No dia 7 e março acontece, na Capital, a primeira audiência de instrução e julgamento do caso que apura a morte do ambientalista Adolfo Souza Duarte, o Ferrugem. A vítima morreu na represa Billings quando conduzia um passeio de barco que fora contratado por quatro jovens. A morte aconteceu no dia 1° de agosto de 2022 e o corpo só foi encontrado cinco dias depois. Para a polícia, os quatro passageiros da embarcação estão envolvidos na morte e o Ministério Público os denunciou por homicídio qualificado.
A defesa de Vithório Alax Silva Santos, o acusado que teria entrado em luta com a vítima, segundo a polícia, quer demonstrar que não houve luta corporal no barco e gerar a dúvida se Ferrugem morreu por acidente ao cair do barco ou se foi mesmo assassinado.
O advogado André Nino, que representa Santos, disse que os laudos periciais mostraram que não houve luta corporal dentro da embarcação. O acusado chegou a ir à delegacia, logo após a morte de Ferrugem, mancando. Segundo o defensor, o ferimento no tornozelo não foi resultado de luta corporal com Ferrugem, mas com outras pessoas. “Quando os quatro conseguiram retornar com o barco e chegaram à margem da represa sem a vítima, algumas pessoas amigas do Ferrugem chegaram a agredir o grupo, esse ferimento aconteceu fora do barco”, explicou. Além de Santos, estão presos Mauricius Silva, Mikaelly da Silva Santos e Katielle Souza Santos.
Nino diz que quer fazer uma defesa técnica baseada nas provas periciais, já que as únicas testemunhas do que ocorreu naquela noite são os próprios acusados presos. “Arrolei todos os peritos como testemunhas”, disse o advogado que combate especificamente o laudo que apontou como causa da morte asfixia mecânica. “A perita não aponta como é que chegou a essa conclusão, violando o artigo 473 do Código de Processo Civil que diz que ela tem que mostrar como chegou a essa conclusão, não pode ser uma opinião dela, então esse laudo é imprestável para atestar a asfixia mecânica. Se houve luta corporal, os laudos não apontam sinais de defesa, o que derruba a tese de agressão. O laudo também não mostra que a asfixia aconteceu por esganadura, os ferimentos que a vítima tinha não eram no pescoço e sim no peito e um galo na cabeça, que podem ter ocorrido quando caiu na água, tendo sido atingido pelo próprio barco”, analisa.
A investigação da Polícia Civil, na opinião de André Nino, foi “rasa”. “Já partiram do pressuposto de que os quatro cometeram homicídio e essa história de que Vithório matou o Ferrugem por ciúmes de Mikaela é balela. O Ministério Público se baseou em provas ilegais, tanto que na minha defesa preliminar eu argui abuso de autoridade pela delegada (Jakelline Barros) que ouviu um dos acusados, Mauricius, quando ele estava cansado, com fome, depois de um dia de reconstituição e sem a presença do seu advogado. Se fosse um assassinato a Mikaeli não teria caído também do barco. Também não havia sangue no interior da embarcação e o exame pericial nos diz que não houve luta, por isso insisto que não houve crime e a prisão dos quatro é absolutamente injusta, uma vez que eles colaboraram com a justiça desde o começo” diz o advogado.
O crime aconteceu na margem da represa Billings no lado da Capital e é investigado pelo 101° Distrito Policial (Jardim das Imbuias). Os quatro jovens estão presos desde 24 de agosto. Ferrugem conhecia a represa como ninguém, além de barqueiro e ambientalista e era bem conhecido na Capital e no ABC, tendo, inclusive, realizado expedições com entidades de proteção ambiental para pesquisa. Ferrugem também atuava na ONG Meninos da Billings, onde dava aulas de caiaque e de meio ambiente para jovens das comunidades carentes que margeiam a represa.