O movimento ocorre em algumas cidades do Brasil e do mundo. É ainda tímido no ABC quanto a ações concretas, mas a demanda existe e está começando a crescer segundo o professor Enrique Stachower, pesquisador e coordenador no Curso Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA).
Estamos falando da pedestrianização, que em bom português significa devolver o acesso dos pedestres às ruas. Stachower explica que o conceito é fazer com que as pessoas se apropriem da rua com tranquilidade e segurança e possam descansar nas ilhas de convívio enquanto fazem as compras.
Ele observa que a presença de pedestres é vital para a boa dinâmica das cidades, e associa benefícios que começam, por exemplo, pelo impacto no comércio impulsionando a economia local e revitalização das ruas e dos bairros, além de contribuir para a redução da poluição do ar e do ruído dos carros.
Stachower fala de desafios nesse caminho, uma vez que as cidades nasceram em função da indústria automobilística e parecem ter sido construídas para carros. “Basta um olhar para as calçadas com rampas para as garagens e inclinações intransponíveis para pessoas com deficiência ou mesmo, para as mães com carrinhos de bebê e idosos. As calçadas de uma cidade são o primeiro elemento da urbanidade, devem ser espaçosas e acomodar confortavelmente cadeirantes e qualquer tipo de pedestre”, destaca.
Ele enfatiza ainda a necessidade de políticas públicas restritivas à oferta de ruas exclusivamente para o trânsito, como indispensáveis a reestruturação das cidades. O arquiteto aponta a Avenida Paulista, na capital do Estado, com a abertura aos domingos exclusivamente às famílias, ciclistas e adeptos da prática de atividades físicas, como exemplo de um bom começo para as cidades do ABC. “É preciso tirar o carro e abrir espaço para gente,”, diz.
O arquiteto é autor de um projeto de intervenção urbana desenvolvido pelo Escritório Modelo do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário FSA em parceria com a prefeitura do município, proposto para a Rua Carijós, em Santo André, local em que há interseções complexas, falta espaço para pedestres nas calçadas, não oferece travessia segura e tem pouca conexão com a praça central.
A proposta apresentada lançou mão de conceitos como várias extensões de calçada, pinturas lúdicas, mobiliário urbano, incremento da travessia de pedestres, remoção de faixas de rolamento e de sentidos de fluxo. Apesar de ter sido premiado entre os três primeiros colocados no concurso nacional promovido pela WRI instituição global de pesquisa com atuação em mais de 50 países o projeto ainda não foi implantado.
Em algumas cidades pelo mundo, a proposta de devolver o espaço aos pedestres mostra resultado. É o caso de Nova York, onde avenidas como a Times Square passaram pela pedestrianização, com cerca de 400 mil pessoas transitando diariamente desde que passou a ter mais espaço para andar. A via é constantemente fechada para eventos e tem um piso especial.
No Brasil , Recife escolheu uma de suas ruas mais famosas para a pedestrianização: a Rua do Bom Jesus. Para o sucesso do projeto, serão adotadas medidas como a melhora na iluminação e reforços na segurança pública, a fim de atrair empreendimentos.