ABC - segunda-feira , 29 de abril de 2024

Número de casamentos ainda está longe do patamar pré-pandemia

Número de casamentos teve pequena reação frente aos quase nove anos de queda. (Foto: Divulgação)

Levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre o número de casamentos no país mostra que entre 2021 e 2022 houve um ligeiro aumento no número de uniões de 4%. No ABC a variação foi até maior, de 4,98%, porém ainda muito abaixo dos patamares anteriores à pandemia da covid-19.

De acordo com a pesquisa do IBGE entre 2021 e 2022 o número de casamentos celebrados em cartório teve um acréscimo de 709 uniões. No primeiro ano foram 14.237 casórios e no ano seguinte 14.946, alta de 4,98%.  Se comparados os números de 2019, o último antes da pandemia, com os de 2022, o número de casamentos caiu 8,85%, o que representa uma diferença de 1.451 casamentos a menos.

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Nos nove anos, compreendidos entre 2014 e 2022, o ano com maior número de casamentos no ABC foi 2015, quando foram registrados 20.436 uniões nos cartórios. Comparando com os 14.946 do último ano do levantamento, a redução de casórios foi de 26,86%. (Veja quadro)

Para a socióloga e professora da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Silmara Conchão, o aumento dos casamentos entre 2021 e 2022 mostra apenas uma recuperação da demanda que ficou reprimida durante a pandemia, ela considera que, na média, considerando o histórico desde 2014, a tendência é de diminuição da formalização de uniões em cartórios. “Houve um decréscimo muito expressivo por conta da pandemia, aí nos anos seguintes já teve um aumento, pelas condições que a gente tinha em relação à vacina. Vacina teve um papel importante para voltar esse movimento de casamentos que é importante para a economia, porque movimenta uma indústria, a das festas, das decorações, dos vestidos de noiva, tem toda uma cultura da nossa sociedade que ainda valoriza esse cerimonial que comemora o início da vida a dois, portanto, o distanciamento fez com que muitos casais adiassem o casamento”, avalia.

A professora da FMABC diz que a relação entre homens e mulheres vem mudando nos últimos anos e a própria ideia de casamento mudou por conta a maior autonomia da mulher que hoje estuda mais que os homens e não aceita a condição de submissão. Isso interferiu, segundo Silmara, nos números do casamento. “A origem do casamento vem de um acordo para a formação de uma família e ele é muito pautado em moldes patriarcais, desde o início da sua concepção, tendo como pressuposto a subordinação feminina. Na cerimônia católica, por exemplo, o pai entra com a noiva e passa a mão da filha para o futuro marido como se fosse transferir uma propriedade, como se isso fosse uma ordem universal. Essa cultura está sendo revista, tivemos avanços nos últimos anos, avanços que não atingiram todas as mulheres, mas elas estão estudando mais que os homens, ocupando posições de independência econômica, não estão se submetendo mais a relações abusivas. Ao mesmo tempo as mulheres estão pagando um preço alto para isso, os feminicídios estão em alta, as mulheres avançaram, mas parece que os homens ainda estão no século XX”, diz a professora.

Silmara Conchão considera que a ordem jurídica brasileira ainda é conservadora e sexista, quando dignifica o casamento como a principal forma de constituir família, mas considera que a aceitação jurídica da união estável, foi um grande avanço. “Esse avanço da união estável é importante para a garantia da autonomia das pessoas que querem constituir uma família não necessariamente dentro dos padrões tradicionais da nossa sociedade. A pesquisa do IBGE também diz para gente que os cônjuges estão demorando mais para se casar e o tempo de duração das uniões também vem diminuindo ao longo dos anos, ou seja, o casamento se apresenta em queda desde 2014, apesar de ainda ser uma tradição. A explicação é da autonomia das mulheres cada vez mais fortes no sentido de fazerem escolhas sobre as relações e suas vidas”, completa.

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