
O emaranhado de fios nos postes deixou de ser apenas poluição visual nas cidades. Agora é, também, de segurança, pois aumentou muito o número de ruas e avenidas com fiação caída pelas calçadas, que podem causar acidentes. Além do contato físico, que pode ocasionar quedas, os fios podem conduzir energia se estiverem em contato com a rede elétrica. A companhia de energia Enel atribui a maior parte das ocorrências às operadoras de serviços de telefonia, televisão a cabo e internet.
A Enel tem um serviço de atendimento para a eliminação de fios caídos, que pode ser acionado pelo e-mail atendimento.compartilhamento@enel.com ou telefone 0800 7272-196. A companhia informa que realiza inspeções e regularizações diariamente em toda área de concessão. “Quando constata irregularidade, as empresas ocupantes são notificadas e, ao final do prazo, a distribuidora inicia o processo para regularização”, informa a Enel, que diz receber 72 reclamações por mês.
No ABC a recordista mensal de chamados é Santo André com média de 9,4 chamadas, seguida por São Bernardo e São Caetano que têm média de duas chamadas cada, e Ribeirão, Diadema e Mauá recebem média de uma chamada por mês. Mas os números não refletem a realidade em Diadema, onde o RD encontrou quatro pontos de perigo com fios caídos: dois na avenida Prestes Maia, onde os fios estão enrolados em postes. Na rua rua Evandro Caiava Esquível, há outro fio caído na calçada, em frente à escola Iemano. Outra ameaça é na esquina das avenidas Presidente Juscelino e Piraporinha.
Em São Bernardo, na avenida Dom Pedro de Alcântara, a troca de postes que deveria organizar o emaranhado de fios só piorou a situação. Os fios de energia foram reposicionados, mas os demais foram deixados a um metro e meio do chão, que obrigam os pedestres a desviar da fiação.
Caminhão não passa
O comerciante Roberto Ramos, diz que a troca de postes começou dia 15 e causa transtornos. “Os fios ficaram muito baixos e nas esquinas os caminhões não conseguem passar. Ontem (18) para o caminhão de lixo passar o pessoal teve de erguer os fios. Hoje outro caminhão passou com tudo e partiu cabos”, relata.
A cabeleireira Maria da Cruz conta que, desde o início das intervenções, o salão está sem a fase 220 volts, que alimenta pranchas, secadores e o equipamento de aquecimento da água. “Estamos apenas com 110 volts, sem falar nos fios baixos. Ainda não aconteceu nenhum acidente, mas está perigoso”, afirma.
Enel atribui problema a empresas de telecom
A Enel informa que são 113 contratos de concessão para as operadoras de telecomunicações utilizarem os postes da empresa, que diz cobrar providências das concessionárias. “A distribuidora tem feito o que lhe cabe e notificado empresas de telecomunicações para que cumpram com suas obrigações regulatórias e contratuais. A partir de dezembro de 2017, as distribuidoras de energia elétrica foram autorizadas pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) – em circunstâncias específicas e na omissão das empresas de telecomunicação – a promover os cortes dos cabos instalados clandestinamente ou em posições irregulares”, explica.
Uma solução para o problema seria enterrar os fios, mas a operação é cara e o custo recairia sobre a conta de luz dos usuários. “A regulação do Setor Elétrico Brasileiro prevê que a iniciativa deve ser contemplada apenas em locais onde há grande concentração (densidade) de carga (como é o caso do Centro da cidade), para caracterizar o conceito regulatório de investimento prudente. O enterramento de rede tem um custo médio de implantação muito superior ao custo médio de uma rede aérea tradicional, podendo variar entre cinco e oito vezes. De acordo com a regulamentação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), os custos devem ser repassados para as contas de luz, o que acarretaria aumento expressivo na tarifa”, diz a Enel.
A empresa informa que fios caídos de empresa de telecomunicação não devem ser tocados ou ter alguém próximo, pois o mesmo pode estar em contato com a rede elétrica e causar acidentes graves e fatais. “O risco existe se os cabos de telecom estiverem fora do padrão, em contato com a rede elétrica, baixos ou caídos pelo chão”, completa.
Para o professor de Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Enio Moro Júnior, o emaranhado de fios e as consequentes quedas são reflexo da falta de gestão da Enel. “É preciso uma agenda urgente pra tratar disso, o que a Enel presta com isso é um desserviço. As telecons também não fazem manutenção de suas redes; deixam rolos de fios nos postes que firam um almoxarifado e não são penalizadas pela Enel que aluga os postes. É mais barato deixar as cidades feias do que corrigir os problemas”, critica.