ABC - segunda-feira , 29 de abril de 2024

Modernização dos serviços de saúde anda a passos lentos no ABC

Telemedicina é um dos recursos que funciona a passos lentos na região (Foto: Eric Romero/PMSCS)

A tecnologia e a modernização digital são elementos que trazem mudanças radicais no que se refere ao atendimento na saúde. A telemedicina, os prontuários eletrônicos e agendamentos de consulta online são apenas alguns serviços que ganharam luz ao longo da pandemia da covid-19, aliados à necessidade de atendimento mais rápido e exigência das demandas crescentes. Mas de lá pra cá o ABC avançou a passos curtos no assunto.

Em estudo publicado no Observatório de Políticas Públicas da USCS (Conjuscs), Claudia Tavares Alvarenga, professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e especialista em fisioterapia respiratória e terapia intensiva neonatal e pediátrica, analisa que ao longo dos últimos anos, os impactos da inovação se tornaram indispensáveis para o avanço e manutenção da vida. Acontece que ainda existe um grande desafio relacionado à escassez de recursos tecnológicos para que haja, de fato, melhorias nos índices de desenvolvimento.

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A telemedicina é exemplo no que se refere aos benefícios do avanço tecnológico, uma vez que promove acompanhamento de pacientes com doenças agudas e crônicas e permite consultas à distância e monitoramento remoto da saúde. No entanto, no ABC somente São Caetano possui o projeto em vigor, sendo 14 especialidades em consultórios virtuais. Em Santo André e São Bernardo, a telemedicina ainda está em caráter experimental, sendo que o serviço é testado na UPA Vila Luzita (Santo André), e em São Bernardo está na fase de “piloto”, em tramitação.

Desigualdades

Vânia Barbosa do Nascimento, professora titular de Saúde Coletiva e pró-reitora de Extensão da FMABC, avalia que a pandemia acentuou que é preciso criar mais possibilidades de acesso à saúde com informatização e internet, no entanto, avalia que ainda há desigualdade dentro da própria região, com alguns municípios tendo avanços mais lentos por conta da falta de recursos.

Santo André, São Bernardo, Mauá e São Caetano, por exemplo, investiram na instalação de prontuário eletrônico, o que permite que toda rede de saúde tenha acesso ao histórico de pacientes em qualquer serviço. Mauá, no entanto, ainda tem como desafio expandir o programa em toda rede de saúde e lançar um aplicativo móvel que permitirá ao usuário consultar seus atendimentos, localizar medicamentos disponíveis na rede e cancelar consultas, quando necessário.

Acontece que quem utiliza a rede pública na cidade ainda vê falhas no projeto. Um paciente da UBS Vila Magini, que prefere não se identificar, comenta que esteve na unidade há 15 dias e precisou voltar pra casa com “atendimento parcial”, após o médico não conseguir verificar os exames realizados no prontuário. “Parece que deu uma pane elétrica e não estavam conseguindo acessar o sistema. Fui atendido parcialmente, sem saber o resultado do exame que tinha feito e só medicado para a dor”, reclama.

Resultados positivos

Durante a pandemia, Santo André implementou a regulação municipal – digitalização de pedidos de consultas e exames que adotam critérios técnicos para atender casos de maior prioridade e promovem o aproveitamento de recursos. Antes, os pedidos eram realizados em papel, o que dificultava o controle. A implementação permitiu a intensificação do Saúde Fila Zero, que apenas em 2023 ofereceu quase 190 mil consultas e 312,4 mil exames, números equivalentes a 2021 e 2022 somados. Com isso, a administração diz ter zerado as filas por atendimento médico oferecendo consultas no prazo de até 30 dias.

Em Diadema, por conta da modernização do sistema de saúde, foi possível ampliar a oferta de consultas e exames de oftalmologia e diminuir a fila de espera de exames, a exemplo da mamografia, que passou de dois anos (em 2021), para 15 dias (prioridade) e dois meses (rotina). Já São Caetano, com a telemedicina, contabilizou redução de 56% (entre agosto e abril de 2023) no tempo de fila de espera para consulta especializada.

Avanços do SUS defasados

A professora da FMABC avalia que apesar dos avanços, o SUS (Sistema Único de Saúde) ainda está muito defasado, principalmente em razão do financiamento ser insuficiente. “Os gestores costumam priorizar os gastos com materiais, medicamentos e o pagamento dos profissionais, sobrando pouca verba para a tecnologia. O custo desses sistemas informatizados ainda é elevado, e sujeito a manutenção de sigilo e proteção de dados”, afirma.

Segundo Vania, ainda são corriqueiros os casos de pacientes graves nas filas das UPAs para internação, demora no atendimento, baixa cobertura da atenção primária à saúde, falta de referência hospitalar para casos de câncer, por exemplo, e cirurgias eletivas, além de poucas ações de prevenção e promoção da saúde. “O que a pandemia acentuou é que é preciso criar mais possibilidades de acesso à saúde com a informatização e internet. Com o avanço da tecnologia hoje as pessoas têm mais condições de marcar e até mesmo realizarem consultas online”, afirma.

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