Apesar do clima de crise com a inflação corroendo a base da economia das famílias, o que reduz o potencial de compras de fim de ano, o comerciante deve continuar a investir no ambiente de vendas natalinas, ainda que as previsões apontem para um resultado menor de caixa. A análise é Paulo Cereda, gerente regional do Sebrae (Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa). Cereda participou do RDTv desta segunda-feira (22/11) e falou sobre o trabalho que realiza com empresas e prefeituras da região.
Paulo Cereda afirma que o empresário tem de fazer uma boa análise do ambiente em que a empresa está inserida. Neste momento duas variáveis são importantes, a do ambiente econômico e o tecnológico. “Econômico porque espero que continuemos saindo da pandemia para poder retomar a vida em padrões de normalidade, sem restrições sanitárias. Esse período que passamos em casa tem trazido alguns efeitos, como o processo de inflação mundial, não é só no Brasil, e quanto mais sobe a inflação menor a renda que as famílias têm para gastar com compra de presentes ou qualquer outro item. O elevado índice de desemprego e de incerteza fazem com que as pessoas fiquem mais pessimistas no seu hábito de consumir”, analisa.
Segundo Cereda, por conta dessas dificuldades é importante que o comerciante considere um tíquete médio menor na Black Friday e no Natal. “Também temos de levar em consideração o que está sendo chamado de consumo de vingança; ficamos tanto tempo em casa sem poder consumir, sem gastar, que algumas pessoas tendem a fazer um gasto um pouco maior. Talvez não se perceba isso nos eletrodomésticos e eletroeletrônicos, mas porque já durante a pandemia muita gente gastou mais com isso por necessidade de estar em casa ou por melhor estrutura para trabalhar”, diz.
Ao analisar o lado tecnológico, o segundo mais importante na avaliação de Cereda, os comerciantes devem impulsionar suas vendas digitais e se ainda não atuam dessa forma nunca é tarde para começar. O uso de ferramentas de gestão pode ajudar o comerciante a ter mais à mão as rédeas do negócio. “A transformação digital impacta a empresa, melhorando os seus processos internos de gestão, tornando-os mais efetivos, com controles, análises de resultados e indicadores, através do uso de softwares e tecnologias que melhorem a possibilidade de analisar, que transformam, melhoram e aceleram o relacionamento com o consumidor final. E aí temos que entender que ter canais de divulgação e de vendas que sejam digitais hoje é fundamental, não tem como fugir”, diz o gerente regional, economista por formação.
Ainda têm muitos consumidores e comerciantes que acreditam somente no atendimento presencial, mas esse público tem ficado raro. Para Cereda, os dois tipos de venda devem coexistir, mas com tendência para o virtual crescer. Mas o sucesso de venda, diz, depende de passar um clima natalino e festivo seja no presencial ou no virtual. “Dentro do ato de consumo tem a diversão e a experiência do interior da loja, do enfeite, do cheiro, da música de Natal e tem a população mais jovem que tem a sua experiência de compra no ambiente virtual. Então seja no virtual ou no presencial é importante que você tenha para o seu cliente uma excelente experiência de compra, que ele possa vivenciar a data comemorativa, o tal do espírito natalino, a alegria de presentear um ente querido ou estar em uma ceia de família, ou seja, criar um ambiente que seja gostoso de visitar, o site da empresa ou as redes sociais, levando para o clima natalino. Faça um bom atendimento e capriche no pós-venda”, recomenda.
Pós-venda
Paulo Cereda explica que a venda online não é apenas entrar em uma plataforma de marketplace. Tem de reunir um bom preço, bom produto, bom atendimento e um bom pós-venda. “É preciso marcar um bom preço, ter bons meios de pagamento, mas é pensar na logística reversa, ninguém pensa; e se o produto não dá certo, como fazer para trazer de volta de maneira eficiente e fazer a troca? Pouca gente pensa nisso. Não é só o produto que se vende, mas o serviço que oferece, como um site fácil de se cadastrar, que tenha um suporte humano rápido e fácil de acessar sem aquela gincana de números até chegar no lugar e falar com um ser humano, isso é o valor do serviço. Se eu sofro para chegar naquele consumo, vem aquele custo que pode me levar a desistir da compra, como filas, dificuldade para estacionar, calor, provador apertado, isso tudo diminui a percepção de entrega de valor que eu fiz”, explica.
Digital
De acordo com Paulo Cereda ainda vai ter algum espaço para aquele comerciante que não investe nas redes sociais, porque prefere fazer venda presencial, mas segundo ele não vale a pena investir no cliente que só compra no presencial. “Então não tem jeito de manter a minha sobrevivência só com o canal presencial, mas também não só o virtual porque o presencial tem o seu valor. O presencial e o remoto vão conviver dentro da expectativa de entrega de cada um, o que eu preciso entender é qual a expectativa de entrega que um cliente tem para preferir o virtual e qual a expectativa de entrega para preferir o presencial”, analisa.
O Sebrae tem mantido treinamentos gratuitos durante toda a pandemia, e apostado em parcerias com as prefeituras, por meio do Consórcio Intermunicipal e da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC. Ao todo, conseguiu só este ano atender 2.042 empresas em programas estruturados com consultoria e 11.077 pessoas dentro do empreenda rápido. Das empresas, 92% mantiveram ou aumentaram o faturamento no ano de pandemia e 87% recomendam o Sebrae para outros clientes. “Depois de três anos trabalhando com empresas de tecnologia, no próximo dia 30 vamos na sede do governo do Estado, na Secretaria de Desenvolvimento, para entrar com o nosso pedido de Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação e Comunicação, colocando o ABC na crista da nova matriz econômica mundial”, anuncia Cereda.
Nas parcerias com os municípios o Sebrae está com um pacote de treinamentos e consultorias, que teve início este ano e deve ir até maio do ano que vem, e que pega o eixo de compra pública, desburocratização, treinamento e formação de agentes de desenvolvimento e a legislação que reduz o tempo de formalização de uma empresa. “Estamos trabalhando com todas as prefeituras da região. E tem ainda o trabalho em eixos, como de Turismo, Tecnologia e Metalmecânica”, completa.