Represamento na Saúde prejudica atendimentos médicos no ABC

Cidades realizam mutirão de atendimento clínico, exames e cirurgias para contornar a situação (Foto: Pedro Diogo)

Dados fornecidos pelas prefeituras da região mostram que, até hoje, existe represamento no atendimento médico em algumas especialidades da rede pública de saúde, ainda em razão da pandemia. Na tentativa de driblar ou resolver o problema, as cidades têm feito mutirões de atendimento, exames e cirurgias, mas ainda há registro de falta de atendimento médico e filas que perduram meses.

Uma munícipe de Mauá, que prefere não ser identificada, conta que seu filho aguarda, desde o ano passado, atendimento de urgência com odontologista na UBS Santa Lídia, no município. “Tenho meus dois meninos para levar e estou desde o ano passado tentando. Agora (este mês), que chamaram um deles, mas o outro ainda não tem nem previsão”, conta. Segundo ela, o atendimento que antes da pandemia acontecia nos três períodos na cidade agora acontece só na parte da manhã.

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A munícipe relata, ainda, falta de médicos clínicos e psicólogos na Unidade de Saúde. “Está um verdadeiro caos médico. Quase sempre que vou buscar atendimento não tem quem atenda e psicólogo então nem se fale, estou esperando há meses pra ser chamada”, relata. Em nota, a Prefeitura reconhece que alguns procedimentos ficaram represados, em razão da pandemia, mas diz que a UBS dispõe de profissional fixa na unidade, que vem se empenhando para zerar a fila de espera.

Em relação ao clínico, há tempo de espera médio de 15 dias – desde o agendamento até a data de consulta com o clínico, para rotina. Já a odontologia, a Prefeitura informa que, mensalmente, são ofertadas 45 vagas para avaliação e início de tratamento, que terminam conforme a procura, mas tornam a abrir no mês seguinte.

Em São Bernardo, moradores do Batistini também têm sofrido com o represamento no atendimento médico na região. Exemplo é a moradora Talita Cristina Nicoletti Cricca, que precisou tirar dinheiro do próprio bolso para pagar exames de rotina de seu filho, Kenzo, após a UBS Batistini informar que não realizaria os exames do menino, em razão da pandemia. “Fui informada que a UBS estava fazendo só exames de urgência e, desde então, nem os exames anuais para ver se está tudo bem conseguimos fazer”, conta.

A mãe relata que os desafios não estão só no âmbito dos exames médicos, mas avançam também quando o assunto é o atendimento médico. “Esse ano nem pra consulta ele foi chamado”, lembra. Talita conta que o menino é acompanhado pela UBS desde que nasceu e hoje, aos oito anos, enfrenta os primeiros problemas. “Aconteceu agora, durante a pandemia, quando suspenderam atendimento com pediatra. Precisei brigar para conseguir uma vaga pra ele e brigar de novo para que a médica pedisse exames de rotina, porque só queriam pedir em casos de urgência ou emergência”, diz. Foi quando a mãe realizou os procedimentos em clínica particular, após a UBS se recusar em fazer os procedimentos no menino.

Para piorar a situação, Talita lembra que o garoto foi encaminhado por uma neurologista para atendimento com psicólogo, mas fez a solicitação com a Prefeitura e aguarda, há mais de um ano, que o garoto seja chamado. Quando a mãe cobra um posicionamento da Prefeitura, via canal digital – disponibilizado pela Prefeitura – não há qualquer tipo de retorno. “Agora, o que adianta oferecerem uma opção de contato via whatsapp se nem sequer respondem? Quando liguei na UBS e cobrei, nem sabiam o que responder, porque sabem que é um serviço falho”, diz.

Em nota, a Prefeitura de São Bernardo informa que durante a pandemia contratou cerca de 1.500 profissionais da Saúde para reforçar a rede municipal. No pico da crise sanitária, a cidade chegou a ter cerca de 10% dos profissionais da rede de Atenção Básica temporariamente afastados de suas funções por suspeita ou confirmação da doença.

Especialmente no caso de Talita, a administração informa que há registros de atendimento à paciente citada em 2022, com cirurgião dentista. Já o seu filho é acompanhado pela Equipe de Saúde da Família e por neurologista no CER IV. “Não consta no sistema nenhuma pendência para exames laboratoriais de rotina, que são realizados com a apresentação do pedido médico, de segunda a sexta-feira, sem a necessidade de agendamento, em qualquer uma das 33 UBSs”.

Sobre o atendimento via WhatsApp, a Prefeitura informa que as unidades usam o meio de contato como alternativa de comunicação, mas os pacientes também podem procurar a unidade de saúde mais próxima da residência para acolhimento e avaliação da equipe de saúde da família, com posterior encaminhamento para o psicólogo do NASF.

Represamento

Desde o início da pandemia, São Caetano contabilizou 797 funcionários afastados na área da Saúde, por motivos diversos. Para contornar a situação, a administração intensificou as contratações de profissionais e passou de 2.825, em 2019, para 3.041 este ano, e lançou o programa ProSaúde Fila Zero, para acelerar consultas, exames e cirurgias que ficaram represadas.

Algumas demandas já foram totalmente contempladas como as consultas em ortopedia onde havia uma fila represada de 5 mil atendimentos e já foram realizados 4.684 consultas. As cirurgias odontológicas que tinha demanda de 500 e hoje já atendeu 85% dos casos. O mesmo acontece com as cirurgias oftalmológicas, onde já foi atendida 62% da demanda.

Ribeirão Pires chegou a ter 33 funcionários da saúde afastados simultaneamente em decorrência de Covid ou síndrome gripal. Para evitar prejuízos, no ápice da pandemia Ribeirão Pires solicitou que alguns funcionários fizessem hora extra para atender a população. Porém, algumas consultas eletivas deixaram de ser realizadas. Cardiologia, Pneumologia, Ortopedia e Endocrinologia foram algumas especialidades que tiveram grande fila durante a onda mais forte de casos de Covid-19.

Para contornar a situação, a cidade inaugurou, em maio, o novo Centro de Especialidades Médicas e o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher, que aumentou a capacidade de atendimento em 60%. Com isso, a administração garante que a fila das consultas eletivas já estão sendo sanadas. “Exames por mamografia, por exemplo, já teve a fila zerada, outros procedimentos também, como vasectomia e laqueadura”.

Diadema também tem realizado várias ações para fortalecer a Atenção Básica, tais como, implantação do Programa UBS Nota 10, que prevê 10 pontos de melhorias, entre eles, a recomposição das equipes de Saúde da Família. Além disto, a Prefeitura tem feito de forma sistemática chamamento de profissionais aprovados no Concurso Público nº 40.

Santo André e Rio Grande da Serra não responderam os questionamentos.

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