Após uma manhã com viés de baixa, o dólar à vista ganhou certa força ao longo da tarde e voltou a superar R$ 4,90, em meio à perda de fôlego do Ibovespa. Houve também certo desconforto nas mesas de operação com a revisão para cima do déficit fiscal deste ano, o que acabou respingando na moeda brasileira.
Operadores ressaltam que, após o avanço de quase 1% ontem, o dólar andou entre margens estreitas, com investidores mais retraídos, na véspera de feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, que deve drenar a liquidez por aqui. Com oscilação de pouco mais de quatro centavos entre mínima (R$ 4,8781) e máxima (R$ 4,9198), o dólar encerrou cotado a R$ 4,9017, alta de 0,07%. Na semana, a moeda ainda acumula ligeira baixa (-0,09%).
O real se comportou bem quando se observa o sinal predominante de alta da moeda americana no exterior. O índice DXY avançou mais de 0,30% e chegou a superar a linha dos 104,00 pontos, com máxima aos 104,213 pontos. O dólar também subiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O real e o peso mexicano foram os únicos que conseguiram, em certos momentos do pregão, ganhar terreno frente à moeda americana.
A agenda de indicadores americanos trouxe informações que refrearam um pouco o entusiasmo do mercado com a possibilidade de início de um ciclo de corte de juros nos EUA em maio de 2024. Os pedidos de auxílio-desemprego caíram mais do que o esperado na semana passada e houve leve revisão para cima das expectativas de inflação para 12 meses, segundo pesquisa da Universidade de Michigan.
À tarde, houve certo desconforto no mercado local com a ampliação de estimativa de déficit primário em 2023 no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 5º bimestre. A projeção passou de R$ 141,4 bilhões para R$ 177,4 bilhões. A meta de resultado primário do Governo Central deste ano é de saldo negativo de até R$ 213,6 bilhões, mas a Fazenda chegou a prometer no começo do ano um rombo bem menor, de 1% do PIB (cerca de R$ 100 bilhões).
O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, ponderou que o déficit primário provável de 2023 deve ficar em torno de 1,32% do PIB. Uma das razões apontadas para um rombo menor que o valor de R$ 177,4 bilhões previstos no relatório é o “empoçamento” de recursos do governo federal, que deve ficar na casa de R$ 30 bilhões neste ano.