ABC - quarta-feira , 18 de setembro de 2024

Resíduo industrial é a causa da mortandade de peixes em afluente da Billings

Peixes mortos no Rio Grande, principal afluente da Billings. (Foto: Reprodução)

A altíssima concentração de metais pesados, fruto de processos industriais, é o que causou a mortandade de peixes na semana passada no Rio Grande, que é o principal afluente do braço Rio Grande da Represa Billings, local onde a Sabesp capta água para abastecimento de 1,8 milhão de habitantes de Diadema, São Bernardo e parte de Santo André. Milhares de peixes mortos foram vistos boiando no rio na quarta-feira (24/07) e pescadores que denunciaram o desastre ambiental ao MDV (Movimento em Defesa da Vida do ABC), que acionou o laboratório do IPH/USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul) que coletou amostras no local. O RD teve acesso aos resultados preliminares da análise cujo relatório será concluído na próxima semana e entregue aos órgãos de controle e ao Ministério Público com pedido de apuração.

Segundo a análise feita na USCS, o cromo hexavalente está presente na água do trecho afetado pela morte de peixes em uma vez e meia acima do tolerado; o cobre está 16 vezes acima do aceitável; mercúrio, três vezes; cádmio, oito vezes. Para a bióloga, ambientalista e coordenadora do IPH, Marta Marcondes, essas substâncias são metais pesados largamente utilizados em processos industriais. “Isso não se encontra em esgoto doméstico, só pode vir da indústria. Esse material pode decantar, mas mesmo assim os peixes que ficam mais no fundo do rio vão ser contaminados”, diz a especialista.

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Essa não foi a primeira, foi a quarta vez que grande quantidade de peixes morrem no Rio Grande. Esses mesmos metais pesados foram encontrados nos episódios ocorridos em 2022 e 2023, segundo explica a professora da USCS. “Só que nas outras vezes as concentrações eram muito menores do que a que encontramos hoje. Além disso os níveis de oxigênio diluído estava muito abaixo do que preconiza a legislação, estava em 2,4 mg/l  quando o aceitável para permitir a vida aquática é 5 mg/l”, explicou. Outra substância encontrada em valores muito grandes foi o cloro. Segundo a análise laboratorial a concentração estava 200 vezes acima da resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), conforme relato da bióloga.

O nível mais baixo do Rio Grande piora a situação. “É um indicador péssimo que favorece a concentração deste poluentes e isso vai acabar caindo no braço do Rio Grande onde a Sabesp capta água. O rio vai seguir seu curso e isso vai chegar lá, só que em concentrações muito menores por causa da diluição. E, mesmo com o tratamento de água, esses metais dificilmente vão sair. A concentração não vai ser alta para causar um mal à saúde, o problema é que esses metais pesados são persistentes e acumulativos nos seres vivos e se depositam nos tecidos, nos rins, no fígado e outros órgãos, e isso pode ser um problema futuro de saúde, que só vai se descobrir analisando torneira por torneira para saber a origem”, aponta Marta Marcondes.

O relatório das análises do IPH-USCS deve ficar pronto até terça-feira (06/08) e será entregue ao Ministério Público, à Cetesp (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) – que também colheu amostras no local -, ao MDV, ao Subcomitê Billings-Tamanduateí e à prefeitura de Rio Grande da Serra. “Alguém terá que dar uma resposta à sociedade sobre isso que aconteceu”, completa a bióloga da USCS.

 

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