ABC - segunda-feira , 29 de abril de 2024

Mais de 6 mil quilômetros de fios irregulares são retirados de postes no ABC

Postes da Enel ficam sobrecarregados com a quantidade de fios das empresas de telecomunicação. (Foto: George Garcia)

Um levantamento feito pela concessionária de energia Enel a pedido do RD mostra que foram retirados mais de 6 mil quilômetros de fiação irregular ou clandestina dos postes da companhia somente este ano no ABC.

O levantamento leva em consideração o intervalo de janeiro a setembro e mostra que a maior quantidade de fios irregulares foi verificada em São Caetano. Quanto à fiação clandestina, aquela de empresas não regularizadas e sem contrato com a Enel para uso dos postes, a campeã do ABC é Diadema.

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O responsável pela área de planejamento da Enel, Márcio Jardim, diz que o ABC não foge da média da região metropolitana quanto ao recolhimento de fios de empresas clandestinas ou de instalações irregulares das empresas de telecomunicação. Segundo ele o maior problema do emaranhado de fios que acontece na parte mais baixa dos postes, por onde trafegam os sinais de Tv, internet e telefone, são os fios clandestinos que podem sobrecarregar os postes. “Num fluxo normal, as empresas regulares apresentam um projeto para a distribuidora onde é feito uma análise de esforço físico inclusive dos postes que estão no local, se eles vão suportar esse esforço. Quando pendura um cabo de forma irregular não se tem esse cálculo. É raro ter queda e quebra de poste mas pode acontecer, é comum que cedam um pouco e aí acontece aquela barriga nos cabos, aí um pedestre pode passar e acabar se machucando, pode cair cabo, pode passar veículo ou motociclista e ter dano ainda pior, o que a gente poderia ter controlado se tivesse uma ligação regular”, analisa.

A fiação de telecons clandestinas pode ainda causar incêndios, segundo explica Jardim. “Existe uma corrente e tensão circulante, que é pequena, mas o ponto de eventual incêndio pode acontecer se esses cabos gerarem algum curto. Esse fogo pode chegar à rede de energia elétrica e o sistema de proteção vai atuar desligando a luz naquela região”, explica o técnico da Enel.

Outro problema tão grande quanto a presença de empresas clandestinas nos postes são as empresas regulares que não retiram os fios que estão inativos. “Eu diria que esse é o grande vilão do sistema ao lado das empresas irregulares, pois nem sempre as empresas desinstalam. Só esse ano a gente teve 554 mil postes inspecionados e 340 mil irregularidades (na área de concessão que tem 24 cidades). Se identificamos rede possivelmente desativada a gente comunica a empresa para a retirada. Nessas inspeções as empresas são notificadas e têm prazo de 90 dias para tirar o irregular e o que está inativo”, disse Jardim. Se o material não é retirado, a Enel tira e deposita em um local que fica a disposição por 90 dias. Se não for reclamado ele é levado para uma usina onde é transformado em componente para cimento.

Outra irregularidade apontada por Márcio Jardim é o uso de postes como estoque de reserva das empresas de telecomunicação; são aqueles carretéis de fios pendurados nos postes, o que é uma prática irregular, segundo o representante da Enel. “Isso acontece com as empresas regulares e com as irregulares. Esse peso a mais não é calculado no projeto, então isso não é legal, não faz parte do nosso contrato, isso também é objeto de inspeções”, diz o responsável pela área de planejamento da Enel. Segundo ele quem encontrar suspeitas de fios irregulares ou inativos, fios cortados ou caídos no chão ou à altura de pedestres, ou ainda pessoas suspeitas acessando a fiação pode denunciar por email (atendimento.nas@enel.com) ou pelo telefone 0800-7271196. “Importante que, em hipótese alguma se toque nesses cabos que podem causar acidentes”.

Além dos problemas com as empresas de telecomunicação há também a situação de criminosos que furtam cabos dos postes, sejam de energia ou não. Esses fios cortados que permanecem nos postes podem estar energizados e gerar vários acidentes. “Além do risco à segurança da população, pois dependendo da altura, pode ficar ao alcance da pessoas, pode ser cabo de energia então o importante é não se aproximar e fazer o contato com a distribuidora. Com intempéries esse cabo cortado pode ocasionar o curto na rede e o sistema atua para prevenir acidente e haverá desconforto que é falta de energia o que ninguém quer”, disse Márcio Jardim, que completa que a Enel tem uma equipe destacada apenas para esse tipo de fiscalização de redes irregulares, fios caídos e inativos.

 

Para especialista até mesmo uma carga baixa de energia pode matar

Para o doutor em engenharia elétrica e professor do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), Ricardo Caranicola Caleffo uma carga mesmo pequena de energia pode causar a morte de uma pessoa. Os fios de telecomunicação em geral têm uma tensão muito baixa, mas se estiveram encostados a uma rede de energia podem conduzir uma descarga maior.

Fios partidos estão ao alcance de pedestres na rua Alabastro, no bairro Parque Real, em Diadema. (Foto: George Garcia)

“Podemos falar em risco no setor de telecomunicações e no de energia elétrica. Os riscos das teles são de várias empresas ofertando num mesmo ponto, os riscos de energia elétrica geralmente tem aspecto diferente, são ligações irregulares. A parte que tem maior risco é a das ligações irregulares. Na parte de telecom o que acontece muito é ter vários serviços ofertados e outros fios lá sem uso, o que aumenta os riscos. Outra coisa muito perigosa é o roubo de fios. Quanto alguém rouba um fio geralmente rouba um pedaço e outro pedaço fica e continua energizado ele é um fator de risco para as pessoas que estão nas proximidades desse poste. O nosso sistema biológico é extremamente sensível a sinais elétricos. A intensidade de corrente elétrica que o ser humano suporta é extremamente baixa, então uma corrente de 20 miliampéres, ou seja, de 0,020 ampéres já é capaz de provocar uma parada cardíaca. Então se nós tivermos um fio desencapado, exposto ou caído na rua e ele estiver energizado é extremamente perigoso”, diz o professor da Mauá.

De acordo com Caleffo o ideal seria que toda essa fiação fosse subterrânea. “Isso permitiria uma melhor circulação das pessoas nas vias e facilitaria inclusive a manutenção dos serviços. Se fosse subterrânea somente as pessoas que prestam serviço para essas empresas teriam acesso, não teria risco de pessoas não pertencentes a elas estarem próximas aos fios”, diz o especialista.

O professor também destaca a questão dos fios inativos que não são retirados pelas operadoras de Tv, telefonia ou internet. “O fio fica lá porque é custoso do ponto de vista financeiro enviar uma equipe para fazer a retirada de todo o aparato então geralmente elas acabam deixando lá o que acarreta riscos. Quando um projeto é feito dentro de certas especificações, se estiver fora delas, o projeto está trabalhando fora da sua ideia inicial, e isso pode causar risco para as pessoas que estão circulando nas proximidade dessas ligações.

O professor de engenharia elétrica lembra um estudo feito pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em 2019 que mostrou que apenas 42% das empresas de telecomunicação possuíam algum contrato com as empresas de energia. “Isso significa que menos de 50% das empresas de telecomunicações estão conversando com as que fornecem energia elétrica. Então aquelas conexões que estão no poste muitas vezes podem entrar em conflito, porque não há uma padronização entre as empresas que ofertam o serviço”, conclui.

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