Com produto mais barato, Piccadilly ensaia retomada

Depois de ver o faturamento despencar em 2020, de fechar uma de suas plantas no Rio Grande do Sul e demitir centenas de funcionários, a calçadista Piccadilly decidiu apostar na melhora da produtividade, com aumento da automação da fábrica, e em produtos mais relacionados à nova realidade do consumidor para se recuperar. Em tempos de covid-19, com mais gente em home office, saiu o salto fino e entrou um sapato mais casual, com preço mais competitivo.

“Entendemos que havia uma mudança significativa no comportamento do consumidor e decidimos criar produtos para esse momento. O mercado respondeu muito rápido”, disse a presidente da empresa, Cristine Camila Grings Nogueira.

Newsletter RD

Das dez linhas mais vendidas pela Piccadilly, cinco são da coleção atual. Naquele momento de lançamento da coleção, as vendas subiram 525%.

Segundo a executiva, o diferencial foi combinar calçados mais confortáveis com preços atraentes. Para chegar a essa equação sem comprometer a qualidade do produto, a solução foi trazer os calçados para o meio e a base da pirâmide. Cristine explica que o desafio era como agregar valor sem agregar custo, uma vez que os insumos estão em alta e a renda do consumidor, em queda.

“De qualquer forma, a resposta foi positiva. Hoje, em termos de faturamento, estamos nos aproximando dos níveis de 2019, antes da pandemia.” A expectativa é que a empresa, que tem 7 mil pontos de vendas no Brasil e no exterior, feche o ano com crescimento de 35% em relação a 2020 e receitas de R$ 275 milhões. Desse montante, R$ 175 milhões referente ao segundo semestre.

RESTRIÇÕES. O setor calçadista sofreu bastante em 2020 com as restrições de circulação das pessoas nas cidades, fechamento do comércio e trabalho remoto. A produção de calçados caiu 18,4% no ano passado, retornando a patamares de 15 anos atrás. As exportações tiveram o pior resultado em quase quatro décadas.

Nesse cenário, diz Cristine, foi necessário rever várias estratégias comerciais e operacionais. Na avaliação do sócio-diretor da Gouvêa Consulting, Jean Paul Rebetez, a pandemia fez as empresas se reinventarem e focarem na eficiência operacional. “Tudo isso para preservar o caixa que ainda restava.” Segundo ele, praticamente tudo precisou ser revisto, seja porque a população empobreceu seja porque o mercado exigiu mudanças rápidas, como a digitalização. “As empresas tiveram de correr atrás (para se manter de pé).”

No caso da Piccadilly, Cristine diz que a recuperação só veio com um conjunto de medidas. Uma delas foi a adoção de uma gestão mais focada em indicadores para tornar a companhia mais eficiente. Ao mesmo tempo a Piccadilly tem trabalhado com programas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para a criação de novos produtos de forma mais econômica e diferente. A digitalização também foi fortalecida na empresa. A executiva diz que, desde 2019, a transformação digital virou um tema estratégico e permanente nos objetivos da empresa.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes