
Santo André realizou nesta quinta-feira (17/05) nova edição Mental Fashion Day, principal evento da rede de saúde mental do município. O desfile, realizado na praça do Carmo, homenageou a psiquiatra Nise da Silveira, que desenvolveu trabalho revolucionário no tratamento terapêutico, na contramão do regime manicomial. A alagoana foi pioneira ao introduzir os animais como co-terapeutas e a implantar a arteterapia, visão que hoje norteia projetos como o das oficinas oferecidas nas unidades do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
Na preparação dos modelos, psicólogos e terapeutas ocupacionais fizeram a vez dos maquiadores e figurinistas, familiares davam apoio à organização e usuários se dividiam entre a apresentação do desfile, cobertura fotográfica e a função de modelo. O desfile integra os profissionais e usuários de todos os CAPS da cidade, desde a confecção e customização das peças, realizada dentro das oficinas dos equipamentos, até os ensaios e produção do cenário.
Foi por esse acolhimento que a dona de casa Luciene Pavani, de 42 anos, se tornou mais participativa nas atividades do serviço. Essa foi a primeira vez que a moradora do bairro Bangu desfilou no evento. Luciene é mãe da adolescente Maiara Pavani, de 15 anos, que faz tratamento e participa das oficinas no CAPS Infantojuvenil. “Antes dela começar a utilizar o serviço eu não tinha essa visão. Você começa a ampliar seu pensamento quando você vê esse trabalho, tem contato com as famílias. Até para aqueles que têm um grau de comprometimento maior, desfilar é uma conquista”, comenta a mãe.
Na abertura do desfile, a coordenadora do CAPS III Jardim, Paula Taleikis, caracterizada de Nise da Silveira, declamou um texto ao representar a psiquiatra e fez um alerta. “Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata”, disse.
O usuário do CAPS Vila Vitória, Rivaldo da Silva, de 41 anos, contou que teve de fazer uma escolha difícil para participar do desfile, porque toda quinta-feira participa da oficina de futebol. “O desfile acontece uma vez por ano e eu gosto de me reunir com o pessoal aqui”, comentou. Ao final da cerimônia, um grupo de usuários subiu ao palco para tocar e cantar. A vocalista, caracterizada de Dona Ivone Lara, sambista falecida neste ano, entoou a canção com o refrão: saúde não se vende e loucura não se prende.
Rede de atendimento
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do município é composta dos seguintes pontos de atenção: três CAPS tipo III (24 horas); um CAPS III AD (Álcool e outras drogas); um CAPS Infantojuvenil. Para reabilitação psicossocial há duas repúblicas terapêuticas (unidades de acolhimento, uma para adulto e outra para jovens de acordo com Projeto Terapêutico Singular vinculados ao CAPS III AD); um Núcleo de Projetos Especiais (NUPE), que realiza atividades voltadas à geração de trabalho e renda; o Consultório na Rua (CNR), que realiza atendimento itinerante à população de rua e o CAPS itinerante, uma equipe mista dos CAPS AD, Vila Vitória, Infantil e CNR, que realiza atendimentos em Paranapiacaba e Parque Andreense, com objetivo de promover acesso à Saúde. Santo André conta, ainda, com sete residências terapêuticas.