ABC - quinta-feira , 8 de maio de 2025

ABC faz ações por segurança no trânsito e especialista defende mais campanhas

Acidente de trânsito em São Caetano no mês de janeiro deste ano. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Desde 2015 quando o DetranSP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) criou o Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito) os números de fatalidades no ABC foram caindo pouco a pouco, porém a participação de pedestres e motociclistas nas ocorrências fatais só aumenta. As prefeituras já estão com atividades programadas dentro do Maio Amarelo, criado para incentivar o poder público em campanhas pela redução de mortes no trânsito e todas focam no respeito aos limites de velocidade, o que é uma estratégia acertada na opinião de especialista ouvido pelo RD, porém as prefeituras pecam na falta de regularidade destas campanhas, que se concentram em maio.

Considerando o intervalo de tempo entre 1° de janeiro a 7 de maio, desde 2015 o número de mortes no ABC vem caindo um pouoc a cada ano. Foram 85 mortes no período no primeiro ano do levantamento, em 2016, 72 pessoas morreram nas ruas e avenidas da região; 74 em 2017, em 2018, 60; 77 em 2019; em 2020, o primeiro ano da pandemia, a região ainda assim teve 59 óbitos no trânsito; em 2021, foram 57; 79 no ano seguinte; depois 70, 68 e neste ano, até março foram 56 pessoas mortas no tráfego da região. Se os números estão variando para menos, o que está crescendo e isso é notado em todo o levantamento são as mortes de motociclistas e pedestres. O último levantamento, que fechou o primeiro trimestre, dos 56 mortos, 26 eram motociclistas e 19 pedestres.

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Para a professora do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia) Mariana Rial, que é arquiteta e urbanista, o aumento das mortes de motociclistas e pedestres, não está diretamente ligado ao aumento da imprudência dos condutores ou menos fiscalização. “Acredito que esteja ligado a questões mais estruturantes, como o aumento da frota, sobretudo a de motocicletas, assim como a opção pelo transporte individual em detrimento do transporte coletivo. Na região metropolitana a própria pesquisa de origem e destino do Metrô tem mostrado esta tendência, então esse aumento da frota e da velocidade está mais ligado a esse aumento de mortes”, analisa. Mariana considera também que, nos últimos cinco anos houve um aumento de fatalidades, pela demanda do transporte de mercadorias, entregas na região metropolitana e também no ABC e isso tem sido uma fonte de renda importante para uma parcela da população, mas atrelada ao deslocamento o que contribui para o número maior de acidentes.

A urbanista considera que as campanhas são fundamentais e necessárias e devem ser mais frequentes. “O que a gente conhece de políticas públicas nos mostra que o mais importante nestas campanhas é a frequência, elas precisam ser sistemáticas, pois é comum que elas percam o efeito logo depois que elas terminam, então a periodicidade é importante para a conscientização da população, sobretudo em relação a aceitação dos limites de velocidade”.

Na última década, prefeituras usaram a criatividade, com esquetes teatrais bem humorados nos semáforos para chamar a atenção de motoristas para o cuidado ao conduzir. Algumas campanhas chegaram até a colocar carros batidos em alguns pontos estratégicos, onde ocorrem mais acidentes, para chamar mais atenção dos motoristas para o risco de acidentes. Para Mariana Rial, a estratégia mais impactante, nem sempre é a que traz mais resultados. “Algumas são mais enfáticas, no sentido de mostrar as consequências, mas não me parece que esse seja o mote necessário, mas é importante focar no objetivo central que é o respeito ao limite de velocidade, atrelado a um programa de redução da velocidade nas vias urbanas. É preciso convencer a população de que a cidade não é um lugar para alta velocidade, é incompatível, proteger o pedestre, o motociclista e o motorista em alta velocidade, então vias urbanas precisam de baixa velocidade e essa é uma campanha que precisa ser periódica e constante, mas isso é muito difícil porque a gente pauta a produtividade da sociedade pela velocidade e isso induz a muitos acidentes e perdas de vidas”.

