraram sensivelmente suas notas, de 5,4 para 5,5 e de 5,0 para 5,1, respectivamente.
No ranking do ensino médio, Diadema, Mauá e São Bernardo tiveram também uma melhora sutil em relação a 2019, se bem que no comparativo com 2021 houve queda de índices. Leia mais em: https://www.reporterdiario.com.br/noticia/3486714/indicador-mostra-que-educacao-basica-nao-se-recuperou-da-queda-na-pandemia/
Para o presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Fábio Santos, a formação e requalificação dos professores deve ser contínua porém, diz, nem o Centro de Mídias e nem a Efape (Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação do Estado de São Paulo “Paulo Renato Costa Souza”) têm como dar conta do tamanho da rede do Estado.
Padronização excessiva e erros gramaticais
Além disso, aponta Santos, a chamada platafomização da educação impede melhorias na formação e desestimula os professores. “Hoje a preocupação não é se os alunos aprendem ou se o professor está bem preparado, a preocupação é apenas se eles estão conectados na plataforma, para justificar os gastos que tem com esse conteúdo que é questionável”, critica.
Fábio Santos afirma que o Estado abriu mão do livro didático e apostou em um sistema digitalizado que padroniza todos, como se todas as realidades do Estado fossem uma só, padronizou sem respeitar as especificidades de cada localidade. Isso tornou a vida do professor muito difícil. Diz que essas plataformas têm o objetivo de substituir o protagonismo do professor na sala de aula.
“Essas plataformas têm muitos erros gramaticais e de conceito, muitas vezes o professor, que é obrigado a dar esse conteúdo, burla o sistema para explicar direito a matéria. Essa revolta com as plataformas também desestimula o professor na área de formação”, diz o presidente da Apeoesp.
Muitas demandas na formação, como IA
Para o coordenador do Observatório da Educação, da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Paulo Garcia, a qualidade da educação depende de vários fatores, o principal deles é a formação do professor, junto de outros como qualidade das instalações e laboratórios. “Primeiro é preciso estruturar bem os cursos de licenciatura depois é preciso se garantir uma formação continuada à medida que se altera o contexto social. Estudos mostram que as formações fora de sala de aula são aquelas que o professor pode aplicar com os alunos. Hoje se tem uma demanda grande para a formação de professores na área de inclusão, na área de inteligência artificial (IA)”, aponta.
Para o pesquisador, em tese, o município teria facilidade maior de preparar o professor porque essa formação levaria em conta contexto social local, diferente do Estado, que tem uma rede muito maior e condições sociais e econômicas muito heterogêneas. “A rede estadual é muito maior e atende uma diversidade maior. O município, por outro lado, pode traduzir essa formação em elementos que favoreçam a educação, mas são realidades diferentes e investimentos diferentes também”, diz Garcia.
De acordo com o coordenador do Observatório da Educação, o uso de plataformas, sendo essas o principal foco das aulas, não contribui nem para o ensino e nem para manter o professor bem preparado. “O Estado de São Paulo precisa avançar em plataformas de qualidade. Não se pode desprezar essas novas ferramentas, mas não usar qualquer coisa, de de ter qualidade. Senão isso desmotiva também o professor. Um projeto de educação não pode ter a plataforma como única ferramenta. O Estado deveria investir menos em obter resultados nas avaliações, como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que dão apenas uma pequena parte do diagnóstico do que é desenvolvido em sala de aula, e investir mais no professor. Falta professor e melhor gestão. O foco do investimento tem que ser na sala de aula”, completa.
Estado diz que o aperfeiçoamento dos professores alcança todos
Em nota, o governo paulista diz que garante a formação continuada. “A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) conta com a Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação, coordenadoria dedicada ao desenvolvimento profissional dos servidores da educação, que utiliza tecnologias modernas para oferecer cursos que combinam ensino a distância e atividades presenciais, alcançando cerca de 235 mil servidores, incluindo 13,1 mil no ABC.
Além das formações semanais e cursos autoinstrucionais, o Estado diz que aborda temas como educação especial e antirracismo, os docentes participam semanalmente das Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPC), para enriquecer as práticas pedagógicas. Outra ação é o Programa Multiplica SP, que promove a formação entre pares, de forma colaborativa entre docentes, por meio da troca de experiências e do compartilhamento de saberes, para cerca de 60 mil professores. Formações continuadas também são ofertadas nas 91 Diretorias de Ensino, no Estado, de forma descentralizada, atendendo às especificidades locais”.
Prefeituras apontam formação constante
A maior rede municipal da região é a de São Bernardo, com 10 mil servidores, 6 mil só professores. A Prefeitura garante que a formação é anual. “A administração investe de forma permanente na qualificação técnica dos profissionais da educação, por meio de ações formativas (cursos, oficinas, palestras) ministradas por profissionais da rede, de instituições parceiras da sociedade civil e por formadores externos, além da formação continuada, nas modalidades online e presencial, utilizando-se do horário de trabalho pedagógico coletivo e horário de trabalho pedagógico, além de ambiente virtual de aprendizagem, recursos tecnológicos e chromebooks como ferramenta de apoio à formação”, informa.
Santo André tem 2.560 professores e a Prefeitura diz que a formação de professores é semanal. ” A pasta (de Educação) promove formações continuadas e trilhas formativas, realizadas nos momentos de reunião pedagógica semanal, que integram a jornada regular de trabalho do docente, e em reuniões mensais, previstas em calendário escolar, de caráter obrigatório. Também são oferecidas formações de caráter optativo, realizadas fora do horário de trabalho dos docentes. O Centro de Formação de Professores Clarice Lispector organiza, todos os anos, movimento de formação, com palestras ministradas pelos próprios docentes, intitulado Compartilhando Saberes, com o objetivo de valorizar o trabalho cotidiano dos nossos docentes.
São Caetano tem 1.890 professores na rede. “Eles participam de processos formativos semanalmente, por meio de encontros nas próprias unidades escolares. Essas formações são conduzidas pelos coordenadores pedagógicos das unidades, que desenvolvem ações conjuntas com o Centro de Capacitação dos Profissionais da Educação. A formação é feita de maneira coletiva, semanalmente, e é obrigatória, pois faz parte da jornada de trabalho dos educadores, compondo um terço de sua carga horária. Além disso, a Secretaria de Educação oferece formações de aprofundamento nas diferentes etapas de ensino, como educação infantil, alfabetização para os anos iniciais de ensino fundamental e diferentes componentes curriculares, para os professores conforme seu interesse”, diz a nota.
Ribeirão Pires conta com 962 educadores na rede. Em nota, a Administração conta que realiza as formações por meio das HAP (Hora de Atividade Pedagógica), que somam duas horas semanais, total de 80 horas anuais. “Todos devem cumprir as atividades. A Secretaria de Educação também faz a formação continuada, com dois dias de quatro horas. A meta é que tenhamos 100 horas de formação continuada. Além disso oferece cursos de livre escolha, em que os professores podem se inscrever fora do horário de trabalho, como curso de leitura de Braille, o LEEI (Leitura e Escrita na Educação Infantil), o Alfabetiza Juntos, o PAR (Programa de Alfabetização Responsável), junto como Sesi e a plataforma do Elefante Letrado”.
Rio Grande da Serra tem a menor rede da região e adota uma formação apenas anual. “Atualmente a rede municipal de ensino conta com 142 professores, sendo 60 novos nomeados através do concurso em 2023. Os profissionais participam do percurso formativo anual, além de formações em parceria com o SESI – PAR – Programa Alfabetização Responsável e com o governo federal – Programa Criança Alfabetizada”, informa.