Um em cada quatro pedidos ao INSS leva mais de 90 dias para ser analisado

INSS diz que teve reforço no pessoal para atendimento, mesmo assim relatório oficial aponta demora que pode passar de um ano dependendo do benefício requerido. (Foto: Pedro Diogo)

Seja um requerimento por incapacidade laboral temporária, aposentadoria por idade ou tempo de serviço, não importa. A análise do pedido feita pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) demora muito. O órgão federal não divulgou o tamanho da fila para a concessão de benefícios no ABC, mas o relatório mensal mais atualizado, com dados de novembro de 2023, mostra que em todo País 25,6% dos requerimentos esperam mais de 90 dias para análise. Isso representou naquele mês um estoque de 410,7 mil requerimentos, mais de 25 mil esperavam há mais de um ano.

O morador de Rio Grande da Serra, Antonio Benício dos Santos, de 64 anos, sabe o que é esperar pela análise técnica, nem sempre é justa para o trabalhador. Santos entrou na fila duas vezes e em ambas a experiência foi traumática, pois trouxeram consequências à sua saúde.

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O filho de Santos, Carlos Santos Silva, conta que o pai parou de trabalhar por causa de um acidente em que rompeu o tendão do braço. “Ele não tinha como fazer as coisas mais básicas, não conseguia suportar o peso de um pacote de arroz, por exemplo, mas na época o INSS negou a aposentadoria”, relata.

Carlos conta que o pai sempre foi uma pessoa muito ativa, mas depois que parou de trabalhar diversos outros problemas se seguiram. Hoje é dependente da família e, novamente, está na fila do INSS desta vez por depressão e esquizofrenia. “Depois que parou de trabalhar meu pai ficou com depressão, aí veio a esquizofrenia. Eu, uma sobrinha e outros familiares que vivem fora de São Paulo pagamos o aluguel dele, as compras da casa e os remédios. Ele não consegue se virar sozinho, por isso ele mora no mesmo quintal de uma prima minha, que tem condições de cuidar dele e acionar a família caso precise de alguma coisa ou algum socorro. Essa semana mesmo ele teve um surto e eu sai do serviço para levá-lo ao médico”, conta.

O INSS negou a concessão do benefício BPC (Benefício de Prestação Continuada), que é para pessoas com deficiência. A família então procurou um advogado e a Justiça determinou que fosse feita uma nova perícia. O INSS contestou e a decisão final é aguardada.

Justiça é a única saída

Para a advogada especializada em Direito Previdenciário e professora da Faculdade de Direito de São Bernardo, Priscilla Simonato de Migueli, o INSS atrasa mesmo as análises e muitas vezes a Justiça é a única saída para ter o benefício reconhecido. “O prazo legal é 30 dias, mas por causa de um acordo, pode chegar a 90. Quando demora mais que isso é possível entrar com um mandado de segurança para que o juiz dê uma ordem para atender, se não for cumprido o prazo legal de análise do benefício”, afirma a advogada.

A especialista conta que a aposentadoria por tempo de serviço é o tipo de benefício em que a análise demora mais, por se tratar de um processo complexo de verificação de documentos. “Muitos procedimentos são analisados por robôs e muitos têm sido indeferidos porque os sistemas não conseguem analisar determinados documentos. No caso de indeferimento é possível o recurso administrativo, mas as demandas acabam mesmo indo parar na Justiça”, comenta.

De acordo com o relatório do INSS, o Estado de São Paulo tinha em novembro um estoque de 10.767 pedidos de aposentadoria por tempo de serviço analisados em até 45 dias e 25.368 em mais de 45 dias. O site do INSS tem uma calculadora de aposentadoria que serve como uma referência, porém não são todos os dados que o requerente tem que podem ser inseridos, então não é uma conta precisa. “Por exemplo, as atividades de risco que contam tempo adicional não se consegue informar com exatidão”, explica Priscilla.

Recomendações para evitar golpes

Ainda quanto à aposentadoria por tempo de trabalho há cinco regras de transição, que envolvem idade, pedágio e pontuação. “O importante é consultar um especialista para ver o melhor momento para se aposentar, às vezes por uma questão de dias uma aposentadoria pode ser mais ou menos vantajosa. Esse especialista deve ser um advogado especializado”, diz a professora de Direito.

Cuidado na hora de escolher quem fará essa análise também é indispensável. Há falsos escritórios que prometem recursos contra o INSS ao cobrar valores antecipados e depois desaparecer sem prestar contas. “Têm pessoas que acessam dados de processos, entram em contato com os beneficiários e dizem que há certa quantia liberada, e que para ter acesso eles devem depositar valores para taxas e custas. Isso é um golpe. As pessoas também recebem cartas em casa falando que há direito a determinado benefício, outro golpe. Ao contatar um profissional é importante não fazer nenhum pagamento antecipado e procurar um advogado de confiança”, recomenda Priscilla.

Há também outra opção que é recorrer ao Juizado Especial Federal em causas que envolvem até 60 salários mínimos. “Mas nesse caso quem atende não analisa o caso, apenas protocola o pedido com base no que o requerente está pedindo”, completa.

Nota do INSS

Em nota, o INSS diz que tem aumentado o quadro de pessoal para reduzir a fila de espera. A Previdência está contratando mil servidores concursados e 298 estão em curso de formação. Também informa que é possível recorrer a ferramentas que facilitam o procedimento. “Requerer o auxílio por incapacidade temporária por meio de análise documental (Atestmed). Nesse caso, o segurado inclui a documentação no sistema (aplicativo Meu INSS ou site gov.br/meuinss) e não precisa passar por perícia médica. Antes do Atestmed, a concessão do auxílio por incapacidade temporária exigia a perícia médica presencial”, diz o INSS.

O INSS também relata que foi criado um programa de enfrentamento à fila da Previdência Social e mutirões de atendimento, geralmente aos sábados, voltados principalmente para o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Nesses mutirões são ofertadas vagas ou antecipados agendamentos de perícia médica e avaliação social, que são necessários para a concessão do BPC à pessoa com deficiência. No link https://www.gov.br/inss/pt-br/assuntos/inss-orienta-segurados-sobre-como-agilizar-processos o INSS orienta como o requerente pode agilizar os processos.

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