A arquiteta e urbanista diz que a cidade tem que se pautar nos deslocamentos à pé e por transporte coletivo, mais do que focar no transporte individual. “Eu diria que as políticas precisam focar a médio prazo na redução da velocidade e em questões estruturais de deslocamento com transporte coletivo. Quanto mais a população estiver servida do transporte coletivo ela vai abrir mão do transporte individual. A população das periferias gasta muito com o transporte coletivo e o transporte individual, sobretudo por motocicleta, muitas vezes é uma alternativa mais barata, então é preciso planejar isso de forma integrada e olhar o espaço da cidade como algo que pode ser transformado, na direção da segurança do pedestre. É preciso tentar ampliar os espaços de calçadas, isso é difícil pois interfere nos cofres públicos, mas não pode sair da pauta. Aumentar o tempo de travessia, é outra coisa importante, ou seja, tem que se pautar a cidade para quem está se deslocando à pé, essa é a política mais acertada”.

Motos

Uma das alternativas que as prefeituras estão usando de forma experimental, com acompanhamento da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) é a Faixa Azul, que já é usada em São Bernardo, na avenida Lions, e está sendo implantada, graças ao resultado da primeira, também na avenida 31 de Março na região da Paulicéia. A faixa também é usada em Santo André, que conta com 5 km na avenida Prestes Maia e 3,5 km nas avenidas José Amazonas e Dom Jorge Marcos de Oliveira.  Mariana Rial considera essa alternativa boa no sentido de redução dos acidentes fatais. “Tem algumas vantagens como a implantação muito rápida e de baixo custo para o poder público e, de uma maneira geral de boa aceitação, o que não é muito comum em medidas para mitigar acidentes de trânsito que em geral são muito impopulares, como redução da velocidade, aumento do tempo de espera para travessia, medidas que, por incrível que pareça, são de difícil aceitação, já a faixa azul não”, aponta. Como nem todas as vias tem a largura suficiente para comportar a faixa azul, colocada entre as faixas para carros, esse é um fator limitador para essa iniciativa e onde elas já existem, acabam terminando em um gargalo o que, para a especialista do IMT é um ponto crítico.

Apesar da tecnologia, câmeras, radares, além de faixas azuis, a conclusão é que são muitas ruas, poucos recursos materiais e humanos para uma fiscalização eficiente. Santo André, por exemplo, tem 60 agentes para uma malha viária que tem 1.296,13 quilômetros o que dá uma média de 21,6 quilômetros para cada um destes agentes. Em São Bernardo, são cerca de 1.600 quilômetros de vias para 80 agentes de fiscalização, média de 21 por agente.

Campanhas

Em Santo André a prefeitura vai realizar o Circuito Itinerante de Mobilidade, que consiste em uma estrutura móvel que simula uma cidade com  sinalização, ruas, semáforos, placas e faixa de pedestres. Esta ação será realizada com alunos de escolas municipais.  O CEM (Centro de Educação para a Mobilidade), localizado na Sabina Escola Parque do Conhecimento, estará aberto para a realização de dinâmicas e oficinas educativas aos visitantes aos finais de semana. Neste mês também será realizada também uma blitz para motociclistas com distribuição de material educativo e de conscientização para um trânsito mais seguro. No encerramento do Maio Amarelo, uma esquete teatral da Cia. Sopa acontecerá no estacionamento da Sabina. “Santo André tem adotado soluções modernas para reduzir os acidentes de trânsito e salvar vidas. Criamos o PMSI – Plano de Mobilidade Segura e Inclusiva –, que integra o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável e tem como meta alcançar “mortes zero” no trânsito. Entre as ações práticas, ampliamos a Faixa Azul para motos, com destaque para a Av. Prestes Maia, onde não houve vítimas fatais em um ano de implantação. Estamos aplicando o conceito de Áreas Calmas (traffic calming), que reorganiza o espaço urbano com foco na redução da velocidade e aumento da segurança para pedestres. O primeiro projeto está em execução na Rua Jorge Bereta.  Além disso, estamos fortalecendo a educação no trânsito desde cedo, com o Circuito Itinerante de Mobilidade nas escolas municipais, permitindo que as crianças vivenciem, na prática, o respeito e a segurança no trânsito”, informa nota da prefeitura.

