Em maio, a Cia. do Despejo estreia o espetáculo de teatro-dança “IRETI”. A obra é uma crítica à necropolítica brasileira e às violências sofridas pelas mulheres negras em nosso país. As sessões acontecem nos dias 17 de maio, às 19h30, no Teatro Municipal de Mauá; 31 de maio, às 19h30, no Teatro Elis Regina, em São Bernardo; e 15 de junho, às 19h30, no Teatro Carlos Gomes, em Santo André.
A montagem, que tem dramaturgia de Ingrid Alecrim, direção de cena de Carmem Soares, direção de movimento de Carol Ewaci e direção musical de Helena Menezes, é inspirada na mitologia Iorubá, sobretudo na figura de Nanã Buruku, orixá que cedeu a lama do seu domínio para a criação dos corpos humanos. Ela também é responsável pela desencarnação, uma vez que exige de volta a matéria criadora da vida.
Sobre a história
“O texto surgiu da ideia persistente de que o Brasil (conforme nominado após a colonização) foi parido e aleitado por mulheres indígenas, africanas e afrodescendentes. “Nosso ‘mundo’ foi e é moldado através das mãos dessas mulheres e, muitas vezes, contra suas vontades”, revela a dramaturga Ingrid Alecrim.
A narrativa é conduzida por uma mãe preta e pobre, a personificação de Nanã Buruku. Ela ergueu o Brasil com os próprios braços, mas foi preterida pelo país e, agora, mergulhada em um contexto de miséria, violência, fome e terror, assiste a seus filhos serem mortos e presos e a suas filhas serem estupradas.
A matriarca furiosa reivindica seus direitos de criação, exige que a matéria humana retorne para si e procura alguma maneira de acabar com o mundo em desequilíbrio. A personagem é inserida em uma distopia, na qual as guerrilhas urbanas e rurais expandem uma guerra contra a governança brasileira. E, nesse contexto, ela reflete sobre o que precisa ser mudado se quisermos viver em um país mais justo e menos violento.
“Ela toma as rédeas da existência humana, se colocando como uma figura central da história do Brasil, e não aceita ser musa, escrava, empregada ou ladra. Ela deixa de ser protagonista de uma história silenciada e solitária e se assume como protagonista da nação. Com essa história, a Cia do Despejo, da qual sou cofundadora, valoriza as narrativas das mulheres brasileiras ao dar voz às verdades desagradáveis, às culturas afrodiaspóricas depreciadas e à configuração de uma realidade apocalíptica convergente com os acontecimentos atuais”, comenta a autora.
Além de denunciar vários tipos de atrocidades cometidas contra a população negra desde a colonização, a peça tem a proposta de valorizar as ancestralidades.
“A todo momento são reavivados saberes e costumes ancestrais que chegam a nós através da afrodiáspora e das culturas orais indígenas. Ritos de cura e presenças míticas permeiam a narrativa e seus acontecimentos. A mitologia Iorubá chegou ao Brasil por meio das pessoas escravizadas e sobrevive através de muita resistência, também inevitavelmente mesclada à cultura do colonizador”, acrescenta.
O figurino criado por Duda Viana funciona como uma segunda pele, obedecendo aos tons terrosos do cenário e fazendo uma alegoria das figuras a serem interpretadas.E as máscaras de Cleydson Catarina contribuem para a potência da encenação.
O texto de “IRETI” ficou em 4º lugar no edital de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos, realizado pelo CCSP – Centro Cultural São Paulo em 2019 e, em 2021, foi exibida uma versão no formado de videoarte online pelo canal da Cia. Mungunzá de Teatro no YouTube. Com essa circulação, o espetáculo finalmente chega aos palcos no formato idealizado pela companhia desde o começo das pesquisas.
Essas apresentações do trabalho foram contempladas pelo edital Proac nº37/2023 de Cultura Negra, Urbana e Hip Hop, promovido pela Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.
Ficha Técnica
Direção de produção, dramaturgia e idealização: Ingrid Alecrim
Direção de cena: Carmem Soares
Direção de movimento: Carol Ewaci
Direção musical: Helena Menezes
Música e trilha sonora: Aline Machado
Interpretação (Nana e Iku): Thais Dias
Interpretação (Ori): Aryani Marciano
Interpretação (Ossain e Teorema): Miguel Estevão
Iluminação, cenário, cenotécnica e videomapping: Carolina Gracindo
Concepção de cenário: Carolina Gracindo e Lui Cobra
Montagem e operação de luz e vídeo: André Mutton e Carolina Gracindo
Figurino e costura: Duda Viana e Thais Dias
Confecção de Máscaras: Cleydson Catarina (Teorema, Ikú, Ossain, Nana, Ori) e Ingrid Alecrim (musicista)
Orientação de máscaras: Cleydson Catarina
Orientação de berimbau: Ana Flor de Carvalho
Orientação sobre teatro e orixalidades: Vitor da Trindade
IRETI, da Cia do Despejo
Duração: 90 minutos
Classificação: 16 anos
TEATRO MUNICIPAL DE MAUÁ
Data: 17 de maio, às 19h30
Endereço: Rua Gabriel Marques, 353 – Centro – Mauá
Ingresso: gratuito | Retirada na bilheteria 1 hora antes do início do espetáculo
TEATRO ELIS REGINA
Data: 31 de maio, às 19h30
Endereço: Av. João Firmino, 900 – Assunção – São Bernardo
Ingresso: gratuito | Retirada na bilheteria 1 hora antes do início do espetáculo
CINE THEATRO DE VARIEDADES CARLOS GOMES
Data: 15 de junho, às 19h30
Endereço: R. Sen. Flaquer, 110 – Centro – Santo André
Ingresso: gratuito | Retirada na bilheteria 1 hora antes do início do espetáculo
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Instagram: @ciadodespejo