ABC - quinta-feira , 12 de dezembro de 2024

Apeoesp apoia escola sem celular e especialista sugere uso moderado e sob regras

Projeto aprovado no Estado proíbe celular até mesmo fora da sala de aula. (Foto: Arquivo EBC)

A Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) aprovou na terça-feira (12/11) o projeto de lei da deputada Marina Helou (Rede) que proíbe o uso de celulares em sala de aula, seja em escola pública ou privada. A medida ainda depende de sanção do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas já gera polêmica sobre como será feita essa proibição e se vai ter o objetivo de melhorar a concentração dos alunos em sala de aula ou se os pais vão aprovar essa ideia.

Pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e pela QuestionPro, junto a 1.491 pessoas adultas em todo o País, mostra que 80% dos adultos entende que o uso dos celulares em sala de aula deve ser proibido, ou seja, 8 em cada 10 pessoas aprova a proibição. Considerando apenas aqueles que são pais 82% considera que proibir o celular na escola é o correto a ser feito. Além do Legislativo paulista, o Ministério da Educação também estuda proibir o celular durante as aulas.

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O projeto da deputada paulista, que contou com a coautoria de parlamentares da esquerda e da direita da Alesp, restringe o uso do aparelho não só nas aulas, as também em outros ambientes dos colégios. “O uso constante de dispositivos móveis durante as aulas tem sido associado a uma diminuição significativa na capacidade de concentração e desempenho acadêmico”, disse Marina, quando da aprovação da propositura.

Para André Stábile, presidente e fundador do Instituto Educacionista, membro efetivo do Movimento pela Base Nacional Comum Curricular e ex-secretário de Educação de Mogi das Cruzes e São Caetano, a medida se mostra muito radical e pode tensionar ainda mais a situação. Para ele o ideal seria restringir o uso em alguns momentos e permitir em outros, mas com regras.

Segundo Stábile, existem perdas cognitivas com o uso constante das telas, mas se vai proibir, primeiro tem de definir o que vai ser colocado no lugar. “Hoje vivemos em uma epidemia tecnológica, um tipo de vício. Os vídeos do TikTok, por exemplo, já foi apurado que eles alimentam áreas do cérebro que só são estimuladas assim quando se usa entorpecentes, então vicia e isso repercute em diagnósticos de ansiedade, depressão, automutilação e até suicídios em jovens. É comum pais darem celular ou tablet para crianças pequenas para acalmá-las, mas se na escola isso continua de forma massiva vai causar lesões, mas proibir talvez não seja a melhor saída”, analisa.

Em países desenvolvidos, conta Stábile, se restringe com regras. Se proibir vai estimular um problema de disciplina com o uso clandestino do celular, alguns pais vão reclamar porque tentaram falar com o filho e não conseguiram. “Eu vejo que o uso deve ser limitado, e o aparelho ser usado como uma ferramenta para desenvolvimento da leitura crítica, de se identificar, por exemplo, as fake news, para checagem de textos que chegam por rede social e assim vai se formando um novo padrão de uso. Não faz sentido barrar a tecnologia, mas ter como uma opção de formação como com curso de programação para que o aluno deixe de ser usuário e se forme em uma área promissora”, afirma.

Stábile não acredita na proibição de forma isolada, porque estar acompanhado de outras medidas, como uma gestão democrática com a participação das famílias; a forma correta de usar o celular no ambiente escolar; qual o conteúdo, com a escola apresentando um conteúdo estimulante para o aprendizado e também treinar professores para usar as telas como meio de informação, mas nunca abandonar os livros em papel. “Pesquisa mostra que o livro tradicional tem 30% assimilação de conteúdo do que o mesmo conteúdo exibido em telas, isso porque o celular e a luz azul que ele emite causa uma dispersão da atenção”, diz.

Fábio Moraes, presidente da Apeoesp, diz que celular está prejudicando o desenvolvimento dos alunos. (Foto: Reprodução)

A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) é favorável a proibição dos celulares em sala de aula. Para o professor e presidente do sindicato, Fábio Santos de Moraes, o excesso de uso dos aparelhos tem prejudicado o aprendizado ao ponto dos alunos perderem habilidades até para escrever.

Para Moraes, esse é um debate que precisa ser feito. Essa questão tem de ser regulamentada e o MEC (Ministério da Educação e Cultura) já está fazendo essa discussão, o Congresso Nacional discute isso também. Países que investem mais na educação já cortaram 100% e voltaram ao caderno e o livro.

“As pessoas estão deixando de escrever, de ter letra cursiva, de ler, de virar uma página e isso não está fazendo bem para essa geração. A tecnologia pode e deve existir como um meio, mas São Paulo está colocando a tecnologia como um fim, ou seja, não importa o que aprende mas que deve estar conectado o tempo todo e a cada dia se prova que isso não está fazendo bem do ponto de vista físico e psicológico destas crianças, jovens e adolescentes que estão na nossa escola pública. Essa proibição é absolutamente necessária, do jeito que está faz mal para a educação e para os jovens”, aponta.

O presidente da Apeoesp considera que a sociedade deve participar do debate para a normatização deste projeto que pode tornar-se lei no Estado ao ser sancionado pelo governador. “Tem que aprofundar muito esse debate e ter uma normatização muito consciente sobre o uso do celular na escola. Em algumas idades tem que vetar o celular, tem idade que não dá para ter celular na aula, se vê até na educação infantil, o que é um absurdo. A sociedade tem que fazer parte da discussão para a normatização. Tem que ter uma ação de conscientização para que essa ação tenha um resultado efetivo, não só pela melhoria da qualidade da Educação mas para a melhoria das condições de vida destes estudantes que estão o dia inteiro com o celular na mão”, completa Moraes.

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