ABC - segunda-feira , 29 de abril de 2024

Hospitais de campanha para covid-19 começam a ser desmontados no ABC

Hospital de Campanha de Ribeirão Pires foi desativado no dia 31 de julho (Foto: divulgação)

Com baixas demandas de internação, as prefeituras do ABC começam a desmobilizar os hospitais montados para atender vítimas da covid-19. Desde o mês passado, ao menos dois hospitais encerraram as atividades, o da UFABC (Universidade Federal do ABC), em Santo André; e o de Ribeirão Pires, desativados nos dias 30 e 31 de julho, respectivamente. Uma dúvida é sobre o destino dos profissionais contratados para atuar na linha de frente.

Em Santo André, a Prefeitura iniciou a transferência de equipamentos para unidades de referência. Já Ribeirão Pires manterá a estrutura no local para atender pacientes caso uma terceira onda acometa a região. Vale lembrar que, em março, a cidade registrou colapso na saúde pública ao atingir 100% de ocupação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

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No momento, as vítimas da covid-19 e Ribeirão Pires são atendidos no Complexo Hospitalar da UPA Santa Luzia, em uma ala específica e isolada. Ao todo, são dois pacientes na UTI. Já em Santo André, os pacientes são encaminhados para outros equipamentos de saúde.

Precaução

São Bernardo anunciou ao longo da pandemia dois hospitais permanentes para enfrentamento da covid-19: o Hospital de Urgência (HU) e o Anchieta, que juntos ampliaram a oferta de leitos da cidade em 359. Apesar da baixa demanda de internação, com 14% e 19% leitos, respectivamente, manterá o serviço ativo até que se encerre a pandemia. Após isso, o HU irá substituir o PS Central, enquanto o Anchieta será de referência em Oncologia.

Com gasto médio mensal em R$ 1,5 milhão/mês, São Caetano ainda não tem previsão para desmontar o hospital de campanha da cidade, uma vez que 19 pacientes seguem internados com a covid-19. Segundo a Prefeitura, a desmobilização dependerá da evolução do cenário pandêmico.

Diadema não possui hospital de campanha na cidade. Mauá e Rio Grande da Serra não respondeu até o fechamento da reportagem.

Profissionais da saúde

Uma dúvida recorrente para quem trabalha no setor de saúde é o destino dos profissionais de saúde que atuam nos hospitais de campanha após a desmobilização das unidades. Em entrevista ao RD, um enfermeiro que atua na linha de frente do hospital de campanha, em Santo André, diz não conviver com medo, porque tem outro emprego na Capital, mas que diante do atual cenário, muitos devem ficar desempregados.

Segundo o enfermeiro, foi estipulado contrato para que os profissionais da saúde pudessem atuar na linha de frente no combate à covid-19, no entanto, com a aproximação da desmobilização, nenhum funcionário foi informado do que aconteceria. “O hospital da UFABC já foi desativado e realocaram o pessoal, mas e o restante? Muitos nem conseguiram tirar as folgas direito durante a pandemia e agora correm o risco de ficar sem emprego”, relata.

O hospital de campanha do Complexo Pedro Dell’Antonia conta com aproximadamente 400 colaboradores, entre médicos, equipe de enfermagem, equipe multiprofissional e equipe de apoio. O gasto mensal com o hospital gira em torno de R$ 6.500.000,00. Atualmente há 45 pessoas internadas em leitos de enfermaria e nenhum paciente em UTI. No CHM (Centro Hospitalar Municipal) há 56 pacientes em leitos de UTI e nenhum em enfermaria. Há ainda três pacientes internadas no Hospital da Mulher, todas em leitos de enfermaria.

São Bernardo informou que devido à criação de mais dois equipamentos de saúde, haverá reajuste no quadro de funcionários e não há previsão de demissões. Enquanto isso, São Caetano mantém os cerca de 44 médicos, 21 enfermeiros e 58 profissionais em atuação no hospital de campanha. Já Ribeirão Pires, que contratou profissionais por meio de empresa prestadora de serviço terceirizado, encerrou vínculos empregatícios no final de julho.

O presidente do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores da Saúde) ABC, Almir Mizito, diz não ter recebido demandas em relação ao assunto, até porque “muitos profissionais aproveitaram a pandemia e trabalharam em dois empregos”. Segundo o dirigente, os vínculos são mantidos com recursos específicos para a pandemia e conforme os hospitais são desativados, a tendência real é de dispensa. “Mas nossa proposta é que os municípios façam um esforço para reaproveitar a mão de obra, isso devido à escassez de funcionários nos equipamentos de saúde”, diz.

O sindicato, no entanto, não soube informar o número de profissionais de saúde da região que se encontram nesta situação.

Variante delta

Preocupação na desmontagem das estruturas que serviram de apoio para os equipamentos de saúde é a variante delta, que já atingiu 111 países, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar do ABC ainda não ter registrado casos da variante, a Capital já tem diagnósticos positivos, o que no ponto de pista do pneumologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC, Elie Fiss, é fator preocupante. “Estamos falando de regiões transitórias, onde as pessoas circulam rotineiramente entre ir trabalhar, estudar e até para atividades de lazer. Por isso, o cuidado com a higiene deve ser redobrado, para que a variante não chegue e entre em circulação entre o ABC também”, diz.

Segundo o médico, apesar de, a princípio, os hospitais de campanha estarem sendo desativados na região, é preciso cautela, caso haja uma terceira onda da doença. “Não podemos esquecer das variáveis do vírus e lembrar que elas podem voltar a ser uma ameaça”, salienta.

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