ABC - terça-feira , 30 de abril de 2024

Desvalorização faz professor não ter muitos motivos para comemorar seu dia

Professores superaram desafios durante a pandemia e agora a pressão por melhores resultados. (Foto: Banco de Imagens)

Neste domingo (15/10) é comemorado o Dia do Professor. A região tem aproximadamente 30 mil professores, considerando escolas públicas e privadas desde a Educação Básica até o Ensino Técnico e Superior. Para os representantes das entidades que representam a categoria não há muitos motivos para comemorar a não ser a resistência da categoria em continuar lutando contra a precariedade, os baixos salários e por melhores condições de trabalho.

Para professora Edilene Arjoni, presidente do SinproABC (Sindicato dos Professores das Escolas Particulares do ABC) lidar com os alunos e as salas superlotadas são os menores problemas da categoria. “São muitas situações de assédio moral como o uso do whatsapp pela escola para falar com o professor fora do horário de trabalho, aos sábados e domingos, não se tem paz. Dentro da escola exigem um alto rendimento, falta condições. Muitos podem achar que a falta de infraestrutura não existe na escola particular, mas acontece sim”.

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A presidente do sindicato diz que além das questões salariais há muita sobrecarga de trabalho, situação muito agravada durante a pandemia da covid-19 que ainda traz seus efeitos para a profissão. “Além das questões salariais há um aumento muito grande de demanda, há, por exemplo, alunos com laudo, e o professor tem que fazer provas diferenciadas, às vezes cinco ou seis tipos de provas diferentes, além disso a hora/atividade, que corresponde a 5% da carga horária, aquele tempo para preparar e corrigir as provas e fazer relatórios  é pouca. O sindicato quer, por exemplo regulamentar a hora/tecnologia, que é o atendimento online aos pais e outros preparos tecnológicos para as aulas. Se soma a isso a mão de obra menor para dar conta da mesma demanda, ou aulas em que se juntam várias turmas com 100 ou 200 alunos ou ainda aulas online com 400 participantes. Por tudo isso a categoria está extremamente esgotada”.

Na próxima campanha salarial, em 2024, além das questões econômicas, os professores vão discutir com os donos das escolas questões como a regulamentação das horas de trabalho fora da sala de aula. Para esse Dia dos Professores há um único motivo para comemorar, a resistência. “O que podemos comemorar é que a categoria é aguerrida, fez todo o seu trabalho sozinha e sobreviveu a tudo isso. O que ficou foi essa força de luta, de um professor ajudar o outro, pois no governo passado fomos demonizados  e quem resistiu e ficou não foi para continuar na educação como um sacerdócio; esse é um trabalho que deve ter garantidos os seus direitos”, completa.

Professora Edilene Arjoni, presidente do SinproABC. (Foto: Reprodução)

Só de professores da rede estadual, o ABC emprega perto de 20 mil pessoas. O secretário de finanças da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), José Roberto Guido Ferreira, diz que a situação do professor do Estado é ainda pior do que na rede privada. “Estamos vivendo mais um capítulo da desvalorização do professor. O governo insiste em manter metade da categoria em uma situação de contrato temporário e de redução de direitos. É uma categoria adoecida. Pesquisa da Apeoesp mostra aumento das patológicas psíquicas, como depressão e síndrome de Burnout, e patologias físicas como artrite, problemas na voz e na coluna. Na questão salarial o governo tem uma política baseada em bônus e não em salários, o professor que chega 10 minutos atrasado perde o seu dia e na carga horária muitos trabalham mais de oito horas por dia”.

Os professores preparam para sexta-feira (20/10) uma grande mobilização para fechar a semana do professor. Será realizada uma grande assembleia estadual na Praça da República, na Capital, com paralisação da categoria. “A principal luta será contra a redução que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quer fazer na verba da saúde, reduzindo de 30% do orçamento para 25%, e para isso vai ter até que mudar a Constituição do Estado”, explica Ferreira. Mas outras reivindicações fazem parte do movimento como as APDs (Atividades Pedagógicas Diversificadas) poderem ser realizadas em local de livre escolha, além do fim do assédio moral.

Para o representante da Apeoesp, o Dia dos Professores deste ano tem algumas pequenas coisas a serem comemoradas, como a retomada do diálogo pela educação e algumas vitórias sobre o governo. “Temos que comemorar a vitória da democracia e a retomada do diálogo pela Educação em nível nacional, depois de passarmos por um governo que desqualifica a cultura, a ciência e a tecnologia. Comemoramos a manutenção do Fundeb ( Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) e a vitória sobre a intenção do governador de substituir o livro didático por livros digitais de qualidade duvidosa”.

De outro lado o professor e membro da Apeoesp diz que há muitos mais motivos de preocupação do que de comemoração. “De outro lado lamentamos o Ensino Médio como uma educação pobre com currículo à la carte e ainda que o jovem de hoje não quer seguir a carreira do magistério. Os afastamentos por problemas de saúde aumentaram e o governo até reconhece, mas não trata a causa. As escolas são ambientes opressivos, com assédio moral e vistas de fora mais parecem presídios”, completa.

 

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