A Prefeitura de São Bernardo informa que vai realizar uma série de ações educativas como parte do movimento Maio Amarelo, campanha internacional de conscientização para a redução de acidentes de trânsito. Com o tema nacional de 2025, “Mobilidade Humana, Responsabilidade Humana”, a programação prevê panfletagens e aberturas de faixa em pontos estratégicos da cidade.  “Como medida complementar de segurança no trânsito, foi assinada neste mês a ordem de serviço para a implantação de 5 quilômetros de Faixa Azul na Avenida 31 de Março, no Taboão – 2,5 km em cada sentido. A faixa se conecta a já existente na Avenida Lions. A previsão é que a pintura e sinalização sejam concluídas em até 15 dias. Com isso, São Bernardo passará a contar com 9,4 km de Faixa Azul. Há estudos para a ampliação deste equipamento”, informa a prefeitura.

A Prefeitura de São Caetano não informou quantos quilômetros tem a sua malha viária nem quantos agentes tem, mas destacou as ações previstas para esse mês. “A  Semob (Secretaria de Mobilidade Urbana),  tem realizado ações voltadas ao Maio Amarelo, desde o início de abril, com ações da Cidade da Mobilidade, com atividades de educação no trânsito para 1.360 crianças do Grupo 5 (5 anos de idade) da Rede Municipal de Ensino. Neste ano, a campanha traz como tema Desacelere: seu bem maior é a vida. Como ações para o Maio Amarelo, a Semob irá distribuir folders digitais; folders impressos e palestras sobre segurança no trânsito em escolas; terá uma viatura para blitze educativas; mascotes que serão utilizados durante as campanhas educativas; painel/banner e folders digitais comemorativos”, informa a prefeitura. O município não tem Faixas Azuis implantadas e não informa que planeja implantar.

A Secretaria de Mobilidade e Transportes de Diadema iniciou as atividades de conscientização do Maio Amarelo no dia 05, com ações na travessia do Poupatempo, na rua Amélia Eugênia, no Centro. “O tema deste ano é “Desacelere. Seu bem maior é a vida”. Ao longo do mês, serão realizadas ações de rua e atividades lúdicas nas escolas municipais, com teatro, blocos de montar e jogo de perguntas e respostas. As próximas ações previstas serão dias 09, na travessia da Praça Castelo Branco, no Centro, e dia 12, no Largo Piraporinha, das 9h às 11h e das 13h30 às 15h30. No dia 13, está previsto o início das atividades nas escolas EMEB Cândido Portinari e EMEB Dr. José Martins, que prosseguem até o dia 23. O município está com projeto em elaboração para implantação da Faixa Azul e posterior envio para a Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) nas avenidas Corredor ABD, Fábio Eduardo Ramos Esquível e Presidente Kennedy, totalizando 14 km de corredores para motocicletas. A cidade possui cerca de 291 km de vias. Além do projeto de implantação da Faixa Azul, a Prefeitura vem promovendo melhorias na sinalização viária e realizando a otimização da programação semafórica, com o objetivo de aumentar a segurança dos usuários e melhorar a fluidez do tráfego”, diz a prefeitura em nota. De acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2025, foram registradas 265 ocorrências relacionadas ao trânsito de Diadema.

Ribeirão Pires que tem 430 quilômetros de malha viária também vai levar para as ruas e escolas campanhas de conscientização. “A Prefeitura de Ribeirão Pires, esclarece que iniciou nesta quarta-feira (6) a Campanha do Maio Amarelo com atividade educacional em parceria com a CPTran (Comando de Policiamento de Trânsito). A cidade também realiza nas escolas a atividade do CIMOB – Circuito Itinerante de Mobilidade nos dias 7 e 8, nas Escola Estadual Professor Pandof Arnoni. A partir do dia 15, equipes estarão nas ruas realizando conscientização dos motorista e pedestres. A municipalidade realiza estudos para implantação das faixas azul dedicadas ao trafego de motos”, diz comunicado da prefeitura.

Mauá e Rio Grande da Serra não informaram.

 

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