O número de mulheres eleitas vereadoras no ABC, dia 6 de outubro, saltou de nove para 11 na comparação com 2020, mas ainda vão ocupar ínfimos 7% das 150 cadeiras que estavam em disputa. Por outro lado, se no Legislativo a presença feminina é uma gota em um ‘mar de homens’, o mesmo não se pode dizer do Executivo. Em cinco das sete cidades os prefeitos eleitos para assumir as prefeituras no dia 1º de janeiro terão a seu lado mulheres como vices, número que é o maior da história na região.
Para se ter ideia, há quatro anos, três chegaram aos Paços no mesmo cargo: Celma Dias (PT), em Mauá, Patty Ferreira (PT), em Diadema, e Penha Fumagalli (PDT e atual PSD), em Rio Grande da Serra, que assumiu como chefe do Executivo no lugar de Claudinho da Geladeira, cassado em 2022. Penha, inclusive, disputou a reeleição no pleito deste ano, vencido por Akira Auriani (PSB), que tem como vice eleita Vilma Marcelino (PSDB).
Das cinco mulheres eleitas como vice, duas participaram do segundo turno domingo (27/10) e garantiu as vitórias de Marcelo Lima (Podemos) em São Bernardo e de Taka Yamauchi (MDB) em Diadema: a sargento da Polícia Militar, Jessica Cormick (Avante-São Bernardo), e Andreia Fontes (PL-Diadema). Aliás, a vitória de Taka impediu que o atual prefeito, o petista José de Filippi Júnior, chegasse ao quinto mandato na cidade, o que seria um recorde na região – José Auricchio Júnior (PSD) encerra o quarto à frente da Prefeitura de São Caetano em 31 de dezembro.
Por falar em São Caetano, a vice do prefeito eleito Tite Campanella (PL) é Regina Maura Zetone (PSD), ex-presidente da Fundação do ABC (FUABC), ex-secretária de Saúde nas gestões de Auricchio e que era cotada para disputar a principal cadeira do Palácio da Cerâmica até que o grupo governista fechou composição com Tite, que já se colocava como candidato fora do arco em torno do atual chefe do Executivo.
A mais experiente
Regina entrou na disputa pela sucessão do padrinho político – já tinha sido reeleito – na eleição de 2012, que teve como vencedor Paulo Pinheiro, dissidente do bloco governista. Trajetória que faz dela a mais experiente entre as cinco que terão espaço nos Executivos do ABC a partir de 1º de janeiro.
Escalado pelo grupo do atual prefeito, Paulo Serra (PSDB), para disputar a eleição, Gilvan Júnior (PSDB) foi eleito em primeiro turno para comandar a Prefeitura de Santo André e tem como vice a suplente de vereadora Silvana Medeiros, que integra os quadros do Avante, assim como a futura colega de São Bernardo, Jessica Cormick. Gilvan comenta sobre os motivos que levaram à escolha de uma mulher como vice e garantiu que ela terá participação importante na gestão, mas não apontou se ocupará alguma secretaria.
“Silvana é uma pessoa atuante na nossa cidade, em especial na defesa dos direitos das mulheres e nas causas sociais. A escolha pelo seu nome passou pela boa relação que ela mantém com toda a equipe do governo e pela sua representatividade junto à sociedade. Tenho certeza de que vai nos ajudar muito e terá participação importante nas ações do nosso futuro governo”, comenta Gilvan.
Silvana Medeiros disse que está feliz pela oportunidade de ser candidata a vice de Gilvan e terá como foco, principalmente, ações voltadas à mulher, mas sem deixar de lado uma das marcas da gestão Paulo Serra, o trabalho social. “Estou empolgada para fazer um grande trabalho. Andamos por toda a cidade durante a campanha e sabemos dos desafios que temos pela frente. Minha missão é continuar o trabalho de Ana Carolina Serra (deputada estadual e mulher do atual prefeito) e, junto com a Jéssica Roberta (futura primeira-dama), manter Santo André reconhecida como cidade que se importa com o social”, declara.
