ABC - segunda-feira , 16 de junho de 2025

Crescimento de 14% das favelas revela regressão na qualidade de vida da região

Bairro Montanhão em São Bernardo cidade onde 19,5% dos moradores vivem em favelas. ((Foto: Thiago Benedetti/PMSBC)

Os números do Censo 2010 mostram que o ABC tinha 412.502 moradores em favelas naquela época, o que representava 16,17% da população. Doze anos depois, o Censo 2022 mostra que essa população passou para 470.457 pessoas e já representa 17,05%, crescimento de 14%. Duas favelas da região – em São Bernardo e Mauá – estão entre as 20 maiores do País. Para o professor de arquitetura e urbanismo da FSA (Fundação Santo André), Enrique Staschower, os governos nas três esferas não têm fôlego para a produção de habitação popular digna para abrigar o contingente de pessoas.

Para o urbanista da FSA, não há apenas uma razão para o aumento da população vivendo em favelas no ABC. Segundo Staschower, o aumento dos custos da habitação e a queda da renda são alguns dos fatores que têm empurrado a população do aluguel para as favelas.

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“A procura de espaços que não são legalizados significa que tem mais gente a procura da cidade e que não acha renda suficiente para que possa ocupar aquilo que a gente chama de cidade legal, onde tem o zoneamento e o código de obras. À medida que a gente perde espaço em economias que desaparece de algumas cidades do ABC, como a indústria e toda a linha de fornecedores e o comércio, se tem uma queda de renda e também de contribuição de impostos, o que faz com que a cidade não consiga atender todos”, analisa.

Staschower considera também que o ABC mantém a atratividade e pessoas procuram a região para moradia, porque a região ainda gera volume de postos de trabalho. “O ABC sempre foi um promotor de empregos, então eu consigo atrair gente na esperança do emprego, mas não é só isso, tem que ter trabalho, educação, saúde e aí acontecem as ocupações. Se olhar para a região metropolitana de São Paulo o ABC sempre foi atrativo; o polo industrial atraiu gente por mais de 30 anos e ainda vem gente pelo que a região tem de infraestrutura, pela qualidade das indústrias que ainda estão aqui”, aponta.

Com planos diretores bem elaborados, a favelização, segundo Staschower tende a ser minimizada, mas são necessários investimentos que ocorrem em longo prazo. “Eu acredito que a favelização é um processo transitório até que eu realoque essas pessoas, a cidade cria no seu plano diretor as zonas especiais de interesse social para a construção de habitações dignas para essas pessoas, o que acontece é que a prefeitura, como o governo do Estado e o governo federal, não dão conta de tudo isso”, diz.

As consequências do crescimento desordenado, sem o planejamento, como visto em favelas, traz diversos problemas sociais como a miséria, a falta de serviços básicos, como água, esgoto, luz, saúde e educação. “A cidade regride em qualidade de vida e não se tem uma perspectiva muito próxima para que isso se resolva. Para resolver tem que ter regularização, tem que tirar essas pessoas da área de risco, dos mananciais, tem que ter uma ação conjunta”, completa Staschwer.

Números

Os dados do Censo mostram que Mauá é a cidade com maior parcela da sua população vivendo em favelas e comunidades urbanas. São 115.251 pessoas vivendo neste tipo de habitação o que corresponde a 27,6% dos habitantes do município. Em 2010 eram 84.041 pessoas, o que representa um crescimento de 37,14%. Mauá é a 22ª cidade do País em volume de moradores de favelas.

Professor de Arquitetura e Urbanismo da FSA, Enrique Staschower. (Foto: Reprodução)

A segunda cidade com maior parcela de moradores de favelas é Diadema. Segundo o Censo 2022, a cidade tem 22,3% de moradores em bairros mais carentes, correspondendo a 87.887 moradores, porém o número é ligeiramente menor do que o aferido pelo Censo de 2010, de 87.944 pessoas, o que significa um encolhimento de 0,06%. A cidade está em 35° lugar entre as cidades com mais gente vivendo em favelas no País.

São Bernardo tem a maior população em favelas no ABC em números absolutos; são 158.245 pessoas que moram neste tipo de aglomerado urbano. A cidade é a 16ª do Brasil em número de pessoas morando em favelas. No município 19,5% das população vive neste tipo de habitação. Em 2010 eram 152.780, essa diferença representa um crescimento de 3,58%.

Santo André tem 13,2% da sua população em favelas, o que representa 99.201 pessoas segundo o Censo mais recente. A cidade é a 28ª no ranking nacional das cidades com maior número de pessoas vivendo em favelas. Em 2010 o Censo apontava que eram 84.468 habitantes de favelas e comunidades urbanas, isso representa um crescimento de 17,44%.

Em Rio Grande da Serra 11,8% da população vive em favelas o que representa 5.195 pessoas. A cidade está na 259ª posição no ranking nacional das cidades com mais população morando em favelas. Ribeirão Pires, tem 4.678 munícipes que residem em favelas (270° lugar no País), esse número representa 4% da população da cidade. São Caetano, segundo os critérios estabelecidos pelo Censo, não tem moradores de favelas.

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