ABC - terça-feira , 17 de junho de 2025

ABC registra 138 denúncias de exploração sexual infantil; Dia Nacional reforça a luta

São Bernardo e Santo André lideram denúncias na região (Foto: Alexas/Pixabay)

O Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, celebrado neste domingo (18/05), chama atenção para as denúncias de exploração sexual infantil, que chegaram a 138 no ABC entre janeiro e maio deste ano. Dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania apontam 280 violações na região, com média mensal de 27,6% e projeção anual de 331 denúncias, o que mantém a exploração sexual infantil como um dos problemas mais alarmantes a se combater.

De acordo com as estatísticas, São Bernardo lidera o número de denúncias em 2025, com 57 casos e 102 violações aos direitos humanos. Santo André aparece logo atrás, com 40 denúncias e 98 violações, enquanto Mauá e Diadema registraram 17 denúncias cada, contabilizando 37 e 34 violações, respectivamente. São Caetano teve quatro denúncias e seis violações, Ribeirão Pires, três denúncias e três violações, e Rio Grande da Serra ainda não registrou ocorrências neste ano.

Newsletter RD

Diante desses números, especialistas reforçam a urgência de intensificar as políticas públicas para o combate ao crime, especialmente no contexto do dia nacional. A data, instituída em 2000, remete ao caso emblemático de Araceli Crespo, assassinada aos oito anos em 1973, em Vitória (ES). Desde então, têm sido implementadas ações educativas e políticas públicas para proteger crianças e adolescentes.

Registros no ABC
Para se ter uma dimensão do problema, em 2023 o ABC registrou 347 denúncias de exploração sexual infantil, com 766 violações. No ano seguinte, esses números subiram para 370 denúncias e 844 violações. Em 2025, entretanto, houve uma queda expressiva, com 138 denúncias e 280 violações até maio. Essa redução é significativa, mas ainda não garante um cenário seguro, tendo em vista que a média mensal pode resultar em 331 denúncias ao longo do ano – um número próximo ao registrado em 2023.

Nos últimos três anos, Santo André e São Bernardo concentraram o maior número de denúncias, enquanto Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra apresentaram os índices mais baixos. A queda mais acentuada em 2025 ocorreu em Santo André, que reduziu as denúncias de 97 em 2024 para 40 até maio deste ano.

Políticas públicas
As prefeituras da região mantêm políticas e serviços voltados ao enfrentamento e à prevenção da exploração sexual infantil. Diadema, por exemplo, oferece atendimento pelo CREAS em duas unidades, que registraram 88 casos entre maio de 2024 e abril de 2025. Além disso, o município realiza campanhas, seminários e debates, e mantém parcerias com organizações da sociedade civil para ampliar o alcance dos serviços. Entre os desafios apontados está a dificuldade de encaminhar as situações devido ao caráter velado da violência.

Já Rio Grande da Serra conta com uma rede integrada formada por secretarias e profissionais técnicos para garantir a proteção integral das vítimas, com atendimento pelo Conselho Tutelar e CREAS. A cidade registrou 11 atendimentos em 2024 e oito em 2025 até o momento. São realizadas palestras, rodas de conversa e ações educativas, com o apoio de ONGs que fortalecem a prevenção e o acolhimento.

As demais prefeituras não responderam até o fechamento da reportagem.

Atenção aos sinais
Identificar casos de exploração sexual infantil exige atenção a uma série de sinais que vão além das evidências físicas. A advogada Priscila Frade, presidente da Comissão da Infância, Juventude e Adoção da OAB de Santo André, explica que a violência sexual pode ocorrer sem contato físico, por meio de assédios, palavras, exposição a conteúdos pornográficos ou até mesmo captura de imagens digitais.

Entre os sinais de alerta estão mudanças bruscas no comportamento, como choro excessivo, agressividade ou irritabilidade; proximidade excessiva com algum adulto; regressão, como voltar a urinar na cama; silêncio ou retraimento; distúrbios do sono; hiperssexualização; dificuldade de concentração; aparência descuidada; traumas físicos; doenças psicossomáticas, como ansiedade e depressão; e faltas frequentes na escola. “Esses sinais não confirmam o abuso isoladamente, mas devem ser observados com atenção e avaliados dentro do contexto da criança ou adolescente”, ressalta Priscila.

A advogada reforça a importância da escuta qualificada ao destacar que familiares, educadores e profissionais de saúde devem estar atentos e preparados para acolher relatos, evitando revitimizações. “A rede de proteção precisa atuar com sensibilidade e rapidez para garantir o atendimento e encaminhamento adequados”, completa.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que a responsabilidade pela proteção integral é da família, da comunidade e do Poder Público. A advogada destaca que qualquer pessoa pode e deve denunciar suspeitas, de forma segura e anônima, pelo Disque 100, Conselhos Tutelares e Polícia Militar (190). “Denunciar é essencial para interromper o ciclo de violência”, afirma.

Consequências do abuso
As consequências do abuso são profundas e podem perdurar pela vida toda. Os impactos psicológicos mais comuns incluem transtornos de ansiedade e depressão, baixa autoestima, sentimento de culpa ou vergonha, distúrbios do sono, comportamentos autodestrutivos e dificuldades escolares. Socialmente, as vítimas podem apresentar isolamento, problemas nos relacionamentos e comportamentos de risco, como uso de substâncias e envolvimento em relações abusivas. Priscila ressalta que o preconceito e a estigmatização ainda agravam a situação de muitos jovens vítimas.

Para a recuperação, o apoio médico e psicológico especializado, oferecido gratuitamente por serviços públicos como os CREAS, é fundamental. Ela destaca a importância de políticas públicas integradas que contemplem assistência social, saúde, educação, delegacias especializadas e o Judiciário. Além disso, campanhas educativas devem informar crianças e adolescentes sobre seus direitos e formas de proteção, empoderando-os para buscar ajuda quando necessário.

Priscila também aponta que o abuso não está relacionado a características pessoais, mas sim a contextos de vulnerabilidade social, como negligência familiar, deficiência, evasão escolar e ambientes violentos. A advogada alerta para a subnotificação de casos envolvendo meninos, devido ao preconceito e à vergonha, e enfatiza a necessidade de um olhar atento para todas as vítimas.

Como denunciar?
Denunciar casos de abuso e exploração sexual infantil é um passo fundamental para proteger a vítima e combater essa violência. As denúncias podem ser feitas de forma anônima e segura por meio do Disque 100 (Disque Direitos Humanos), do Conselho Tutelar da região ou da Polícia Militar, pelo número 190.

É importante que qualquer pessoa que suspeite ou presencie sinais de violência não se cale, pois a denúncia ajuda a interromper o ciclo de abusos e possibilita o encaminhamento imediato da criança ou adolescente para os serviços de proteção e atendimento adequados.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes