A manhã desta quinta-feira (23) foi agitada no Polo Petroquímico do ABC. O Cofip, Comitê de Fomento Industrial do Polo do ABC, realizou um grande simulado de emergência, que envolveu as 13 empresas associadas – Air Liquide, AkzoNobel, Aquapolo, Bandeirante Química, Braskem, Cabot, Chevron Oronite, Liquigás, Oxiteno, quantiQ, Supergasbras, Ultragaz e Vitopel -, além do Corpo de Bombeiros, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), prefeituras, Guarda Civil Metropolitana, Polícia Militar, SAMU e a Refinaria de Capuava (Recap), da Petrobras. A ação foi realizada na unidade Q3, da Braskem, o início da cadeia da produção petroquímica, a partir de um falso acidente com um dos tanques, o FB-26, onde ficam armazenados três milhões de litros de gasolina não tratada.
O acidente simulado consistiu no vazamento no combustível por falha no medidor de nível do tanque. A partir da situação criada, começou um incêndio que colocou em risco a segurança e a vida dos trabalhadores da unidade e das plantas vizinhas. Os alarmes foram disparados e os procedimentos de segurança entraram em ação, com acionamento das equipes do Corpo de Bombeiros, do SAMU e da Defesa Civil de Santo André, Mauá e Ribeirão Pires.
Ao mesmo tempo, cerca de 60 brigadistas e 20 viaturas, das empresas, chegaram imediatamente para combater o problema. Essas equipes atuam sempre em conjunto, numa espécie de auxílio mútuo dentro do Polo para liberação de recursos humanos e materiais em caso de emergência. Simultaneamente à ação, cerca de 2,5 mil funcionários das 13 empresas foram orientados a se dirigir para áreas de segurança. Já os aproximadamente 500 trabalhadores da Q3, ponto mais crítico, tiveram de deixar a fábrica e irem para o clube da Braskem, do outro lado da rua.
O resgate das três vítimas, que simulavam trabalhadores do Polo, foi realizado pelas equipes do SAMU. Enquanto isso, os bombeiros cuidavam de apagar e conter o incêndio com enormes cortinas de água para resfriar os tanques e extinguir o fogo. As vítimas representavam feridos em diferentes níveis de gravidade: intoxicação, fratura e um caso de queimadura, o mais crítico. Após os primeiros socorros, realizados no prédio de segurança industrial, as vítimas foram para o ambulatório.
Entender os riscos
De acordo com Dilermando Nogueira Jr., coordenador executivo do Cofip, esse tipo de simulado é necessário para validar os ensinamentos de segurança baseados nos treinamentos teóricos. A mobilização de órgãos públicos de segurança e socorro, além da presença de vítimas, diz, ajuda a aproximar a situação da realidade e preparar, ainda mais, os funcionários para o caso de acidentes. “Queremos entender os riscos e agir em cima deles para que esse perigo não se materialize em problema real”, acrescenta.
Luiz Antônio Pazim, diretor industrial da Braskem e presidente do Cofip, afirma que, apesar de todos os mecanismos internos de contenção de risco existentes no Polo Petroquímico, o simulado exercita um caso extremo, que oferece riscos tanto para os trabalhadores, quanto para quem mora nas redondezas do Polo. “Manter as pessoas treinadas é muito importante. Precisamos estar preparados para todos os cenários”, reforça o presidente do Cofip ABC. Durante o simulado, o trânsito foi interditado no trecho da avenida Presidente Costa e Silva, próximo à Braskem.
Moradores acompanham de perto
Alguns representantes do Conselho Comunitário Consultivo (CCC), que reúne moradores dos bairros vizinhos ao Polo – Sônia Maria, Ana Maria e Parque São Rafael -, também acompanharam a ação para entender os procedimentos em caso de acidente. Para Márcio Rotocosqui, morador do Parque São Rafael há 40 anos, a visita ao Polo e a participação do simulado serviram para desmistificar alguns medos em relação a situações de risco que podem acontecer nas indústrias.
“Muitas pessoas não sabem o que acontece no Polo e têm certo medo. Depois do simulado a sensação que eu tenho é que aqui é mais seguro do que lá fora”, afirma. Cristiane de Oliveira Dantas, no Parque há quatro anos, conta que a convivência harmônica com o Polo é muito importante e que entender o funcionamento é fundamental. “Mudou muito a minha visão. A gente escuta barulhos, sente medos, vê o fogo e se pergunta o que está acontecendo, então saber e entender tudo isso é tranquilizante”, diz.
Nogueira afirma que a presença da população e o constante contato com os moradores vizinhos são importantes para que o risco existente na indústria seja compreendido dentro da realidade. “Aproximamos o risco perceptível do risco real, não queremos nem ignorar e nem superestimar o problema”, reforça.