ABC tem 50,7 mil imóveis em áreas de risco alto ou muito alto para deslizamentos

Enquanto os dados do Censo, tabulados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), não forem divulgados as ações da Defesa Civil dos municípios estão prejudicadas porque não se sabe, ao certo, quantas pessoas vivem nas áreas consideradas de risco alto e muito alto para deslizamentos. Na terça-feira (21/2), um deslizamento na rua Antonio Julio Conde, no Jardim Zaíra, em Mauá, matou uma mulher e pelo menos três ficaram feridas em deslizamentos pela cidade. O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) sustenta que as informações censitárias são fundamentais para estabelecer planos de prevenção, rotas de fuga e formato de alerta para esta população. O ABC tem mais de 50,7 mil imóveis em áreas de risco alto ou muito alto, segundo a Defesa Civil estadual.

A diretora do Cemaden, Regina Alvalá, diz que o órgão tem observado com preocupação o aumento dos fenômenos climáticos extremos. “O que temos no verão são volumes de chuva muito altos em curto intervalo de tempo, ou chuva moderada que ocorre por um longo período de tempo, aí o solo encharca o que pode culminar com desastres. Ontem [terça-feira] diversos alertas foram disparados para diversas partes do Estado”, diz. As cidades do ABC estão entre as que receberam alertas que podem ser moderados, de risco alto ou de alto risco.

Newsletter RD

São vários fatores considerados na previsão e depois na emissão de alertas. “Monitoramos 1.038 municípios com áreas consideradas de risco e esse trabalho acontece 24 horas, ininterrupto. Analisamos dados de mais de três mil pluviômetros, informações sobre descargas elétricas, dados de satélite e fazemos o acompanhamento dos sistemas climáticos. Tudo isso é para que possamos emitir os alertas no tempo mais breve possível. A gente pode até prever chuva para uma semana, mas a possibilidade de acerto no volume e a localização exata é maior se for uma previsão para o dia seguinte. Tem muitos fatores que podem influenciar, como uma frente fria que traria chuva e dissipar por ventos ou algum tipo de barreira. É um conjunto de ingredientes, então não dá para acertar o volume de chuva, com muita antecedência, mas a gente trabalha para que esse aviso seja feito com a maior antecedência possível”, explica.

A chegada dos alertas para possíveis desastres como inundações e deslizamentos depende de uma ação rápida de comunicação. O Cemaden deve informar o Cenade (Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres) que informa as prefeituras, mas esse rito tem sido abreviado. Segundo Regina Alvalá, as prefeituras pediram para serem informadas, ao mesmo tempo, que o Cenade, para que possam agilizar a tomada de providências.

Para o professor e membro do Laboratório de Gestão de Riscos da UFABC (Universidade Federal do ABC), Vitor Vieira Vasconcelos, a fixação de moradias em áreas de risco padece da falta de planejamento

Segundo dados da Defesa Civil do Estado, levantados pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) com dados de 2020, o ABC tem 50.768 imóveis considerados em áreas consideradas de risco alto ou muito alto. Quase todas as cidades da região têm áreas de risco de deslizamento, exceto São Caetano, já que todas as áreas de risco da cidade são relacionadas a inundações. “Esses eventos extremos estão mais frequentes. Estamos bastante preocupados”, completa.

Falta de planejamento

Para o professor e membro do Laboratório de Gestão de Riscos da UFABC (Universidade Federal do ABC), Vitor Vieira Vasconcelos, a fixação de moradias em áreas de risco padece da falta de planejamento e a remediação com obras feitas pelo poder público é cara, e os municípios acabam gastando em outras áreas também prioritárias.

“O poder público não tem recursos suficientes para as obras, que devem ser pensadas para durar vários anos. Nas comunidades mais pobres e de risco existe um monitoramento climático e há planos municipais de redução de riscos”, diz o professor que participou do estudo que atualizou dados de áreas de risco para a Prefeitura de São Bernardo. “O ideal seria que as prefeituras tivessem seu próprio corpo técnico para fazer esses estudos, mas poucas têm e o ABC leva uma vantagem importante sobre outras regiões do Estado que contam com áreas de risco, porque conta com a UFABC na atualização dos dados dos assentamentos precários, isso é uma vantagem que veio através de um convênio com o Consórcio Intermunicipal”, afirma.

Outro ponto levantado pelo professor da UFABC é a falta de continuidade das ações no âmbito municipal. “Muda um prefeito e tudo que foi estudado, levantado e o treinamento do pessoal, que é cargo de indicação, se perde. O ideal é que a Defesa Civil tivesse técnicos e que fossem funcionários de carreira”, ressalta.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes