Metade dos hospitais públicos do ABC aumentou taxa de mortalidade

Hospital da Mulher de Santo André reduziu o quadro de médicos segundo o TCESP, mas a taxa de mortalidade se manteve praticamente igual nos últimos quatro anos. (Foto: Divulgação)

O Painel da Saúde, que o TCESP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) realiza desde 2019 com dados dos hospitais públicos municipais e estaduais paulistas, foi divulgado nesta semana e mostra que dos 12 hospitais do ABC cujos números foram analisados pela corte de contas, seis deles tiveram aumento da taxa de mortalidade de pacientes entre o primeiro semestre de 2019 e o primeiro semestre deste ano. Um hospital manteve a mesma taxa e cinco tiveram redução. O mesmo levantamento mostra que oito hospitais aumentaram o número de médicos em atendimento um manteve igual e três reduziram o contingente de deste tipo de profissional.

A maior redução no número de médicos em atendimento, segundo o TCESP foi verificada no Hospital da Mulher de Santo André, que em 2019 tinha 214 médicos, número que caiu para 111 no primeiro semestre do ano passado, e nos primeiros seis meses deste ano tinha 130 profissionais. Neste mesmo hospital a taxa mortalidade de paciente se alterou muito pouco. Na primeira metade de 2019 estava em 0,44% e no primeiro semestre deste ano estava em 0,49%, mas chegou a ser bem menor no semestre inicial de 2021, com 0,27%. Em nota, a Secretaria de Saúde de Santo André o número de médicos não sofreu grandes alterações. “O corpo clínico do Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein, gerido pela FUABC (Fundação do ABC), não sofreu mudanças significativas nos últimos anos, tendo em vista a possibilidade de contratação de médicos com cargas horárias maiores em substituição a outros com cargas horárias menores. Todas as escalas do equipamento de saúde estão completas ofertando atendimento médico humanizado e de qualidade. O Hospital da Mulher, que completou 15 anos em agosto, inclusive, passa atualmente por processo de requalificação, com ampliação de atendimentos e horários para a oferta de exames no período noturno e também aos sábados”.

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O Hospital Estadual Serraria, em Diadema, também teve redução no quadro de médicos. Eram 576 entre janeiro e junho de 2019. Durante o período mais crítico da pandemia da covid-19 o número caiu para 381, no primeiro semestre de 2021 e neste ano o número estava, até junho em 482. A taxa de mortalidade apurada pelo TCESP neste hospital estava em 2,25% no primeiro estudo do tribunal em 2019, chegou a 5,21% no primeiro semestre de 2021, coincidindo com o período com menor número de médicos, e estava em junho deste ano com 2,97%. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde, diz que não há uma relação direta entre os óbitos e o número de médicos, sendo que o contingente de profissionais varia conforme a necessidade. “A Secretaria de Saúde do Estado informa que a quantidade de médicos que atuam em uma unidade não tem relação direta com a taxa de mortalidade da instituição, mas sim do seu perfil assistencial. O Hospital Estadual de Diadema, por exemplo, é referência em média e alta complexidade. Sobre o corpo clínico, os médicos que atuam no hospital cumprem diferentes cargas horárias de trabalho, que variam de 6 até 42 horas semanais, por isso, o número de médicos é variável, com constantes ajustes às necessidades dos serviços”, diz a nota.

Outro hospital estadual que é referência na região é o Mário Covas, que fica em Santo André. Nele, segundo o Painel da Saúde, o número de médicos aumentou paulatinamente desde 2019, quando havia 1.039 profissionais atuando no atendimento, até o primeiro semestre deste ano quando 1.323 estavam atendendo. A taxa de mortalidade partiu de 5,81% há quatro anos, chegou a 12,01% em 2021 e neste ao estava, até junho, em 6,74. A Secretaria Estadual da Saúde desconhece o número de médicos apresentado pelo TCESP e diz que ele é menor. A pasta também diz que a variação na taxa de mortalidade nos últimos anos teve a forte influência da pandemia da covid-19. “O Hospital Mário Covas, durante a pandemia de covid-19, além de ter atuado como referência para casos graves da doença, manteve funcionando todos os serviços de alta complexidade oferecidos pela unidade, como atendimentos oncológicos, cirurgias cardíacas e traumas cirúrgicos, o que evidencia o aumento atípico da taxa de mortalidade. Além disso, somente em 2023, o Hospital Estadual Mário Covas ampliou em 10 vezes a oferta de vagas para atendimento oncológico. Sobre o número de médicos que atuam na unidade, a instituição desconhece o número apresentado pela reportagem. Atualmente, 659 médicos prestam serviço na unidade, número que tem se mantido estável ao longo dos últimos anos, inclusive em 2019”, diz a Secretaria Estadual da Saúde.

O hospital Anchieta, em São Bernardo, foi o hospital público que registra a maior taxa de mortalidade dos hospitais do ABC, segundo os números do TCESP. O Painel da Saúde mostra que a taxa no primeiro semestre deste ano estava em 18,51%, no primeiro semestre de 2019 estava em 6,80%. O número de médicos aumentou de 269 para 367, segundo o tribunal. A prefeitura também diz que a taxa de mortes não está ligada ao número de profissionais, mas tem a ver com os casos de maior gravidade encaminhados para a unidade. “Não há qualquer ligação entre o número de óbitos no Hospital Anchieta com a quantidade de contratações de médicos ou de outros profissionais de saúde. O percentual se enquadra no perfil do tratamento ofertado pelo equipamento, referência municipal para todos os tipos de câncer, em que muitos pacientes são assistidos já em fase terminal da doença. Além disso, existe uma comissão de revisão de óbito que analisa todos os casos com esse desfecho”.

Hospital Abert Sabin, aumentou número de médicos. (Foto: Divulgação)

No Hospital Municipal de Emergências Albert Sabin, em São Caetano, o contingente de médicos aumentou de 294 para 876, de 2019 para cá e a taxa de mortalidade caiu de 9,13% para 8,45%. A prefeitura, diferente do que informa o TCESP diz que o efetivo de médicos é o mesmo no equipamento que é gerido pela Fundação do ABC. “Não houve aumento do número de postos de trabalhos (consultórios) ou no número de médicos cadastrados na unidade. A empresa que faz atendimento médico é terceirizada e todos os médicos da empresa são registrados no CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), toda equipe se reveza em sistema de plantões. O Hospital Municipal de Emergências Albert Sabin atende diariamente com 24 plantonistas durante o dia, 20 plantonistas noturnos, além dos especialistas: Nefrologista, Nutrólogo, Neurologista e Cardiologista”, informa a prefeitura.

O Albert Sabin tem o segundo número mais alto de taxa de mortalidade entre os hospitais públicos do ABC. Em terceiro vem o Hospital Municipal de Diadema, com taxa de 6,95% no primeiro semestre deste ano, taxa que aumentou diante dos 5,47% registrados em 2019.

Também em São Caetano vem a maior redução da taxa de mortalidade. O Complexo Hospitalar Municipal tinha taxa de 9,62% no primeiro semestre de 2020 (o TCESP não tem dados de 2019 deste complexo), taxa que caiu para quase a metade, 5,04%.

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