Presença feminina na política
Responsável por evitar a chegada de José de Filippi Júnior ao quinto mandato, em uma das eleições mais acirradas da região e na história de Diadema, Taka Yamauchi diz que a escolha de Andreia Fontes para vice não teve como objetivo apenas fortalecer a presença da mulher na política.
“Foi também pela capacidade técnica, política e olhar social, além do compromisso com valores morais e familiares fundamentais. Mulher, esposa, mãe e cristã, Andreia representa a voz ativa e necessária das mulheres na defesa dos direitos e no empoderamento feminino, amplia o olhar e a ação política para um futuro mais inclusivo”, diz oemedebista.
Taka avaliou ainda que a vice teve papel fundamental na eleição, na medida em que levou um olhar diferenciado na construção do plano de governo. “Uma visão sensível e próxima às questões que afetam mulheres, famílias e jovens”, diz. Afirma que Andreia Fontes acrescentou valores fundamentais à campanha e reforçou o compromisso que assumiu ao longo de toda a campanha de construir uma “Diadema mais justa e acolhedora para todos”.
Perguntado se pretende escalar a vice como titular em alguma secretaria, afirmou que já considera a colega de chapa como primeiro-escalão do governo e com papel importante para a gestão. “Ela estará ao meu lado nas principais tomadas de decisão, desfruta da minha total confiança e sei que juntos faremos o melhor governo da história de Diadema. Além disso, no nosso plano de governo destacamos um eixo só com políticas públicas para as mulheres e garantimos que 30% dos cargos em comissão sejam ocupados por elas, oferecendo também formação contínua para todo o quadro feminino da gestão”, completa Taka.
Questionada sobre como avalia a eleição de cinco mulheres para vice, Andreia Fontes foi concisa. “Vejo a eleição de mulheres com alegria e otimismo, pois representa uma mudança positiva na política. Esse crescimento fortalece a representatividade e incentiva mais mulheres a se engajarem, traz diversidade de vozes e promove uma sociedade mais justa e inclusiva”, opina.
Protagonismo feminino
Para o advogado, professor de Direito Constitucional da Universidade Mackenzie e de Direitos Humanos do Damásio Educacional, Frederico Afonso, a eleição de cinco mulheres como vices na região reflete o protagonismo que elas têm alcançado, assim como outros grupos que se costuma chamar de minorias, como de pessoas com deficiência, idosos e população negra.
“E quando se fala em uma que foi eleita, é justamente pelo protagonismo, pelo empoderamento, que elas lutam e têm conseguido maior espaço. Entendo que o feito histórico é um feito crescente da posição delas, de justamente ter uma maior projeção em todos os sentidos. Entendo que essas mulheres que foram eleitas como vices, se fizerem um trabalho a contento, e tendo uma reeleição, daqui a oito anos elas é que teriam de ser as candidatas naturais à chefia do Executivo”, comenta.
Candidatas a prefeitas
Para além das candidatas a vice, vale lembrar que outras quatro mulheres – fora Penha Fumagalli –, estavam na disputa pelas prefeituras de três das sete cidades e ficaram pelo caminho: Flávia Morando (União Brasil), indicada pelo prefeito Orlando Morando (PSDB) em São Bernardo; Bete Siraque (PT) e Clenilza (PCO), em Santo André; e Amanda Bispo (UP), em Mauá.
O resultado poderia ser diferente, caso fosse colocado na balança o peso da votação feminina, já que o número de eleitoras nas sete cidades é maior do que o de homens: 1,143 milhão contra 1,005 milhão, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A reportagem do RD entrou em contato com as assessorias de todos os candidatos, mas não obteve retornos de Akira Auriani, Marcelo Lima e Tite Campanella até o fechamento desta reportagem.