Israel e o grupo Hamas estão em conflito desde o último sábado (07/10). Após cinco dias, a contagem de vítimas fatais chegou a 2,3 mil. O professor e gestor do curso de Relações Internacionais, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Vinícius Domingues Nunes, aponta que o confronto é mais um capítulo de uma história de quase um século e que para o especialista não tem um “fim” próximo, apesar de um cenário possível de cessar-fogo.
“É o mesmo conflito, mas com versões novas, com pequenos adendos”, é assim que Nunes resume o processo que vem se encaminhando desde o final da Primeira Guerra Mundial e que se intensificou após a Segunda Grande Guerra, principalmente com o histórico da região e das intervenções internacionais que culminaram na criação do Estado de Israel.
Desde então, a disputa por um território que é considerado sagrado para judeus e mulçumanos, além de católicos e cristãos, gerou uma série de conflitos. “A ideia de religião e política juntos traz um pouco de legitimidade. Você cria a noção de Estado, de sociedade, de nação e um pouco de religião também, depende de quão próxima a religião é de seu povo”, explicou.
Apesar das diversas tentativas de pacificação, inclusive com alguns acordos de paz assinados, pensamentos divergentes sobre o futuro daquele pedaço do Oriente Médio acabam impedindo que tais documentos sejam levados para um cenário real.
“Essa relação (tratado de paz) não é preto no branco. Não existe um lado que esteja 100% certo ou 100% errado na sua ideia, não nos seus atos. Temos que considerar o seguinte, Israel considera que ceder algo, ceder a Faixa de Gaza, um território que seja chamado de Palestina, isso seria abrir mão de sua soberania, de seu país, tal qual se abríssemos mão do Rio de Janeiro. Então para Israel é uma questão de soberania. É um pedaço do meu país, se eu ceder vai ser uma fraqueza para o resto do mundo”, iniciou.
“Para a questão palestina, é necessário ter um território independente, sem controle de entrada e saída de alimentos e produtos por parte de Israel. E eu falo pelos palestinos, não necessariamente pelo Hamas”, segue.
Sobre o Hamas, o professor vê que sua existência ocorre a partir de um cenário considerado “extremo” e que sua força acaba aumentando graças ao “patrocínio” de outros interessados. “O maior suspeito de incentivo ao Hamas é o Irã. O Irã nunca escondeu a vontade de eliminar a existência de Israel e dos Estados Unidos, sempre foi aberta essa postura do Irã”.
Consequências e ações
Nunes considera que uma das principais consequências para um futuro próximo é a possibilidade de aumento do valor do barril do petróleo, e por consequência a alta do preço de seus derivados. Um dos principais pontos que podem levar a esse processo é uma possível irritação dos países árabes em relação a participação indireta dos Estados Unidos nesse conflito.
Sobre a postura do Brasil, que resolveu adotar a diplomacia para tentar encerrar o conflito, o especialista aponta que a postura é “clássica” do País e que dificilmente o governo brasileiro adotaria uma postura bélica sobre o assunto. O que acaba criando uma dificuldade nas negociações é que na visão de outros países uma guerra é mais rápida e direta para resolver este problema.
Por fim, Vinicius Domingues Nunes considera que existe uma possibilidade de cessar-fogo, caso Israel considere que conseguiu destruir o Hamas e por consequência estabelecer uma paz. Porém, tal cenário não é considerado o fim deste conflito.