Após o episódio em que uma professora se tornou alvo de investigações por repercutir falas preconceituosas e racistas na cidade de Muzambinho (MG), a discussão sobre o assunto foi intensificada, principalmente o modo como os municípios lidam com este tipo de situação. Ao RDtv, o conselheiro estadual do Conselho Regional de Psicologia de SP (CRP-SP) e coordenador do CRP ABC, Davi Rodriguez Ruivo Fernandes, comenta sobre os desafios desta realidade no serviço público, especialmente em escolas do ABC.
Na visão do conselheiro, quando ocorre racismo ou homofobia em uma instituição de ensino, significa que existe violência, e essa questão precisa ser trabalhada e combatida. No entanto, é importante saber diferenciar os tipos de violência. “Racismo é diferente de preconceito. O preconceito, em si, traz de forma ampliada a agressão em suas diversas formas e diferentes pessoas, enquanto o racismo é uma questão estrutural da sociedade que afeta, principalmente, pessoas negras”, afirma.
Muitas crianças e adolescentes não demonstram claramente quando sofrem importunações ou ameaças, porém testemunham com sinais, como irritabilidade, brigas, diminuição no desenvolvimento educacional, quietude, pouca participação em atividades escolares e faltas frequentes.
Por isso, Davi reforça a importância do diálogo entre pais e filhos. “É importante ouvir e ter diálogo com esse adolescente ou essa criança […] não vão chegar e falar o que estão passando ou sentindo se não houver essa qualidade de diálogo e de escuta”, reforça Davi, em relação aos sinais que identificam quando algo não vai bem.
Ajuda de profissionais
Quando o problema não é identificado em casa, entram em jogo os profissionais da psicologia escolar e serviço social, para buscar conscientizar e reduzir ao máximo casos de racismo e homofobia nas escolas. Porém, segundo Davi, que por ser coordenador do CRP ABC lida constantemente com casos da região, essa é uma dificuldade encontrada em todos os municípios da região.
Davi diz que o essencial para cada escola de ensino básico é de ao menos um psicólogo por unidade, mas que já viu casos em que um profissional atende cerca de 50 escolas simultaneamente. “Nós precisamos crescer nesse sentido. Essa compreensão não é uma responsabilidade só do professor, mas também da coordenadora ou do diretor”, diz.
Apesar das dificuldades, existem planejamentos que bastam ser implementados. “São projetos que já estão escritos e sancionados, só precisa de uma viabilidade e aplicação pelos municípios”, diz Davi ao se referir à lei 13.935/2019, que dispõe da prestação de serviços de psicologia e serviço social nas redes públicas de educação básica.
Para combater essa realidade, Davi reforça a participação dos municípios em intervenções nas escolas, além de intervir na raiz do problema. “Precisamos entender que aquela pessoa que xinga e ofende, pode ter passado pelo mesmo problema que ela causa. Por isso, entender como mudar isso, junto com os municípios, pode gerar mudanças significativas na qualidade de vida dos estudantes da rede pública”, afirma.