Levantamento realizado pela Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) aponta que o faturamento das indústrias de material de construção recuou 22,2% em fevereiro na comparação com igual mês de 2015. Na comparação com janeiro deste ano a redução foi de 5,9%. Proprietários de lojas de materiais de construção do ABC confirmam que as vendas caíram e há quem diga que o índice pode até ser maior.
O presidente da Abramat, Walter Cover, disse que o nível da queda é totalmente anormal e atribuiu o fenômeno à crise econômica reforçada pelas chuvas que caíram nos meses de janeiro e fevereiro. O alto índice de pluviosidade dificulta a continuidade de obras de construção e de reforma e influencia no faturamento.
Segundo Cover, o mercado é dividido meio a meio entre o varejo, formado por lojas de material de construção, e por grandes construtoras que constróem grandes obras como shoppings, condomínios e infraestrutura. “Toda família tem alguém desempregado e por isso as pessoas têm medo de gastar, além da dificuldade de se obter crédito. No caso das empresas o problema também é de confiança. A construtora que pretendia construir um shopping, um condomínio, prefere aguardar a melhora da situação e isso impacta na indústria”, afirma.
O presidente da Abramat, no entanto, acredita que o País já atingiu o fundo do poço e que daqui para frente a tendência é haver melhora. Em seu ponto de vista, a mudança nas regras para financiamento de imóvel usado, que possibilita financiar 70% do valor (antes era 50%) para o público em geral e 80% para funcionários públicos, é uma ajuda importante. “Além dessa medida é preciso reativar o Minha Casa, Minha Vida, que está quase parado e melhorar as condições de crédito para compra de imóvel novo e para reforma”, diz.
A perspectiva da entidade é de que o setor feche 2016 com queda no faturamento (já incluída a inflação) em torno de 4,5%. Este índice pode sofrer mudança conforme o desempenho do setor até o final de março. “Se a crise instalada for resolvida, rapidamente o mercado se recupera”, disse.
Depósitos confirmam retração
Sócio-proprietário do Depósito Matriz, em Santo Andé, Augusto Andrilino da Silva, afirma que em fevereiro a retração nas vendas foi de 10%, ou seja, maior do que o indicado no levantamento da Abramat. O empresário disse que começou a sentir o faturamento piorar de novembro para cá. “A gente fecha o caixa e vê uma diferença exorbitante”, diz.
De acordo com Silva, a comercialização de cimento e areia continua bem. A piora se deu em produtos como solvente, tintas e miudezas. Além de comerciante, Silva também presta serviços em obras, setor que ele disse não movimentar quase nada no momento. “Quando há reforma, o proprietário prefere fazer por conta própria para economizar. Com isso, não tenho recebido chamadas para serviços”.
Edson José Fidalgo Sarno, que é sócio no depósito Casa Assunção, disse não ter calculado percentualmente a queda, mas afirma ter vendido menos neste início de ano. A diferença é que em seu estabelecimento a venda de cimento e areia é que caiu mais. “Miudezas como sifão, torneiras ainda vendem bem porque existe a necessidade de manutenção”, comenta.
Tanto Silva quanto Sarno acreditam que a situação começe a melhorar deste mês para frente. Ambos atribuem ao desemprego e a falta de confiança a retração nas vendas. “Já tivemos crises bem piores”, disse Sarno, referindo-se à hiperinflação dos anos 1980.
Queda abrupta apresentou o Depósito ABC, de propriedade de Roberto Konichi. O lojista calcula em 30% a diminuição nas vendas. “Em fevereiro, então, que teve menos dias úteis por causa do Carnaval, a situação foi grave”, reclama. Konichi se mostra apreensivo com os desdobramentos da crise. “A indústria automotiva está mal e o ABC depende muito dela”, analisa.