É cada vez mais comum casais homoafetivos se candidatarem à adoção de crianças para concretização do sonho de formar uma família. Também cresce o número de solteiros que desejam alcançar o mesmo objetivo. Essa realidade que surgiu com força na última década tem facilitado a adoção de crianças. Outra constatação é a de que os pretendentes estão menos exigentes e aceitam criança de outra raça e casais de irmãos ou com situações de saúde delicadas tratáveis e não tratáveis. Neste sábado (25/5) é o Dia Nacional da Adoção e uma caminhada está prevista domingo (26) na avenida Paulista, na Capital, quando grupos de apoio à adoção, inclusive do ABC, vão marchar e erguer a bandeira da adoção.
Segundo o SNA (Sistema Nacional de Adoção), do Conselho Nacional de Justiça, no Estado 10.078 crianças estão institucionalizadas, vivem em abrigos, mas pouco mais de 10% delas, 1.185 estão aptas à adoção. São Paulo é o Estado com maior número de crianças para adoção, depois vem Minas Gerais com 619 crianças aptas. O CNJ não tem números divididos por cidade.
Essa diferença entre o número de abrigados e os que estão aptos à adoção ocorre porque a Justiça tenta de várias maneiras a colocação desta criança na família ou na família extensa, como avós ou tios. A própria destituição do poder pátrio é um processo demorado.
Ainda segundo o SNA, dos menores aptos adoção 61,8% são pretos ou pardos e 35,7%, brancos. A maioria (54,7%) são meninos e 45,3% meninas. Do total de crianças, 10,4% têm algum grau de deficiência intelectual, 3% têm deficiência física e intelectual e 1,4% deficiência física.
O número de pretendentes à adoção no Estado é de 9.054, destes 89,3% são casais e 10,7% são solteiros. O número de crianças acolhidas é bem alto, mas o número daquelas que estão aptas é bem menor porque tem todo um processo. “Esse número de aptos é muito dinâmico, tem movimentação todo dia. Quem espera o filho nem sempre consegue entender a demora. Tem também a habilitação do pretendente, criteriosa e demorada. A Justiça tem que de assegurar de que essa criança vai para um lugar seguro e não será revitimizada, muitas vezes a burocracia é necessária. Por outro lado há demora exagerada em alguns casos por falta de pessoal técnico nos fóruns. Os funcionários se desligam e não são repostos, isso também implica na demora”, explica Maria Inês Villalva, coordenadora técnica da Feasa (Federação das Entidades Assistenciais de Santo André) e assistente social do GAA (Grupo de Apoio a Adoção) Laços de Ternura.
Para Maria Inês, esse aumento de possibilidades de formação de uma família, com os pretendentes solo e casais homoafetivos, foi muito positivo. “Hoje a participação de casais homoafetivos no Grupo é muito maior e percebemos que eles são menos exigentes em relação ao perfil da criança que pretendem adotar, aceitam grupos de irmãos, crianças com deficiência e também com mais idade; são menos excludentes. Não quer dizer que os casais heterossexuais também não abram as possibilidades, mas isso é benéfico e tem resultado em adoções exitosas”, explica.
Preconceito
A adoção tem ultrapassado a barreira de muitos preconceitos e no País o perfil de criança que os pretendentes querem está mais aberto. “Finalmente os brasileiros esão mudando, antes as maiores chances de adoção era para os bebês brancos. Hoje temos um casal no grupo que está em trâmite para adotar um rapaz de 17 anos, uma situação que seria quase impossível anos atrás”, diz Maria Inês. Se antes já havia mães solo como pretendentes, hoje há também homens solteiros pretendentes à adoção. “Ainda é um número pequeno, mas existe”, diz a assistente social.
Segundo os dados do Sistema Nacional de Adoção, dos 1.185 menores questão aptos para adoção no Estado, 705 têm um ou mais irmãos. Há uma tendência no Judiciário de não separar irmãos. Do total de crianças 68,4%, ou praticamente sete em cada dez, têm mais de 6 anos de idade, e 23,5% têm mais de 14 anos.
