Os índices de violência contra a mulher no ABC continuam em crescimento, mas segundo a delegada Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, ainda há muitas mulheres que não se sentem seguras e protegidas para denunciar os companheiros, apesar das constantes agressões. Somente em janeiro deste ano, 38 mulheres registraram boletim de ocorrência contra maus-tratos no interior do Estado, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP).
A subnotificação, no entanto, é maior do que o número de casos denunciados, segundo a delegada. “Muitas mulheres tem medo do agressor, e com isso, deixam de denunciar as agressões”, explica. Segundo a delegada, especialmente no Dia da Mulher (8 de março), é importante lembrar que a violência contra as mulheres não é somente um ato físico. “A violência vai além da questão física. O menosprezo, a diminuição, infidelidade, falta de respeito e a violência também precisam ser observados”, enfatiza.
Para tentar encorajar as mulheres a saírem do ciclo de violência, as delegacias de defesa da mulher (DDM) desenvolvem trabalho de acompanhamento para as mulheres que precisam de medidas protetivas de urgência, onde elas saem do papel de vítima e passam a ser assistidas. Além disso, algumas delegacias fazem trabalho de acolhimento e reeducação de homens agressores, para reinserção na sociedade.
“Estes são alguns trabalhos dos tantos, que nós, mulheres, estamos herdando ao longo do tempo vivendo em sociedade. Cada vez mais estamos rompendo barreiras e herdando legados de outras mulheres que já lutaram pela igualdade, representatividade ou direitos mínimos”, enfatiza a delegada.
Em entrevista ao RDtv, Raquel lembra, ainda, que apesar da implementação de novos serviços e delegacias da mulher, falta pessoal para atuar na Polícia Civil. “Não adianta nada ter um acréscimo de novas delegacias se não implementarem o pessoal que nelas trabalham. Estamos com um déficit de 14 mil profissionais no Estado e somente na última gestão, tivemos redução de 196 policiais. Vivemos acúmulo de funções, com policiais em duas ou mais delegacias que precisam se revezar em plantões para atender a população”, relata.
O último concurso público na área aconteceu em 2017, e segundo a delegada, dos candidatos aprovados, nenhum foi chamado. “Temos candidatos aprovados há mais de três anos e nenhum deles foi chamado até o momento. É uma falta de respeito. Esperamos zerar esse déficit para que a população não seja ainda mais penalizada e os números de criminalidade não disparem cada vez mais”.