São necessários oito anos de formação teórica para se tornar padre, entre acompanhamentos, seminários, aulas de filosofia e teologia. De acordo com o bispo diocesano Dom Pedro Carlos Cipollini, com rotina regrada, a cada ano, o número dos que desejam ser ordenados cresce. No ABC, 162 padres diocesanos e outros 64 padres religiosos (missionários) atendem 46,8% dos 2,7 milhões de habitantes que se declaram católicos. Outros 37 estudantes estão em processo de formação.
Embora a procura seja grande, a média dos que concluem os estudos varia de 40% a 60% – muitos desistem pelo caminho. Em cada história, os seminaristas demonstram amor pela igreja e religião, fator determinante para a escolha da vocação sacerdotal. Parte dos que estão no propedêutico (curso introdutório) conta ainda que a vocação foi descoberta cedo, entre infância e adolescência.
Para os que optam pela profissão, o dia começa cedo. Acordam logo nas primeiras horas da manhã e realizam diversas tarefas diárias entre ir à faculdade, participar de missas, avaliações psicológicas e estudos acompanhados de equipe coordenada que avalia a rotina de cada jovem.
Aos 32 anos, o diácono em preparação para ordenação, Vinícius Ferreira Afonso, nascido em Santo André, até então tradutor e intérprete, desde pequeno tinha gosto por orações e admiração pelo ministério sacerdotal, tanto que uma de suas brincadeiras favoritas era a missa. Com o tempo, a atração pela vida profissional cresceu, e enquanto estava na faculdade surgiu inquietude para realizar o sonho e atender a vocação.
Após dois anos de discernimento pessoal, com ajuda de sacerdotes, chegou à conclusão de que o sentido para a vida estava em fazer dela um dom e foi então que Vinícius optou pelo discernimento vocacional na Diocese de Santo André, onde se comprometeu de maneira definitiva.
Durante anos de preparação, o devoto de Santo Antônio, passou por mais de oito pastorais e conta que em cada local, aprendeu uma lição diferente. “A peregrinação mostrou um rosto completamente variado de nossa Diocese. A experiência pastoral em tantos locais diferentes dá-nos capacidade para aplicar em cada realidade uma metodologia pastoral diferente”, conta.
Mesmo ligados à igreja, o diácono conta que a família hesitou quando optou pela profissão. “Quando os primeiros momentos de incerteza passaram, compreenderam e acolheram muito bem a opção de vida, porque concluíram que um operário da Vinha divina é um ganho”, diz.
Vocação
Nascido em São Bernardo, Rudnei Sertorio, 36 anos, foi batizado na igreja católica aos onze meses. Na infância, se recorda de aprender as orações em casa, ir à missa aos domingos e fazer catequese. “Alguns grupos de rua rezavam o terço e as novenas na casa de meus pais, e eu participei de muitas ocasiões, mas confesso que em outras fugia”, afirma.
Sertorio nunca pensou em seguir carreira de padre. Foi aos 21 anos em um tempo de discernimento, e junto a um pároco (responsável por administrar paróquia), que tomou consciência da vocação. “Tive muitas dúvidas, mas foram as crises que me ajudaram a separar aquilo que convém e o que devia deixar de lado”, conta.
Ingressou, então, no seminário em 2010, junto a outros sete estudantes, mas somente cinco seguiram caminhada de ordenação. Sertorio serviu seis paróquias desde 2011 e atualmente está como diácono na Santa Luzia, Virgem e Mártir, em São Bernardo.
“Quando o jovem encontra em Cristo um sentido para a vida, ele conhece Jesus, e descobre a missão de ajudar, o próximo, ter caridade e construir um mundo fraterno. Quando toca o coração, ele encontra o sentido de sua vida”, acrescenta o bispo Cipollini, ao dizer que para se tornar padre, os requisitos essenciais são a vontade, dedicação e fé.
A ordenação de Afonso e Sertorio, junto a outros três formandos, ocorre neste sábado (4), às 9h, na Paróquia Santo Antônio, na Vila Alpina, em Santo André.
Fiéis
Desde 2014, o Brasil tem sofrido grande perda de força no catolicismo. Estima-se que nove milhões de brasileiros tenham deixado a religião, após o papa Francisco ter sido nomeado. No mesmo período, o número de cristãos evangélicos aumentou em 29%, além de forte transição de fiéis a outras crenças.
Especificamente no ABC, Cipollini explica que nas igrejas da região, “não há o que reclamar”, embora haja migração para outras religiões, as igrejas permanecem cheias. “Em cidades grandes, a mudança é bem maior do que aqui”, afirma.