“Percebo que a cultura da adoção já foi mais perversa, mas o preconceito ainda existe. Em casos de violência familiar quando o autor é um filho por adoção essa condição ainda é altamente destacada pela imprensa, como se não ocorressem crimes hediondos praticados por filhos biológicos. Temos o caso da Suzane Von Richtoffen condenada por matar os pais. Em Santo André, uma filha biológica participou da morte dos pais e do irmão mais novo”, diz Maria Inês sobre o caso da Família Gonçalves onde Anaflavia Meneses Gonçalves foi presa com outros quatro cúmplices e condenada por matar a mãe, o pai e o irmão de apenas 15 anos.
A assistente social considera que muito já foi superado quanto aos preconceitos. “Hoje o tema tem mais visibilidade, na novela, nos filmes, tem uma literatura mais ampla e sobretudo há mais grupos de apoio à adoção. Mesmo assim são poucos, no País inteiro são pouco mais de 200 grupos. As pessoas estão mais conscientes de que a adoção é uma forma legítima de compor uma família”, completa.
Mãe solo
“Hoje sou apenas eu e ele”, diz Vanessa Pasvenskas Marcos, de 49 anos, mãe do Breno, de 3. O sonho de ser mãe foi perseguido por anos pela moradora de Santo André que o realizou há cerca de um ano e meio. Desde quando era casada ela sempre alimentou o desejo de ser mãe, foram feitas duas inseminações que não deram certo e logo a adoção surgiu como a forma de concretizar esse desejo. O casal se inscreveu no Cadastro Nacional de pretendentes à adoção, mas Vanessa percebeu que o desejo era mais dela, e o casamento parou ali a sua história. Mas ela não desistiu e atualizou seu cadastro no Fórum como mãe solo.
Foram cinco anos de espera até o recebimento da ligação que mudaria sua vida. “Eu tinha entrado em contato com o Fórum para saber se meus dados estavam atualizados e fiquei esperando uma resposta, quando me ligaram eu achei que era por isso, mas não era para avisar que tinha um menino e se eu queria conhecer. Achei que ia me desmanchar de choro e emoção, mas consegui me conter. Avisaram que ele tinha um atraso de aprendizado, mas quando o vi foi diferente. Meu medo era que ele não andasse, que ficasse acamado, aí seria muito mais difícil, mas ele anda, corre, brinca, ainda não fala, mas está fazendo terapias, já quase se alimenta sozinho”, conta. Breno não tinha um diagnóstico fechado até então, hoje já tem; ele tem um grau de paralisia cerebral e autismo.
Da ligação até a vinda definitiva de Breno para casa foram quase seis meses. Primeiro foram visitas ao abrigo depois períodos na casa de Vanessa até que a justiça autorizou que ficasse definitivamente. Vanessa conta com a ajuda da mãe, para conseguir cuidar de Breno e ainda dar conta do trabalho, parte dele realizado em home office. Apesar da rotina ter mudado muito deste a chegada da criança, Vanessa é só alegria. “Meu filho é a coisa mais linda do mundo, cada vez mais cresce esse meu amor por ele”.
Grupos
Passado toda a espera e os trâmites legais, a adoção de Breno está concluída. Vanessa diz que o Dia das Mães deste ano foi o mais especial por conta destas etapas vencidas. “No ano passado eu estava mais tensa por conta do diagnóstico do Breno, esse ano foi muito especial”, relata. Vanessa, que participa do Grupo Laços de Ternura, conta as orientações que recebeu ajudaram muito a entender o processo, a conhecer mais sobre o assunto e prepará-la para as etapas legais e as análises social e psicológica a qual os adotantes são submetidos no fórum. “Entrei no grupo antes mesmo de me inscrever no Fórum, foram cinco anos me preparando com muita orientação através de palestras, livros e troca de experiências.
Além do Grupo de Apoio à Adoção Laços de Ternura, que atende moradores de Santo André, no ABC há também o GAA Revelar, de Mauá (contato com Miriá Ferreira pelo telefone (11) 99881-9944 ou e-mail: revelaradocao@gmail.com) e o GAA Anjos da Guarda, de São Bernardo (contato: (11) 97257-5660 e angelicamaranjos@yahoo.com.br), que também aceita quem é de outra cidade. Há grupos que também só fazem encontros virtuais onde também é possível se inscrever.