O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC teve na tarde desta quinta-feira (23/07) uma conversa com a diretoria da Construtora São José, que fechou com a Ford a compra da fábrica da montadora no bairro Taboão em São Bernardo. Segundo o presidente do sindicado, Wagner Santana, o Wagnão, o objetivo da conversa foi negociar o cumprimento de um acordo feito no ano passado, quando do fechamento da fábrica, de contratação de ao menos parte dos trabalhadores que perderam seus empregos.
Após a conversa, Wagnão relatou ao RDTv que a construtora São José mantém, ao menos por enquanto, seu plano de transformar a área em um centro de logística. “Temos essa preocupação quanto aqueles galpões, o que nos responderam é que ainda há dúvidas quanto a destinação disso, por conta da pandemia. A ideia deles é fazer um grande centro comercial com grandes lojas, mais a área de logística. Acreditamos que eles insistirão nessa questão da logística que pode ser tanto para a área industrial como para o comércio, para aquelas lojas que vendem pela internet”, relatou o sindicalista.
De acordo com a conversa a Construtora São José seria uma locadora dos espaços para outras empresas. “Nossa proposta é trazer essas empresas para o sindicato e discutir o aproveitamento dos trabalhadores que tem condições de mudar de área”, sugere Wagnão, que apesar disso admite a dificuldade de alocar o metalúrgico num setor de vendas. “A Ford tinha um setor de logística que pode ser aproveitado, mas um ferramenteiro dificilmente seria. Ainda está muito incipiente, mas queremos tratar dos comprometimentos, porém vai demorar ainda para concretizar a venda. Tem muita incerteza, essa foi mais uma reunião de aproximação do que de soluções”, explicou.
O fechamento da Ford concretizado no ano passado e deixou 1,8 mil trabalhadores sem emprego. O primeiro interessado na compra da fábrica foi o Grupo Caoa, que pretendia produzir caminhões naquela unidade sob a marca da Ford. Também especulou-se venda para uma fábrica chinesa de veículos pesados. Nenhuma das duas vingou. O governador João Doria (PSDB) se empenhou para intermediar a negociação rápida. A fábrica fechou as portas no dia 30 de outubro de 2019, mas somente oito meses depois, no dia 19 de junho deste ano, foi anunciada a venda do imóvel para a Construtora São José, uma gigante do ramo imobiliário, responsável por conjuntos residenciais luxuosos e grandes centros comerciais. No ABC ela ergueu do shopping São Bernardo Plaza.
Segundo Wagnão a maioria dos ex-funcionários da Ford continua desempregada. “Antes da pandemia a gente realizava plenárias presenciais, na última tivemos entre 700 a 800 trabalhadores que compareceram para discutir a situação deles. Na ocasião entre e 80% a 90% disseram que não conseguiram nenhuma outra atividade, com a pandemia acredito que continuam na mesma situação. Um ou outro deve ter conquistado algum emprego, mas a maioria ainda está fora do mercado de trabalho”, disse o presidente do sindicato.
Posse e desafios
O presidente reeleito do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, no Wagnão, também falou ao RDTv desta quarta-feira (23/07) sobre os desafios desta nova gestão frente a um dos mais importantes sindicatos do país. A posse, no dia 19/07, aconteceu em um evento online do qual participaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-prefeito e ex-ministro Luiz Marinho, além de outras lideranças políticas.
Para ele o desafio é manter o ABC competitivo. “Desafio é a vida, já estamos há alguns anos com economia em baixa e desemprego em alta, questão que só foi agravada pelo coronavírus. Nossa luta é para que o ABC para que continue sendo referência pelo potencial econômico que tem. O Governo Federal fez uma opção, defendendo que a economia não poderia parar, deixando claro que, mais importante que a vida, era a economia. O custo desta crise, vai recair sobre a classe trabalhadora. Outros países estão se protegendo, fecham fronteiras, investem dinheiro para enfrentamento. Os EUA já jogaram trilhões de dólares, emitiram dinheiro, o Brasil já precisaria crescer 5% para empregar os que estão sem trabalho, mas estamos falando de 7% a 8% de crescimento negativo do PIB (Produto Interno Bruto)”, analisa Wagner Santana.
O sindicalista chamou atenção para a dificuldade de acesso ao crédito sobretudo aquele mais barato ofertado pelo governo. “As empresas não estão tendo acesso ao crédito; 80% que procuraram não conseguiram, a sociedade é movida a consumo e crédito, se não tem as empresas não produzem, não geram riqueza e entramos num círculo vicioso que pode ser já para o próximo período, catastrófico com fechamento de empresas e perdas depostos de trabalho”, disse Wagnão que analisa que uma forma do ABC sair na frente na retomada da economia é a articulação dos governos locais. “Retomada do debate nacional ABC só sai bem se as sete cidades estiverem envolvidas e a proposição de medidas no âmbito federal. A Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC bem como o Consórcio sofreram um esvaziamento por decisão política dos atuais prefeitos, então nós nos distanciamos porque não se debatia e percebia a decisão de esvaziar. Vamos cobrar candidaturas comprometidas com a regionalidade que venham pessoas que tenham comprometimento de fazer a região avançar de forma coletiva. Agora, durante a campanha, vamos insistir nisso e também quando os vencedores assumirem em janeiro”.
Perdas
Segundo análise do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, somente na sua base, que compreende os municípios de Diadema, São Bernardo, Ribeirão Pires e Rio Grande, cerca de 2 mil trabalhadores perderam o emprego durante a pandemia, a maior parte no segmento de autopeças. “Esse é setor mais prejudicado, que está em crise porque o empresário não tem crédito para folha ou matéria prima. Aqui está a nossa maior preocupação; a capacidade delas de resistir à crise. Dos 64.600 que trabalhadores que temos hoje já perdemos 2 mil. “Estamos fazendo acordos que numa situação de normalidade não faríamos, acordo de redução de jornada. Outras medidas precisam ser tomadas em caráter regional e o governo do estado precisa investir, as empresas não vão aguentar um longo período”, finaliza Wagnão.