
Implementado em 2022, o programa Diadema de Dandara e Piatã é referência neste Dia da Consciência Negra (22/11), pois valoriza a história e as culturas africana e indígena por meio de danças, jogos e brincadeiras. O nome do programa junta termos das culturas africana e indígena. Dandara dos Palmares foi uma mulher forte e guerreira que lutou por um povo e si mesma. Sobreviveu à escravidão e liderou seu povo ao lado de Zumbi. Já Piatã é um termo de origem tupi que significa ‘pé duro’, ‘pedra dura’ ou ‘homem forte’.
“A história é sobre um homem negro, ex-escravizado, que vivia em um quilombo. Um dia, ele ficou sozinho porque todos os homens saíram. O quilombo foi invadido e, como ele não tinha armas, pegou dois bastões, que a gente chama de ‘grima’, para lutar contra os invasores. Numa das versões ele acaba morrendo e, na outra, somente se fere”, explica Ana.
Na dança do Maculelê também são usados bastões, que fazem referência à luta da lenda. A facilidade para falar sobre o maculelê se justifica já que a estudante e os colegas de turma ouviram a história durante uma das aulas do programa Diadema de Dandara e Piatã, iniciativa da Prefeitura de Diadema, que assegura a efetivação das leis federais 10.639/2003 e 11.645/2008, sobre a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro brasileira e indígena na educação básica.
Dança maculelê
Por meio do Dandara e Piatã, mais de 11 mil crianças do ensino fundamental da rede pública da cidade têm uma hora de aula por semana sobre esses temas. Depois de aprender sobre a história que envolve o maculelê, outra coisa que a estudante gosta é dançar o maculelê com a amiga de sala Letícia da Silva Moraes, de 11 anos.
Letícia é outra apaixonada pela dança e aulas do Dandara e Piatã. Sabe porque é importante valorizar as culturas negra e indígena na escola. “Tem muitas pessoas racistas e com o Dandara e Piatã a gente consegue aprender sobre essas culturas. Eu acho que é muito importante saber mais da história africana, indígena. E saber que todo mundo é igual”, diz.
O programa, implementado desde 2022 na rede de Diadema, tem o objetivo de valorizar histórias e culturas historicamente não viabilizadas, por meio, por exemplo, dos jogos Mancala Awelé e o Jogo da Onça como caminho de vivência curricular. Além dos jogos, o programa utiliza brincadeiras, leituras e atividades culturais que ajudam a engajar os estudantes.

Katia Maciel, professora do Dandara e Piatã que dá aula na Emeb, onde Leticia estuda, explica que o papel com as crianças é apresentar, por um olhar menos europeu, como foi o processo de constituição do Brasil, focado na valorização das culturas africana, indígena, raízes da história brasileira.
No programa, os professores são selecionados entre os docentes da rede. “Nós passamos por um processo seletivo, que envolve prova, dinâmicas e entrevista. Trabalhamos de segunda a quinta nas escolas e na sexta temos formação na Secretaria de Educação”, explica.
De acordo com a professora, o programa Dandara e Piatã, que cumpre de forma tão ampla as leis federais relacionadas à formação da verdadeira história brasileira, é um diferencial da cidade, em relação aos municípios brasileiros que ainda não organizaram um verdadeiro currículo, com carga horária e professores especialistas: “Diadema está anos luz à frente nesse quesito por ter um programa como esse e que está presente em toda a sua rede”, diz.
Além de atender diretamente 11 mil crianças do ensino fundamental da rede pública com o programa Dandara e Piatã, Diadema tem o Núcleo dos Estudos e Relações Étnico Raciais, o Nerer, que congrega os profissionais da educação, a Coordenadoria da Igualdade Racial e lideranças do movimento negro. Em diálogo constante, o Nerer ajuda na discussão e preparação de formações com coordenadores e professores de outros 8 mil estudantes da educação infantil, 8 mil da creche e 1,8 mil da EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Como forma de apoiar as atividades pedagógicas desenvolvidas nas escolas, faz parte do programa o envio às escolas de baú, apelidado de ‘Tesouros de Dandara e Piatã’, com 92 livros temáticos, além de tecidos africanos, instrumentos musicais, objetos pertencentes às culturas indígenas e africanas, lápis cor de pele e mapas da África, da Diáspora Africana que enfoca a localização original dos povos indígenas no Brasil.