
O secretário de Habitação de Diadema, Ronaldo Lacerda, disse que a ocupação de um terreno na avenida Afonso Monteiro da Cruz, no bairro Serraria, foi uma surpresa, pois o município negociava com os movimentos de luta por moradia medidas para manter as famílias em maior vulnerabilidade social. O terreno ocupado pelo MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) no sábado (14/08) já era objeto de negociação entre uma associação de moradores e o proprietário e as famílias desta entidade, que já pagam pela moradia, não gostaram de ver o imóvel ocupado. No outro lado o MLB sustenta que não quer choque, ao contrário, que a luta pela habitação é uma só.
“A prefeitura de Diadema vem tratando todos os movimentos de habitação de forma igualitária. Em uma reunião há uns 15 dias, com todos os movimentos de habitação, foi colocado até a possibilidade de cotas para ajudar as famílias no pagamento do aluguel, pois a prefeitura não tem verba, estamos trabalhando com o orçamento desenhado pela administração passada. Os movimentos saíram daquela reunião tranquilizados, por isso que a invasão nos surpreendeu e ainda em um terreno que já estava em processo avançado de entendimento”, relatou Lacerda. O secretário disse que os moradores da associação ameaçaram ir até o terreno e entrar em conflito com os ocupantes da área. “Estamos trabalhando para evitar esse conflito de família com família e procurando construir alternativas. O proprietário nos procurou e foi até bastante duro com a gente, porque ele pode perder a negociação com a associação”.
Segundo Victória Magalhães, uma das lideranças da ocupação denoninada Devanir José de Carvalho, as 150 famílias permanecem na área abrigados sob lonas e as poucas estruturas remanescentes do galpão industrial foram transformadas em creche e em uma cozinha comunitária. “O MLB tem uma equipe técnica que fez uma análise dessas estruturas e conferiu que não há riscos”, explica.
O imóvel conta com uma grande dívida de impostos com a prefeitura e estava abandonado há mais de 20 anos. O MLB só não sabia da negociação com a associação. “O secretário de Habitação da prefeitura (Ronaldo Lacerda) esteve aqui no sábado e também já tivemos diversas reuniões com a prefeitura negociando para as nossas famílias e também por aquelas famílias da associação que já estão pagando o financiamento da sua casa própria. Ontem (terça-feira, 17/08) tivemos uma reunião com apoiadores do movimento que são vereadores, deputados e representantes de entidades que vão nos ajudar nessa negociação”, disse Victória.
Essa é a nona ocupação feita pelo MLB em Diadema, segundo Victória, e o movimento já conquistou uma área em 2012 para um empreendimento habitacional que, no entanto, ainda não saiu do papel. A área foi adquirida pelo movimento, mas sobre ela existe um estacionamento e o MLB pede a reintegração de posse dessa área. O terreno conquistado pelo movimento fica na rua Apóstolo Preto, e a justiça já deu a posse para a prefeitura, porém o município ainda tem que pagar pela área. “Na gestão Mário Reali (PT), já foi feito o pagamento de uma parcela, depois foram oito anos de outra gestão e o negócio não avançou, restam R$ 5,5 milhões para pagar e a prefeitura não tem dinheiro”, completa o secretário.
No caso do terreno da avenida Afonso Monteiro da Cruz, as 150 não pretendem deixar a área enquanto não tiverem outro local para moradia. “Essas famílias não têm para onde voltar, elas não têm como pagar aluguel e têm dificuldades até com a alimentação”, diz Victória Magalhães. A ocupação se mantém através de doações que garantem as três refeições diárias e o atendimento às crianças. “Temos recebido muitas doações, mesmo assim sempre precisamos de alimentos, máscaras, álcool gel e sacos para lixo”, comentou a liderança do movimento.