Os estudantes da Faculdade Anhanguera da avenida Atlântica, em São Bernardo, ficaram revoltados esta semana quando viram milhares de livros encherem uma caçamba de entulho. Os títulos, aparentemente novos, alguns ainda comercializados em livrarias, sequer foram oferecidos aos alunos ou a outras instituições.
Um aluno da unidade, estudante de Direito, conseguiu fazer uma foto dos livros, e até tentou se aproximar, mas os funcionários da empresa que fazia o recolhimento impediram a aproximação de pessoas e disseram que as obras seriam trituradas para reciclagem. “Mesmo assim. na hora que os funcionários entraram para pegar mais uma carga de livros alguns acabaram salvos da caçamba. Minha colega conseguiu pegar cinco livros jurídicos que vai dar para o irmão que vai se graduar na área. São livros novos, em perfeito estado”, diz.
O RD fez uma busca em sites de livrarias e constatou que pelo menos alguns dos exemplares descartados não estão só em bom estado, mas são edições atuais que ainda estão à venda. Caso do livro “Direito Civil: Direito Patrimonial, Direito Existencial – Estudo em Homenagem à Professora Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka”, dos autores Flávio Tartuce e Ricardo Castilho. Na plataforma Amazon, esse livro está disponível e custa R$ 423.
O aluno conta que não houve nenhuma oferta de livros para os alunos. “Podiam ter doado, não nos ofereceram. Eu questionei o coordenador de sala que parece ter ficado surpreso também e disse que ia me dar uma resposta, mas até agora nada. Um professor que atua também em outra unidade da Anhanguera contou que aconteceu problema igual outra unidade, só que lá os alunos puderam pegar o que lhes interessava, diferente daqui que preferiram jogar fora. O estranho é que a Anhanguera faz campanha para arrecadar doações para o Rio Grande do Sul, então porque não doaram os livros para lá?”, indaga o estudante.
O professor da UFABC (Universidade Federal do ABC), Fernando Luiz Cássio da Silva, especialista em educação, considerou absurda a ideia de uma instituição de cursos superiores se desfazer de livros. “Eles precisam ser doados para outras instituições de ensino, ou para os próprios estudantes com renda mais baixa. Muita coisa poderia ser feita ao invés de atirar os livros na lixeira. Quando uma faculdade joga fora livros ela está jogando fora sua própria infraestrutura. Eu acho um absurdo triturar livros, porque não doar?”, indaga.
Para o especialista na área de educação, o motivo do descarte precisa ser estudado. “Será que vão atualizar o acervo, ou estão eliminando uma biblioteca e investir em cursos online? Isso a faculdade precisa explicar”, completa.
Atualização às 14h10 de 24/05/2024 para inserção do posicionamento da Anhanguera. Veja abaixo:
“A Faculdade Anhanguera esclarece que os livros em questão foram doados por uma pessoa física, porém ao avaliar os livros doados, foi constatado a necessidade de descarte em função de estarem completamente desatualizados, contendo referências da legislação antiga, não mais vigente, o que poderia prejudicar alunos e instituições que dependem de informações precisas e atuais. A instituição adota uma política rigorosa de descarte de materiais didáticos, na qual cada livro é minuciosamente analisado pelos coordenadores dos cursos para serem destinados à doação, caso estejam atualizados e em bom estado ou descartados, seguindo a política da companhia para tal fim. A caçamba observada na foto é de uma empresa de reciclagem que será responsável pela trituração dos livros desatualizados. Esclarecemos também que o livro mencionado na reportagem é de 2006, sendo assim estava totalmente desatualizado, tornando-o inviável para doação e preparação de estudantes e profissionais da área do direito de acordo com a Legislação Brasileira. A Anhanguera salienta que, em situações em que os livros estão atualizados e em bom estado, os mesmos são destinados a doações para instituições em vulnerabilidade social ou públicas. A instituição ressalta ainda o seu compromisso com a educação de qualidade e a sustentabilidade.”