Em entrevista ao RDTv nesta sexta-feira (12/11) o infectologista Adilson Joaquim Westheimer Cavalcante, gestor em Saúde e professor do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC, fala dos desafios da gestão do HEMC (Hospital Estadual Mário Covas). Ele assume a superintendência do hospital a partir de 1° de dezembro e para ele, o maior de todos os desafios será controlar a fila para cirurgias que foram represadas durante a maior parte da pandemia e que agora voltaram a ser agendadas.
“Realmente a pandemia da covid-19 está melhorando no ABC e no país, com o avanço da vacinação. A população está procurando tomar as duas doses e o reflexo disso são os leitos hospitalares que já estão sendo disponibilizados para o tratamento de outras doenças que ficaram represadas durante a pandemia; as cirurgias eletivas que foram canceladas estão sendo retomadas. O desafio é tratar essa epidemia deixada pela pandemia. Controlar e acertar a fila de cirurgias. É grande a quantidade de doenças crônicas que ficaram sem consulta e acompanhamentos médicos durante essa pandemia, esse é um problema no Brasil inteiro”, diz o infectologista.
Os corredores do Mário Covas são bem conhecidos por Cavalcante que já trabalhou lá logo que o hospital foi entregue. O HEMC é estadual e gerido pela Organização Social de Saúde (OSS) Fundação do ABC. O hospital não atende apenas o ABC, mas também parte da Zona Leste da Capital e Baixada Santista. “É um hospital muito bom para a comunidade e estou muito feliz por poder voltar. O Mário Covas fez parte da minha história, conheci o hospital lá no início quando ele foi inaugurado e fiquei muitos anos trabalhando lá, depois disso vim para São Bernardo onde estou até hoje. Até dezembro a expectativa é que eu retorne ao Hospital Mário Covas com uma nova missão; serei o diretor geral, o superintendente do hospital, há anos venho gerindo hospitais públicos aqui em São Bernardo, que também têm vínculo com a Fundação do ABC, portanto amadureci, aprendi muito, me sinto preparado para isso”, diz o médico.
De acordo com Cavalcante, com a suspensão das cirurgias eletivas por conta da covid-19, as doenças mais prevalentes, com hérnia, das vias biliares (vesícula) e das vias aéreas superiores, que precisavam de cirurgia como tratamento, tiveram um represamento. “Temos estudos de universidades que mostram que a gente deva levar de dois a três anos, no mínimo, para resolver esses problemas cirúrgicos. Agora os pacientes estão sendo chamados, entretanto doenças de alta prevalência a fila nunca vai estar zerada. Do ponto de vista cirúrgico não existe fila zerada, existe fila controlada. A missão dos gestores de saúde é controlar essas filas fazer com que a população receba um bom atendimento e em tempo hábil”, diz o novo superintendente.
Todo o procedimento até se chegar a cirurgia é demorado o que faz com que a fila ante mais lentamente. “Um paciente que necessita de cirurgia vai passar por pelo menos cinco consultas médicas entre passar no hospital fazer os exames e voltar no médico. Se é um paciente idoso que tem outras doenças como pressão alta, diabetes, algum outro problema hormonal, muitas vezes a equipe, por uma questão de segurança, pede uma opinião de um outro especialista. Junto com isso o grande desafio é trabalhar com a população e incentivar as pessoas a procurar o médico de família e ver se a sua saúde está em dia, se precisa reforçar algum tipo de vacina”, recomenda. “Os postos de saúde estão preparados para isso. Porque trabalhar com a prevenção é muito mais fácil do que o tratamento”, continua.
Mas Adilson Cavalcante acredita que, com a desmobilização dos leitos para covid é possível pegar essa estrutura e reduzir o tempo para o controle da fila cirúrgica. “Se pegar a nossa capacidade de atendimento no ABC se todos nos organizarmos é possível que esse problema seja sanado em um tempo mais curto. Ainda não me inteirei sobre os números atuais do Mário Covas, mas é um hospital que faz em média mil procedimentos cirúrgicos por mês, que é um número muito bom, que mostra que o hospital se organiza para fazer um bom atendimento e manter essa rotina funcionando”, analisa.
O médico ainda não conhece a situação de gestão do hospital, o que ele vai ficar sabendo durante reuniões de transição, por isso ele ainda não tem traçadas metas, mas ele já tem uma área em que pretende focar estudos para melhorar o atendimento, que é a Farmácia de Alto Custo, alvo de críticas dos usuários pelo grande volume de atendimentos e as consequentes filas. “Já me disseram que existe uma fila muito grande, na espera para a retirada de medicamentos de alto custo, vou sentar com a equipe da farmácia e tentar entender como nós podemos organizar a entrega com hora marcada para que elas não fiquem tanto tempo esperando”.
Máscara
Para o infectologista a situação do Estado e do país ainda não permitiria a liberação do uso de máscaras como prevenção à covid-19. Os prefeitos do ABC, em reunião do Consórcio Intermunicipal nesta semana deliberaram que a região vai manter o uso da proteção pelo menos até dezembro, mas a avaliação pode mudar caso o governo do Estado resolva liberar. “A OMS (Organização Mundial de Saúde) ainda não encerrou a pandemia, embora os casos tenham diminuído muito, ainda temos muitos casos diagnosticados, ainda temos pacientes precisando de internação hospitalar e ainda temos pessoas morrendo por essa doença. A vacinação já avançou muito, aqui em SBC 100% da população já recebeu pelo menos a primeira dose e estamos caminhando para esse mesmo número oferecendo a segunda dose e o Estado também está nesse ritmo então, com toda a população vacinada, com o número de casos diminuindo eu creio que em 2022 é possível discutir a retirada da máscara em locais abertos, mas em locais fechados, enquanto existir a pandemia, eu acho que vai ser prudente que as pessoas mantenham esse bom comportamento. Eu adoro abraçar amigos, o povo brasileiro gosta muito disso, mas acho que devemos esperar mais um pouco, ser mais cautelosos, estamos chegando no final do ano que tem muitas festas, Natal, Ano Novo e Carnaval. Com todo mundo vacinado, fazendo sua parte e evitando excessos vamos vencer a pandemia. A máscara vai ser bastante discutida no momento em que a OMS decretar o fim da pandemia, enquanto durar a pandemia da covid-19, ainda que os números estejam controlados eu acho que o comportamento individual, de medidas de prevenção individual devem ser mantidas”, finaliza o infectologista.