Queixas sobre crédito consignado aumentam quase 50% em um ano

Procon recebe mais consumidores reclamando do crédito consignado (Foto: Procon-SP)

O número de queixas sobre problemas com crédito consignado cresceu 50% em um ano de acordo com o ProconSP. Em 2022 foram 10.373 reclamações que chegaram ao órgão estadual e no ano passado o número saltou para 15.446. Nos Procons regionais a situação não é diferente, em Santo André, o número de reclamações já está entre os maiores, dividindo o top 10 com prestadoras de serviços como Enel, Sabesp e empresas de telecomunicação.

As reclamações são sobre descontos em conta sobre empréstimos que não foram contratados, sobre empréstimos cujas regras não foram detalhadas e por juros altos. As instituições financeiras resistem aos acordos e as demandas acabam na justiça. Para evitar prejuízos e dores de cabeça em relação aos empréstimos, os órgãos de proteção recomendam cuidados.

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Segundo a assessora técnica do Procon de São Paulo, Renata Reis, o consumidor não deve assinar ou fornecer dados, muito menos foto de autenticação se receber ligações alegando atualização de cadastro do INSS ou do banco. Isso porque a maior parte das vítimas são idosos. “Existe uma forma de bloquear o benefício acessando o Gov.br ou também no aplicativo Meu INSS, depois pode desbloquear. Já quem precisa do crédito consignado pode encontrar no site do INSS, no aplicativo ou também no Banco Central uma list de instituições autorizadas a fazer o crédito consignado e as taxas de juros praticadas”, orienta.

“A percepção é que o tema de maior reclamação é a cobrança indevida, ou seja, quando o reclamante não contratou o empréstimo. A instituição apenas deposita o crédito na conta e passa a cobrar mensalmente, aí a pessoa tenta devolver e não consegue, a instituição coloca dificuldades. Teve caso até de boleto fraudado, que o cliente pagou achando que estava devolvendo o dinheiro para a instituição financeira, mas estava depositando na conta de um terceiro golpista”, relata a assessora técnica do Procon de São Paulo.

Ela também orienta os consumidores a não aceitar propostas que chegam por telefone, mesmo que a pessoa do outro lado da linha confirme suas informações como números de documentos, o banco onde possui conta. “Tem ligações em que a pessoa já tem todos os seus dados e diz que basta dizer sim para acessar um empréstimo consignado. Nós percemos que as pessoas caem nestas situações por falta de informação, falta também uma educação financeira e no meio disso as fraudes. A pessoa deve ir numa agência bancária se quiser um empréstimo, não ir nessas lojas que ofertam, e se possível levar uma cópia desse contrato para casa e refletir se realmente compensa. Em caso de abuso registrar queixa no Procon, que tem poder de polícia se percebermos que uma instituição insiste na mesma conduta”, diz Renata.

Doroti Cavalini diz que todos os dias chegam consumidores reclamando do crédito consignado (Foto: Reprodução RDTv)

Agora quanto ao direito individual do consumidor, se não houver acordo na conciliação mediada pelo Procon o jeito é buscar o Judiciário, para isso prints de conversas, fotos e outras informações podem ajudar. “Se o problema for juro alto tem a portabilidade, só que às vezes troca e o troco é muito pequeno e o juro pode até ser maior, por isso é preciso ter cuidado para não se endividar ainda mais”, completa.

Para a diretora do Procon de Santo André, Doroti Cavalini, a percepção é que os problemas com o crédito consignado aumentam a cada dia. “Todo dia recebemos consumidores lesados pelo crédito consignado. Tem muita gente lesada quando passa informações pessoais a pessoas que ligam dizendo que são do recadastramento do banco ou do INSS. Mesmo com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) esses golpistas tem todos os dados de cadastro e com isso induzem a pessoa a fornecer mais informações. O idoso que é pessoa hiper vulnerável a isso só percebe quando passa a receber um valor menor de aposentadoria”.

Doroti conta que há uma lei estadual que proíbe a oferta de crédito consignado para aposentados e pensionistas através do telefone, mesmo assim acontece. “Se precisar vá até um banco, não vá nessas lojas que oferecem crédito. E mesmo no banco peça um relatório que chamamos de CET (Custo Efetivo Total) que vai mostrar qual é a taxa de juros, qual é o valor total e quanto vai ser pago”, explica.

Ranking

A diretora do Procon andreense diz que as queixas relacionadas ao crédito consignado estão entre as mais frequentes no órgão. “Temos Enel, Sabesp e as empresas de telecomunicações nos primeiros lugares, logo em seguida vêm os bancos e basicamente quase todas as queixas nesta área são relacionadas ao crédito consignado”.

Doroti Cavalini diz que outra armadilha é o cartão de crédito consignado. “As pessoas contratam e começam a pagar 5% por mês descontado na aposentadoria, o problema é que essa é a taxa do crédito, o valor principal a pessoa pensa que está pagando, mas não está. A pessoa fica anos pagando e não amortiza nada do valor principal. Eu acho essa uma das situações mais graves”, completa.

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