Movida pelo sentimento de Justiça, Vera Lúcia Chagas Conceição, de 60 anos, vai ao fórum de Santo André, pela quarta vez, nesta segunda-feira (21/11), para o júri da neta Anaflavia Meneses Gonçalves, acusada, com outras quatro pessoas, da morte dos pais Romuyuki Veras Gonçalves, de 43 anos, Flaviana Martins Meneses Gonçalves, de 40, e próprio irmão, Juan Victor Gonçalves, de 15. Vera não espera nada além da pena máxima para a neta que ajudou a criar. Vera é uma das testemunhas de acusação e discorda da tese da defesa de que Anaflavia tem problemas mentais.
Anaflavia, segundo as investigações e a denúncia do Ministério Público, agiu juntamente com a sua companheira na época, Carina Ramos de Abreu e as duas tiveram ajuda dos primos de Carina, Juliano de Oliveira Ramos Júnior e Jonathan Fagundes Ramos e do amigo deles, Guilherme Ramos da Silva. Os cinco são acusados de homicídio triplamente qualificado, roubo e ocultação de cadáver. O crime aconteceu no dia 27 de janeiro de 2020, na casa da família em um condomínio de Santo André. Os corpos foram encontrados no dia seguinte, carbonizados dentro do Jeep Compass da família, na estrada do Montanhão, em São Bernardo.
Sobre o laudo psiquiátrico pedido pelo advogado de Anaflavia, Leonardo José Gomes, a avó diz que é apenas uma estratégia da defesa para ganhar tempo. “A Anaflavia não tem nada, eu a criei, se ela tivesse algum problema de cabeça eu já teria visto lá atrás. Minha filha era enfermeira e muito atenta, também teria percebido”, diz Vera. O pedido do advogado foi aceito pelo juiz Lucas Tambor Bueno, da Vara do Júri de Santo André, porém ainda não foi realizado e essa situação pode levar a um novo adiamento do julgamento, que já foi remarcado três vezes, todas por pedidos dos advogados de defesa.
Para o advogado Epaminondas Gomes de Farias, contratado pela família das vítimas para acompanhar o júri e que é assistente de acusação, o juiz tem atendido aos pedidos da defesa para evitar qualquer tipo de arguição de nulidade do processo. Vera diz que o processo tem provas do planejamento do crime e isso provaria que a neta estava ciente do que fazia. “Ela foi esperta para planejar e cometer o crime, passaram um fim de ano todos juntos planejando, tem mensagens de celular que provam que elas fizeram orçamento para trocar o piso, pois elas queriam ficar com a casa. Para tudo isso ela não estava doida”, diz Vera.
Para Vera, não há mais o que esperar. “Eu estou preparada, física, psicologicamente e espiritualmente para o julgamento, quero ficar cara a cara com todos eles, principalmente com a Anaflavia. A cada vez que marcam o julgamento eu me preparo 15 dias antes. Só eu sei o que sinto. Nesses dois anos e 10 meses eu vivo um dia após o outro, é uma tristeza e uma angústia que não têm tamanho, nunca mais tive um sono tranquilo, nunca mais tive alegria ou paz, eu vivo para a Justiça funcionar. Se pensam que adiando eu vou parar, estão enganados, quanto mais o tempo passa, mais força eu tenho e não vou desistir. Deus é que me dá forças para continuar”, diz.
Vera trabalha como artesã e diz que, além da militância em busca da Justiça para o caso, o trabalho é outro bálsamo que a mantém ativa. Além do trabalho, cuida do marido com princípio de Alzheimer. “O trabalho é meu remédio, com ele espaireço um pouco. Mas logo depois tudo volta à tona e vem uma dor que me corrói”, diz. Como nas outras vezes em que foi ao fórum para julgamento, Vera diz que, se a sessão de julgamento for cancelada, irá protestar. “Vou virar uma leoa, ninguém me segura, somente depois de condenar os cinco é que Deus pode me levar”, completa.