
A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou o reajuste tarifário médio de 13,94% de aumento nas tarifas para os consumidores atendidos pela Enel em São Paulo. O novo valor entrou em vigor nesta sexta-feira (04/07). Para os consumidores em alta tensão, que são as indústrias, shoppings e outras empresas de grande porte, o impacto será de 15,77%, já para os consumidores de baixa tensão, que são as residências e pequenos comércios, o reajuste será de 13,47%. Empresários de diferentes setores e economista ouvido pelo RD, apontam consequências graves para a economia e alta da inflação.
Para o economista e coordenador do curso de Ciências Econômicas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Volney Gouveia, mais esse aumento na tarifa, somado à bandeira vermelha nas contas, devem fazer com que os empresários pensem em alternativas, com a energia solar. “Aqueles setores que são muito dependentes da energia elétrica em seu processo produtivo vão sofrer mais as consequências do aumento de custo. Nesta época do ano, quando os reservatórios diminuem em de volume de água, as termoelétricas entram em ação e impõem um custo adicional no fornecimento de energia. É preciso buscar alternativas, como avaliar a implantação de energia solar, que, no longo prazo, pode reduzir a conta de luz em mais de 30%. Também é necessário gerenciar melhor o custo de energia, evitando desperdícios”, aponta.
Segundo Gouveia o peso da conta de luz nas micro e pequenas empresas pode variar de 10% até 40%, depende do segmento, de qualquer forma a busca por alternativas por fontes renováveis de energia devem ser consideradas não apenas pelas empresas, mas pelo consumidor residencial também. “Caminhamos para a utilização mais intensa de energia de fontes renováveis. O Brasil tem muito potencial neste segmento e certamente ampliará o seu uso. As empresas e famílias devem considerar em seu planejamento o uso de energia de fontes renováveis, ainda que mais caras na implantação, mas cujo custo deverá reduzir-se no médio prazo, ser favorável no longo prazo. É preciso que a sociedade cobre os governos para acelerarem a implantação de energia renovável em suas administrações e conduzam políticas públicas que estimulem seu uso”, analisa.
Para o diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), regional de Diadema, Anuar Dequech Júnior, o aumento na conta de luz veio no momento em que a entidade vinha discutindo a alta nas contas de água da Sabesp, que tiveram aumentos que, em alguns casos que passaram dos 400%. “Esses dois aumentos vão impactar principalmente nas micro e pequenas empresas. Nas maiores a compra de energia no mercado está funcionando bem. Já quem não tem como se encaixar nas regras para comprar energia fora da Enel, vai ter que reavaliar seus preços e ver se dá para repassar para o cliente. Além do aumento a tarifa estamos em plena bandeira vermelha, que já deixa a conta mais cara, no fim esse ônus vai acabar ficando com o consumidor final”, avalia
O empresário conta que esse aumento de praticamente 14% para uma empresa pequena que gasta até R$ 40 mil de energia, vai impactar em uma alta de 6% no custo. “Até as empresas médias e grandes vão sofrer porque seus fornecedores podem aumentar os preços. Já quem se encaixa no perfil e pode comprar energia no livre mercado está pagando hoje até 30% menos”, aponta Dequech Júnior.
No segmento de bares, restaurantes e de hospedagem, em geral o consumo é alto e as empresas não se encaixam no critério para comprar energia no mercado e ficam dependentes da Enel. Para o presidente do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do ABC), Beto Moreira, o aumento é descabido e a maioria das empresas é muito dependente da energia elétrica. Antigamente era comum as pizzarias terem forno à lenha, hoje por conta de algumas legislações, elas converteram os fornos para gás ou para eletricidade. Na parte de hospedagem a conta de luz é uma pancada. O pior é que vem um aumento sem justificativa de um serviço de péssima qualidade; até hoje não conheço ninguém que recebeu indenização pelos prejuízos dos apagões. Os bares e restaurantes perderam muitos produtos e ficou por isso mesmo, a Enel presta um péssimo serviço e cobra caro”, critica.
Inflação
“O que me chama atenção é que a energia é algo de necessidade primária, não é só para as empresas que virá esse aumento, é para todo mundo e quem é que teve 14% de aumento no salário? Como se justifica um aumento de 14% com uma inflação de 5% nos últimos doze meses? A conta não fecha”, continua Beto Moreira, que não acredita em uma alta de preços imediata, mas a médio prazo. “Acho que os preços não vão aumentar agora só por isso, mas por uma somatória de fatores e isso gera inflação, que faz a empresa pagar mais para o funcionário e pelos insumos. A inflação sim, gera desemprego”, finaliza o presidente do Sehal.
O presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo do Campo), Valter Moura Júnior, também considera que o reajuste na conta de energia pode se somar a outros fatores e gerar inadimplência e fechamento de empresas. “Eu alerto para os graves impactos do aumento da conta de luz sobre o comércio. O principal problema é que o comerciante não consegue repassar integralmente esse custo adicional ao consumidor final, pois corre o risco de perder competitividade em relação aos concorrentes. Isso afeta diretamente a margem de lucro do empresário, que muitas vezes é obrigado a absorver esse aumento para manter o negócio funcionando. Não dá para ficar o tempo todo repassando, há fatores internos e externos que impedem isso. Não é possível, por exemplo, reduzir salário, além da constante elevação da carga tributária. Essa combinação de aumento de despesas sem possibilidade de compensação pode, a médio prazo, levar ao fechamento de empresas. Diante desse cenário, o governo precisa urgentemente rever a política fiscal e, principalmente, implementar medidas sérias de contenção de gastos. Sem conter os gastos públicos, não vai dar certo. O país até pode suportar por mais algum tempo, mas estamos criando uma herança perigosíssima para o futuro”, resume.