Cemitérios se preparam para dificuldades na exumação dos mortos pela covid-19

Cemitérios públicos chegam ao prazo para exumar os mortos pela covid-19. (Foto: PMETRP)

O mês de março marcou os três anos das primeiras mortes pelo novo coronavírus na região. Milhares de pessoas perderam a vida somente no ABC para a doença e como, em geral, após três anos os cemitérios avisam as famílias sobre a desocupação dos jazigos não perpétuos as exumações destes corpos já tiveram início. A dúvida é se esses corpos podem ser exumados uma vez que foram sepultados em sacos mortuários e em urnas lacradas o que dificulta a decomposição.

Por conta de evitar contaminações as vítimas da covid-19 foram sepultadas em sacos apropriados com vedações, as urnas também foram lacradas. Essas providências foram adotadas como protocolos sanitários durante a pandemia. Essa situação traz, no entanto, a preocupação com o processo natural de decomposição, os sacos podem reter os líquidos e há temor de que o período de três anos possa não ser suficiente. Segundo Ivan Miziara, especialista em Medicina Legal e Perícia Médica, e professor da disciplina de Medicina Legal da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), explica que o processo de decomposição depende de uma série de fatores. “O processo natural depende da temperatura e do local dos corpos sepultados, mas em condições normais podem variar de 36 a 60 meses até ficarem esqueletizados”, explica. Ele, porém não acredita em muita influência dos sacos mortuários no processo.

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As prefeituras já consideram a possibilidade de reinumar os corpos que não estiveram completamente decompostos. A prefeitura de Diadema informou que vai adotar esse procedimento de reinumar os corpos por mais dois anos. A cidade tem dois cemitérios, um público sob gestão municipal, que fica no Centro, e outro particular, o Vale da Paz, que fica no bairro de Eldorado. Segundo cálculos da administração, somente na necrópole municipal foram mais de dois mil sepultamentos das vítimas da covid-19.

“Eu acredito que 99% destes corpos não vão estar prontos, ou seja, não estarão totalmente decompostos e vamos ter que reinumar por mais dois anos”, avalia chefe de divisão do Serviço Funerário de Diadema, Jair Batista da Silva. Ele explica que no momento da exumação, se a condição do corpo não for a esperada, o funcionários do cemitério vão abrir o saco mortuário o que vai facilitar a continuidade do processo de decomposição. “Eles vão abrir o saco e proceder a reinumação”. A família do falecido arca com duas taxas neste caso; a de exumação, que é de R$ 333,63, e a de reinumação R$ 193,16. “Se a família não tiver condições financeiras pode optar pelo serviço social, neste caso a prefeitura arca com as taxas, mas para isso é preciso que a família se encaixe nos critérios previstos na lei”, diz Silva.

O chefe do serviço funerário disse que não há muita preocupação em relação à contaminação no momento das exumações, porque passado todo esse tempo não há mais presença do vírus. “O vírus que permanece mais tempo vivo após a morte é o Ebola, mesmo assim só permanece vivo por 84 horas. No caso do novo coronavírus ele vive por apenas 72 horas após a morte do doente, então após três anos não há risco”, explica.

Ainda de acordo com Jair Batista da Silva, a exumação dos mortos pela covid-19 pode trazer de volta a lembrança de muitos momentos difíceis para as famílias. “A covid-19 trouxe muitas situações difíceis para as famílias, foram as perdas de familiares que morreram precocemente, foi a perda da sociabilidade, pois tiveram que ficar em casa por longo período; perda de empregos e de renda; problemas até com a fé, já que os templos religiosos ficaram fechados, e agora vem mais um enfrentamento que é a exumação dos entes queridos, isso vai trazer toda essa lembrança de volta”, aponta.

A prefeitura de Santo André informou que, se momento da exumação os corpos ainda não estiverem decompostos eles permanecerão no jazigo por mais três anos. Apesar de sem risco de contaminação, a prefeitura andreense diz que os profissionais que fazem o serviço de exumação vão usar obrigatoriamente EPI’S (Equipamentos de Proteção Individual), como óculos, luvas, botas e máscaras tipo PFF2.

Santo André tem cinco cemitérios públicos: Sagrado Coração de Jesus, localizado na Vila Camilópolis; Nossa Senhora do Carmo, localizado na Vila Curuçá; Da Saudade, localizado na Vila Assunção; Cristo Redentor, na Vila Pires; e Bom Jesus de Paranapiacaba, que fica na Vila de Paranapiacaba. A prefeitura informou que foram sepultadas 1.859 pessoas mortas pela covid-19 em 2021 e 279 em 2022, todos sepultados em urnas lacradas. O número de mortos do ano de 2020 não foi informado.

As exumações dos cemitérios de Santo André são programadas anualmente, todas publicadas no Diário Oficial. “No dia do sepultamento é deixado com o familiar uma via de sepultamento com um carimbo em vermelho, onde consta a data em que o mesmo deve procurar o cemitério e requerer a exumação. O custo de exumação é de R$ 392,95 (munícipe e não munícipe) referente ao requerimento de exumação, mais R$ 541,18 (munícipes) e R$ 1.141,34 (não munícipe) referente aos nichos para guardar os ossos no próprio cemitério. Caso o familiar queira levar os ossos para cremar ou guardar em algum outro cemitério que lhe convenha e seja autorizado para receber o mesmo, essa segunda taxa não será cobrada e ele deve apresentar uma carta desse local, autorizando o transporte dos ossos para o mesmo. (esse transporte é feito pelo próprio familiar)”, detalhou a prefeitura sobre os procedimentos.

São Bernardo não informou procedimentos específicos para os mortos pela covid-19. Relatou apenas que nos quatro cemitérios públicos da cidade (Baeta Neves, dos Casa, Paulicéia, e Vila Euclides) o prazo para ocupação das sepulturas é de até três anos. “Após esse período, é preciso providenciar a exumação dos despojos mortais para cemitério ou cremação particular. Caso não seja providenciado, o município promove, após publicação dos atos no Diário Oficial, a exumação para o ossuário geral, onde ficará perpetuamente”, diz nota da administração.

As prefeituras de São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não se pronunciaram sobre o assunto.

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