Pela primeira vez ao longo de anos, instituições de ensino superior do ABC não fecharam turmas na graduação de economia. É o caso da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), que este ano não conseguiu abrir turma. O desinteresse pelo curso preocupa o Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo), que representa as sete cidades da região. Para tentar reverter o quadro, o órgão dos economistas sai a campo para mostrar o potencial da profissão.
“Se não fizermos algo em curtíssimo prazo, o curso de Economia deixará de existir em determinadas instituições no ABC”, comenta José Carlos Garé, delegado regional do Corecon, que concedeu entrevista para o canal RDtv. Segundo o economista, também professor da USCS, o foco principal do conselho no momento é atrair novamente os jovens para as salas de aula.
Atualmente, cinco instituições oferecem o curso superior de Economia na região. Além da USCS; a Universidade Metodista e a UFABC (Universidade Federal do ABC), em São Bernardo, e a Strong ESAGS (Escola Superior de Administração e Gestão) e a Fundação Santo André, em território andreense. Há casos de classes que não chegam a 10 alunos.
Garé atribui a diminuição da demanda pelo curso à desinformação acerca do papel do economista. “Os alunos não têm uma percepção exata sobre as funções do profissional, ao contrário da atuação do médico ou do advogado, por exemplo. Sendo que, no mundo inteiro, você não liga a TV sem ver uma notícia de economia”, afirma.
Outro fator, no entanto, tem contribuído para intensificar o esvaziamento de salas no ABC: a abertura de estabelecimentos privados de ensino no eixo avenida Paulista-Metrô Jabaquara. “Os jovens que têm afinidade com economia e trabalham em São Paulo acabam ficando por lá para ganhar tempo, só voltam para a região após saírem da faculdade”, completa.
Para o professor, o fato de, na década de 1980, a duração do curso ter sido alterada para cinco anos, com a exigência de apresentação de monografia ao final, deu início à debandada. “Muitos jovens acabaram optando por administração ou contabilidade. Esse entrave passou, o curso voltou a durar quatro anos, mas os métodos quantitativos fazem com que ainda seja visto como difícil, só para quem tem aptidão com números. Não é assim, a economia não está associada apenas à matemática”, garante.
Por meio de estratégias que envolvem publicidade, marketing em redes sociais, materiais informativos e palestras, o Corecon quer provar que o campo de atuação do economista vai além dos negócios e essa pluralidade pode garantir uma boa remuneração. “Além do mercado financeiro, o profissional pode atuar com gestão de pessoas, empreendedorismo, governança ou consultoria, seja na indústria, no agronegócio, no comércio ou nos meios de comunicação e institutos de pesquisa”, diz.
Levantamento do conselho aponta que há 355 escolas de ensino médio na região, com universo de 24 mil alunos, e as estratégias para se aproximar dos estudantes estão em definição. O desafio é fazer chegar até este público a informação de que o economista não está voltado somente à construção de indicadores ou estatísticas, mas também à gestão, que tem campo promissor em empresas privadas, públicas e no terceiro setor. “O profissional precisa ter a capacidade de entender, explicar e traduzir ao grande público os impactos de medidas e crises econômicas e seus reflexos na sociedade. Exemplo é o caso Venezuela e seus vizinhos”, afirma.
Cenário local
À frente do Corecon desde janeiro, Garé diz a que a instituição tem buscado se aproximar de outros conselhos, associações comerciais e prefeituras para expor seu plano de trabalho, mas acredita que o órgão poderia ter um papel mais atuante nas discussões sobre a retomada do desenvolvimento regional. Afirma que o Corecon está num processo de aproximação das secretarias de governo, mas não dialoga com o poder público (isso inclui o Consórcio Intermunicipal) como poderia ou deveria. “Podemos integrar comissões consultivas para discutir os problemas econômicos de uma região que viveu e ainda vive um processo de desindustrialização e hoje é dominada pelo setor de serviços”, diz.
Faculdades não fecham turma em 2018
Gestor da Escola de Negócios da USCS, José Carlos Garé afirma que é a primeira vez, em 50 anos, que a universidade não consegue completar nova turma para o curso de economia. “Precisaríamos de pelo menos 25 para abrir nova classe, mas não deu”, diz. Para atrair alunos, a universidade investe na divulgação e também aposta nas últimas mudanças feitas nas graduações da Escola de Negócios, como redução de quatro para dois semestres o tempo de aplicação de matérias genéricas e mais espaço para conteúdo específico de economia para que o aluno saia mais especializado. “Além disso, alteramos o conteúdo programático, o objeto de estudo foi mais adaptado para o mercado”, diz.
Na Fundação Santo André (FSA), o curso de economia teve uma redução atípica na quantidade de alunos em 2017 e em 2018 não formou novas turmas. “O que atribuímos à crise econômica do País, visto que o nosso curso tem longa tradição e qualidade reconhecida no mercado, por isso estamos estudando um realinhamento das mensalidades para adequação à realidade brasileira”, diz o professor Rodrigo Cutri, pró-reitor de Graduação da FSA.
A Universidade Metodista, em São Bernardo, está um pouco mais tranquila. Em 2017, matriculou 50 estudantes no curso de economia para 2018 e agora em julho, no primeiro processo seletivo de inverno feito pela instituição, conseguiu candidatos. “Ainda não encerramos o processo, a procura foi baixa, mas nos surpreendeu”, diz a professora Silvia Okabayashi, coordenadora do Curso de Ciências Econômicas da Metodista, que atribui a procura ao trabalho desenvolvido pelo Observatório Econômico, ao currículo com foco na inovação tecnológica e às opções de trabalho final.