
Se havia algo certo em São Caetano na tarde desta terça-feira (18/02), era que a sessão na Câmara dos Vereadores seria agitada, devido a temas polêmicos na cidade. O que ninguém imaginava era que os trabalhos no plenário se encerrariam em apenas 35 minutos, após uma divergência entre o presidente do Parlamento, Carlos Humberto Seraphim (PL), e o movimento de ocupação do imóvel abandonado no bairro Cerâmica, já com ordem de despejo.
O Legislativo seria palco de discussões sobre as irregularidades apontadas pela gestão do prefeito Tite Campanella (PL) no projeto do Pronto Cardio e os problemas nas inscrições do PEC (Programa Esportivo Comunitário). Entretanto, com a reintegração de posse do prédio privado de três andares — ocupado desde novembro — já determinada pela Justiça e a iminência do uso da força policial, o Movimento Olga Benário, formado majoritariamente por mulheres, também se dirigiu ao Parlamento, que já contava com forte presença da GCM (Guarda Civil Municipal).
Os manifestantes exigiam uma audiência com os vereadores e iniciaram protestos no auditório logo no início da sessão. Irritado pelo barulho e incentivado por outros vereadores, Dr. Seraphim não hesitou em encerrar a sessão, intensificando ainda mais os protestos. Com o plenário praticamente esvaziado, restando apenas a vereadora Bruna Biondi (PSOL), que apoia a causa, a GCM precisou negociar com os manifestantes para que deixassem os assentos, em meio à tensão pelo possível uso da força.
Após uma discussão entre os membros do grupo, decidiu-se deixar o recinto e seguir com a manifestação fora do Legislativo. “Nós vamos sair, em respeito a vocês (funcionários da Câmara e à GCM) que trabalham. Agora, essa gente (vereadores), que recebe e ganha às nossas custas, não tem um pingo de respeito pela nossa classe. Amanhã (quarta-feira, 19), se houver despejo com violência, a culpa estará nas costas desses vereadores e desse presidente”, protestou Roseli Simião, integrante do movimento, em voz alta.
A tensão ocorre devido à ordem judicial de reintegração de posse do imóvel, vencida desde sexta-feira (14). Nesta terça-feira, agentes da Polícia Militar estiveram em frente ao prédio, mas não efetuaram a retirada dos ocupantes. Dessa forma, a Justiça concedeu um prazo de 24 horas para que os policiais cumpram a determinação de despejo, gerando temor quanto ao que pode acontecer nesta quarta-feira (19), em caso de confronto entre as partes.
Críticas ao encerramento
A vereadora de oposição, Bruna Biondi, avaliou que faltou habilidade da presidência da Casa, chefiada por Dr. Seraphim, para mediar o impasse. “A sessão de hoje é a falta de sessão. Não existe presidente na Câmara de São Caetano, e isso ficou escancarado. Quantas manifestações já ocorreram nesta Casa e foram mediadas? O movimento pede políticas públicas, e o Poder Público não o escuta. Às vésperas do Mês da Mulher, trazer violência contra mulheres é muito ruim para o município”, frisou.
Pronto Cardio e CPI
Ofuscado pela manifestação sobre a ocupação no Cerâmica, o tema do Pronto Cardio agitou os vereadores antes da sessão, a ponto de a base governista se reunir presencialmente com Tite para discutir a questão. O equipamento, que deveria funcionar como um pronto-socorro cardiológico municipal para atendimentos de alta complexidade, segue de portas fechadas. A atual gestão apontou uma oneração ao erário na ordem de R$ 42 milhões anuais, sem que houvesse oferta de serviços correspondente.
Quando o assunto veio à tona, em matéria do Diário do Grande ABC neste fim de semana, os vereadores reagiram, e um grupo foi ao Palácio da Cerâmica nesta terça-feira. “Ajustes serão feitos. Estamos com problemas sérios em relação à energia elétrica, e a Enel deu um prazo de aproximadamente 150 dias para instalar a cabine primária. O governo já está estudando para que o local funcione com atendimentos de média e baixa complexidade. Para alta complexidade, será feito um estudo visando uma parceria com o setor privado”, afirmou o líder do governo, César Oliva (PSD).
O vereador Getúlio Filho (União Brasil) propôs a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o projeto, inaugurado pelo ex-prefeito José Auricchio Júnior (PSD). No entanto, a base governista — que detém ampla maioria no Legislativo — descartou a instauração da comissão. “O relatório de insatisfação com o Pronto Cardio veio do próprio governo Tite. Foi a atual gestão que constatou diversas irregularidades na construção e execução do projeto. Essa CPI é uma questão de segurança”, defendeu o autor do requerimento.
PEC
Manifestantes insatisfeitos com os problemas nas matrículas do PEC (Programa Esportivo Comunitário) também compareceram ao Legislativo em busca de apoio dos vereadores para solucionar o impasse. A controvérsia começou com a implementação de um novo modelo de inscrição virtual, que gerou uma série de problemas e impossibilitou a rematrícula de centenas de alunos.
Ao receber uma comissão de munícipes nesta segunda-feira (17), o chefe de Gabinete do governo, Gustavo Buzo, garantiu que todos os alunos matriculados no PEC em 2024 terão o direito de realizar a rematrícula.