ABC - sexta-feira , 17 de maio de 2024

Com 7 medalhas paralímpicas, Phelipe Rodrigues buscará inédito ouro em Tóquio

Phelipe Rodrigues é um dos nadadores mais experientes que representará o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, que acontecem entre 24 de agosto e 5 de setembro. Prestes a disputar a quarta edição do evento, o atleta de 30 anos espera agora faturar a primeira medalha de ouro. Dos Jogos de Pequim-2008 até o Rio-2016 foram cinco pratas e dois bronzes.

“Estou no meu melhor momento de treinamento. Se vier a douradinha agora vai ser sensacional. Estou preparado e confiante para isso”, disse ao Estadão. No início do mês, ele participou da seletiva para Tóquio e conseguiu índice para disputar os 50m e 100m livre na classe S10 (para atletas com deficiências mínimas).

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A principal esperança para ele está nos 50m, sua prova favorita. “É a mais nobre da natação. Saí da água feliz ao conseguir o índice. Foi um ano bastante conturbado para o esporte, de muita indefinição. Mas a partir de agora acredito que o foco vai ser apenas a concentração para Tóquio.”

Em 2019, no último ano de disputas antes da pandemia, Phelipe conquistou a prata no Mundial de Londres e o ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, ambas nos 50m livre. Da capital peruana, retornou como o brasileiro mais vitorioso do evento. Foram oito medalhas no total – sete ouros e um bronze.

A participação na competição continental, no entanto, por pouco não foi vetada. Um mês antes da disputa, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) fez uma reclassificação de todos os atletas. No esporte paralímpico, a cada ciclo, os competidores são reavaliados para definir o grau de deficiência.

O IPC alterou os critérios de classificação e surpreendeu a todos com uma nova avaliação em 2019, no meio do ciclo paralímpico. Phelipe foi considerado inicialmente inelegível. Como sua classe é de uma deficiência mínima, não havia o que fazer e não ser tirá-lo do paradesporto. O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) fez um protesto, pedindo nova avaliação e só assim ele voltou para a categoria. Outro nadador brasileiro, Andre Brasil, não teve a mesma sorte e ficou fora do Parapan e também não irá a Tóquio.

Phelipe nasceu com o pé direito virado para trás, quase um Curupira, e passou por cirurgia na infância. No período de recuperação, sofreu uma infecção que deixou o lado direito menor do que o esquerdo. Ele calça 40 no pé esquerdo e 35 no direito. Há também uma grande diferença entre uma panturrilha e outra, o que compromete sua força e equilíbrio.

A dificuldade nunca o impediu de praticar esportes. Mas a competição a sério começou somente em 2008. Phelipe é natural de Pernambuco e com 12 anos se mudou para João Pessoa, na Paraíba. Foi lá que um amigo da família sugeriu que o garoto tentasse a disputa paralímpica. Ele gostou da ideia, começou a treinar e, no mesmo ano, já viajou com a delegação brasileira para os Jogos de Pequim. Voltou com duas pratas, nos 50m e 100m livre.

Nos Jogos de Londres, em 2012, ele foi prata nos 100m e voltou decepcionado com o quarto lugar nos 50m. O tropeço contribuiu para a mudança para São Paulo em 2014. Mais próximo da seleção brasileira de natação e com a estrutura do Centro de Treinamento do CPB, evoluiu. No Rio-2016, foram quatro medalhas, duas pratas (50m e revezamento 4x100m livre) e dois bronzes (100m livre e revezamento 4x100m medley).

PANDEMIA – Phelipe estava pronto para disputar a seletiva para Tóquio em março do ano passado quando começou a pandemia. “Foi muito difícil no início. Vinha de uma sequência muito boa. A gente chegou na Itália para competir, quando soubemos do cancelamento. Tinha esperança que a competição iria acontecer ainda nos próximos dias, mas depois só piorou.”

O retorno ao Brasil foi difícil. O CT fechou e Phelipe passou quase três meses em casa, totalmente isolado, e precisou de apoio psicológico. Nesse período, ele faz questão também de agradecer aos patrocinadores que mantiveram o apoio em 2020, mesmo sem competições. Além de ser contemplado nos programas do governo federal e estadual com o Bolsa Pódio e Time São Paulo, respectivamente, ele também conta com patrocínio desde 2018 da Espaçolaser.

Vacinado com as duas doses da Pfizer oferecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), a expectativa agora é embarcar para Tóquio em 5 de agosto. A delegação brasileira terá um período de aclimatação de 15 dias na cidade de Hamamatsu. Os Jogos Paralímpicos de Tóquio.

“Daqui para Tóquio vou estar na minha melhor forma. Nunca treinei tão bem quanto hoje. Quando conquistei a vaga na seletiva fiquei meio assim porque vai que cancelam os Jogos de novo. Mas depois quando retomei me deu um sentimento de confiança e de vontade de treinar para dar o meu melhor em Tóquio. Com o tempo da seletiva, ficaria fora do pódio do Rio-2016. Preciso evoluir ainda. Dar o meu melhor para ir atrás da douradinha.”

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