
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (06/07), em primeiro turno, o texto base da PEC (Projeto de Emenda à Constituição) 45/2019, a Reforma Tributária. Foram 382 votos favoráveis, 118 contrários e três abstenções. Ainda haverá uma votação na Câmara e duas no Senado. Enquanto o debate segue na Capital Federal, os municípios apresentam pontos divergentes sobre o texto, com a principal preocupação com o futuro da arrecadação.
Os quatro deputados federais com base no ABC: Alex Manente (Cidadania); Fernando Marangoni (União Brasil); Marcelo Lima (PSB); e Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT) votaram favoravelmente. Em seu encaminhamento de voto, Manente defendeu o texto.
“O Cidadania orienta sim com muita tranquilidade. Primeiro, porque nós somos um partido reformista, porque acreditamos que sem reforma não há modernização, não há adequação aos novos momentos que vivemos e não se consegue ter eficiência na gestão pública e na entrega de resultados à sociedade”, disse o parlamentar que também elogiou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), pela articulação realizada durante as últimas semanas.
Prefeituras
A Reforma Tributária virou o tema central, inclusive com a movimentação dos governadores e da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) que questionaram parte do texto alegando a possibilidade de queda na arrecadação e a centralização de valores no Governo Federal.
“Não é possível fazer uma reforma tributária, com essa forma inadequada de tramitação, retirando os recursos das cidades. É inquestionável que a tendência de recursos está na contramão da população. Enquanto as médias e grandes cidades estão ganhando moradores, os recursos disponíveis estão diminuindo”, disse em um trecho de seu posicionamento a FNP.
O prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), segue tal linha de pensamento. “O modelo proposto concentra os recursos no Governo Federal, como nunca vimos antes. É um retrocesso. Por isso, vejo a necessidade de um debate aprofundado sobre o tema para garantir que municípios tenham autonomia para dar continuidade à prestação de serviços essenciais”, iniciou o tucano.
“É fundamental que o Brasil simplifique seu sistema tributário, visando o fortalecimento da economia. Mas não posso deixar de criticar aqui a reforma que tramita no Congresso nacional e que tira a autonomia dos municípios, impactando diretamente a qualidade dos serviços prestados à população”, conclui o são-bernardense.
Um dos principais pontos em debate está na substituição de impostos por dois IVAs (Impostos sobre Valor Agregado). Nas mãos da União ficaria a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) que vai agregar o atual IPI, PIS e Cofins. Estados e Municípios ficariam responsáveis pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) que une ICMS e ISS. Outro ponto debatido é que a cobrança de um produto não seria mais feita na origem, ou seja, no local em que foi produzido, mas sim no destino.
Em estudo preliminar, a Prefeitura de São Caetano aponta uma possível perda anual de R$ 250 milhões em arrecadação com essas mudanças, a partir do fim do período de transição. Por tal fato o comando do Palácio da Cerâmica se coloca contra esses pontos. “Apoiamos todos os manifestos da FNP sobre o tema. Só que a FNP não tem sido ouvida”, aponta o Poder Executivo Municipal por meio de sua assessoria.
A mesma preocupação também é apontada pelo secretário municipal de Inovação e Administração de Santo André, Pedro Seno, apesar da verificação de que o ambiente de negócios poderá ficar mais favorável no futuro.
“Como é de conhecimento de todos que acompanham a proposta de Reforma Tributária no Congresso, neste momento, o objetivo é substituir o ICMS, o IPI, o ISS, e a Contribuição para o PIS e a Cofins por dois tributos sobre bens e serviços (IBS e CBS) coordenados e com base ampla. Do lado da gestão municipal a preocupação maior é sobre o IBS, pois este tributo substituirá o ICMS e o ISSQN dois impostos que representam parte significativa da receita corrente municipal”, iniciou.
“Estes tributos já foram mais representativos para a nossa cidade, mas com o passar dos anos, apesar todos os esforços dos gestores, a cidade vem perdendo representatividade na arrecadação (ISSQN) ou repasse (ICMS) de tais tributos e isso ocorre em função da guerra fiscal que o modelo de tributação na origem proporciona. Santo André é uma cidade com uma economia pujante e com uma população com um bom poder de consumo, portanto não é razoável a nossa arrecadação per capita de ISSQN ser inferior do que a média do Estado. Há distorções no modelo atual que precisam ser corrigidas”, segue o secretário.
“No médio prazo a proposta garante que o nível de arrecadação estará garantido por uma transição suave, assim não a risco de perda de arrecadação. As mudanças mais significativas ficarão do lado do contribuinte que contará com sistema tributário simplificado e um ambiente de negócios mais favorável”, concluiu Seno.
Indústria
O presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Rafael Cervone, se posicionou favorável ao texto, principalmente levando em conta a redução dos impostos e a simplificação do tema. “Agora, precisamos fazer valer o princípio essencial da democracia, que é colocar o Estado a serviço do bem maior da população, do desenvolvimento, da criação de empregos e melhoria da qualidade da vida”, disse o presidente.