Os números do Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) referentes ao ano de 2018 demonstram que mais de 46,6% dos estudantes terminam o ensino médio com níveis considerados inadequados para a disciplina de matemática. Os números foram apresentados pelo secretário estadual de Educação, Rossieli Soares, e mostram também que em português, há uma estagnação no desempenho dos alunos desde 2015.
No ABC, os números das escolas estaduais não se distanciam muito da média paulista. Em matemática é nítido que no ensino fundamental, nas séries alvo da pesquisa, o desempenho dos alunos é quase sempre superior aos números do Estado, situação que não se mantém no ensino médio, em que os índices são ainda piores. No caso do terceiro ano do ensono médio, Diadema teve o pior desempenho da região. Mauá, Rio Grande e Rio Grande também ficaram abaixo da média. As melhores avaliações da região para a disciplina foram da diretoria de ensino de São Bernardo, que engloba São Caetano; enquanto o nível de proficiência no Estado ficou em 278,6 pontos. No terceiro ano do ensino médio, na diretoria regional o número chegou a 284,4.
Em resposta a Prefeitura de Diadema informa que o índice negativo não se refere às escolas municipais, já que só atende alunos até o quinto ano do fundamental. “Diadema interpreta como positivos os resultados da pesquisa em decorrência dos investimentos realizados nos últimos anos na educação do município. Esses investimentos se concentraram especialmente em capacitação constante dos professores e demais profissionais técnicos da rede; oferta de atividades extracurriculares no contraturno, por meio de programas, como Cidade na Escola e envolvimento dos pais nas atividades, como o conselho escolar. No último ano, Diadema também propôs a revisão curricular, amplamente discutida por todos os setores envolvidos, se destacou nas Olimpíadas de Matemática e participou do Projeto Garatéa (da Nasa). Ratificamos que nos referimos aos resultados ora apresentados do 3º EF e 5º EF, pois a educação municipal atende da creche ao 5º EF”.
Português está acima da média estadual
Em Português, as escolas estaduais da região estão bem acima da média do Estado em todas as séries. Apenas no terceiro ano do ensino médio, Diadema ficou com índice abaixo da média estadual, porém com diferença pequena, de 1,1 ponto de proficiência. A Diretoria de Ensino de São Bernardo/São Caetano também foi a que teve melhores índices – 285,7 no terceiro ano do médio.
Mais de um milhão de estudantes participaram das provas, que foram realizadas em outubro último. A maioria deles – 894.242 – está matriculada em escolas estaduais, 160.144 são alunos de escolas municipais e o restante faz parte de escolas particulares, do Sesi (Serviço Social da Indústria) e do Centro Paula Souza de ensino técnico.
Soares admitiu os resultados negativos em matemática e os atribui à falta de avanços. “A queda em matemática ocorreu porque não houve avanços na área. Precisamos ouvir a rede, cada diretoria de ensino vai falar com as escolas, porque temos também grandes resultados, mas muitas vezes as boas práticas estão ao nosso lado e não estamos vendo”, disse o secretário, indagado se a Pasta já tem diagnóstico sobre o desempenho ruim. “É um problema brasileiro, mas no Estado a situação é muito crítica”, admitiu.
Abstrato e administração do tempo
O professor Nonato de Assis Miranda, gestor do curso de Pedagogia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) concorda com Rossieli de que se trata de uma questão nacional. “Tivemos uma variação positiva em língua portuguesa, e também positiva, porém muito sutil, em matemática, mas o nível abaixo do básico é lamentável, isso significa dizer que o aluno não domina o mínimo de habilidades, mas isso é um problema nacional”, comenta Miranda, ao avaliar que a culpa não está na carga horária ou no currículo oficial. “O número de aulas é bom, mas o que notamos é que nos anos iniciais do ensino fundamental o professor fica mais dedicado aos alunos, conhece os problemas de cada um, pois fica cinco dias por semana dedicado a eles. Nos anos finais, do 5º ao 9º ano, o processo de sistematização torna o ensino mais complexo e abstrato, é quando o aluno começa a ter dificuldades. É nesse período que o aluno passa a ter mais que um professor, passa a ter necessidade de administrar o tempo. Aí quando ele chega no ensino médio com essa deficiência o problema fica maior e há um grande índice de evasão escolar porque o aluno não consegue mais acompanhar”, analisa.
Miranda diz que a saída seria uma valorização maior do professor e que, paralelo ao currículo oficial as aulas, fossem amparadas em métodos mais tecnológicos, que se aproximam mais da realidade do aluno. “Os docentes precisam repensar suas práticas, que muitas vezes não dialogam com os universo dos alunos”, resume.
Evolução lenta do ensino no estado