O mundo acompanha com expectativa e tensão o que ocorre no leste europeu com a crise envolvendo a Rússia, a Ucrânia e os países membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). As possíveis consequências de um conflito militar causam temor em diversos países. Para explicar um pouco do que pode ocorrer em território brasileiro, o RDtv entrevistou nesta terça-feira (22/2) o economista e professor de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC), José Paulo Guedes Pinto, sobre o assunto.
O especialista aponta que o conflito, por enquanto, político pode trazer investimentos para o Brasil, o que pode gerar consequências boas para o consumidor final, pois, traria uma possível queda dos preços. Por outro lado, pode trazer problemas para as empresas que passariam a concorrer com produtos estrangeiros mais baratos em consequência da queda do dólar.
“Estamos vivendo um dos fatores que é a queda do dólar, que é algo ambíguo. O dólar está caindo, porque têm várias questões. Hoje, no mundo, você tem um excesso de liquidez, assim como parte a crise de 2008, quando o dólar está mais barato, tem moeda disponível no mundo e isso é sinal de um período longo de acumulação capitalista, ou seja, quem tem muito dinheiro está buscando lugares para ganhar mais”, explicou.
Com existe uma tensão no leste europeu e que acaba reverberando para o continente inteiro, pois a Rússia é uma grande fornecedora de matrizes energéticas como o gás, os investidores acabam apostando em nações que contam com certa infraestrutura e que sejam locais baratos, como o caso do Brasil. Com a entrada maior de dólares e outros fatores econômicos, o Real fica menos desvalorizado nesse primeiro momento.
Assim, os produtos que contam com maior parte de seus componentes oriundos do exterior ou que são totalmente importados ficam mais baratos em comparação aos que são fabricados no Brasil. Menor compra de produtos nacionais, menos investimento na indústria e a consequente possibilidade de mais demissões.
José Paulo não considera que as ações do governo de Jair Bolsonaro (PL) nos últimos tenham colaborado para o bem ou para o mal em todo esse processo. Nem mesmo o fato do Brasil participar do Brics (grupo geopolítico e econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) teve influência neste processo, principalmente pelo fato de Bolsonaro ter se afastado do grupo nos últimos anos, principalmente entre 2019 e 2020 quando focou o seu apoio às políticas oriundas do governo do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Nem mesmo o recente encontro com Vladmir Putin, presidente russo, fizeram qualquer mudança neste cenário. “O Bolsonaro não foi destratado nesse encontro, mas também não teve um super tratamento. Conseguiu fechar alguns acordos para o agronegócio, mas não teve qualquer relação com esse conflito, diferente do que espalhados em fake News”, disse o professor.