Inconformados com o abandono e descaso do poder público com os teatros municipais do ABC, produtores culturais e artistas buscam alternativas para levarem cultura e lazer para a população. Isto porque os equipamentos que deveriam estar lotados, principalmente aos finais de semana, dão lugar a cadeiras vazias, paredes sem pintura, iluminação falha e banners cobertos com lonas por falta de programação, caso do Teatro Municipal de Santo André.
Indignada com a situação, a produtora cultural Sonia Varuzza, conta que embora seja um dos mais caros da região (R$ 1.500 por dia de locação), o teatro de Santo André não possui atrativos para que artistas se apresentem na casa. “Além da locação, temos de pagar artistas, som, iluminação e bilheteiro. Sem apoio ou investimento no espaço, fica difícil fazer grandes espetáculos e colocar 200 pessoas dentro”.
Apesar de nomes icônicos, como Antônio Fagundes, Elza Soares e Antonio Petrin, já terem passado pelo teatro, a estrutura segue sem manutenção desde 2013. “Tratam a cultura com descaso, não tem conservação e as apresentações são muito pontuais, até estacionamento é pago, não tem como vir com a família, fica caro”, reclama a estudante Fernanda Lima.
Já o produtor cultural Anderson Lima reclama que, além da má conservação, outro fator que impede as produções são os ingressos de cortesia. “Muitas vezes temos de pagar mais de R$ 20 mil só para fazer a iluminação e o som dos teatros, que estão precários. Além disso, perdemos dinheiro com os ingressos de cortesia que temos de dar em troca da apresentação”, diz.
As reclamações transcendem e chegam ao Teatro Municipal de Mauá, fechado há quase três anos para reforma, mas que deveria ter sido entregue em 2016. “Nos primeiros anos parecia um teatro, mas depois ficou largado, mal cuidado. A estrutura poderia ser repensada não só do lado interno, mas até o estacionamento que não tem organização e segurança”, diz a mauaense Ana Neri Curcio.
Às moscas
A reclamação no Teatro Elis Regina, em São Bernardo, vai além. Lacrado desde o início do ano por problemas estruturais de deterioração e sem certificado de segurança, os são-bernardenses buscam programação na Capital paulista, caso de Valdemar Filho Nitsch. “Os espaços de cultura em São Bernardo estão sucateados, a saída é ir para São Paulo”, ressalta.
No Euclides Menato, em Ribeirão Pires, o espaço de 200 lugares é tomado pelo abandono. Atualmente, o local recebe apenas eventos escolares, oficinas de dança e escola de música, que utiliza o
espaço para ensaios. Além disso, a obra inacabada do teleférico, prometido na gestão anterior ao município, interfere no acesso de visitantes.
Enquanto isso, músicos independentes se apresentam nas ruas e ganham atenção e aplausos do público. Quem passa pela rua Cel. Oliveira Lima, em Santo André, pode apreciar o som do violonista Alexandre Canales, que atua na rua há pouco mais de um ano. “Em São Paulo há um nicho pra quem quer seguir no ramo de arte e cultura, já aqui na região, falta esse incentivo”, relata.
Prefeitura responde
A Prefeitura de Santo André informou por meio de nota que desenvolve programação contínua, e em 2017 até a presente data foram realizados 46 espetáculos e 13 de outra natureza (seminários, reuniões etc). Quanto ao investimento no setor, a Prefeitura informou que a manutenção depende de recursos e para este ano, devido à contenção orçamentária, os recursos serão destinados apenas para manutenção básica e serviços emergenciais. As demais prefeituras não prestaram esclarecimentos até o fechamento da edição.
Sesc resgata a cultura
Na contramão, o Sesc Santo André investe ao trazer referências externas e valorizar artistas da região com apresentações a preços populares. “Nossa política de ingresso é subsidiada, fazemos a preço popular e até gratuito com a meta de sermos extremamente acessíveis a todos os públicos”, explica o gerente da unidade, Jayme Paes.
Dentro da linguagem teatral, o Sesc possui serviço de mapeamento e pesquisa de público para captar propostas de companhias. “Entendemos a importância da valorização e produção, por isso analisamos todas as propostas recebidas ou detectadas em nossas pesquisas e acolhemos artistas e grupos para se apresentar”, diz o gerente do Sesc.
(Colaborou Amanda Lemos)